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Bayer começa a sentir o peso da Monsanto

Mischa Ehrhardt av
14 de agosto de 2018

Condenada a indenização por pesticida potencialmente cancerígeno, companhia americana está exposta a milhares de ações similares. Para a empresa alemã há perigo iminente de danos para seus cofres, cotações e reputação.

Nome do conglomerado alemão poderá ficar permanentemente associado a escândalos da firma americana
Nome do conglomerado alemão poderá ficar permanentemente associado a escândalos da firma americanaFoto: picture-alliance/Geisler/C. Hardt

Há pelo menos duas narrativas conflitantes sobre o casamento da Bayer com a Monsanto. Uma promete grandes chances, boas perspectivas e balancetes fantásticos graças à megafusão.

"A aquisição da Monsanto é um passo muito importante na evolução da Bayer", declarou o presidente da empresa alemã, Werner Baumann, aos acionistas na assembleia geral de maio, logo após a conclusão da transação. Diante de uma população mundial crescente e cada vez mais idosa, este seria um passo consequente e correto: "Muitos dos desafios mais urgentes de nosso tempo se apresentam nos campos da saúde e alimentação", afirmou.

A outra narrativa trata dos riscos de incorporar a Monsanto. Esta é mais longa, incluindo, por exemplo, a questão de se o atual curso da agricultura industrial é sustentável, e se continuará sendo trilhado no futuro. Atualmente, porém, a questão é sobretudo um controverso pesticida chamado Roundup, que contém glifosato, substância sob suspeita de ser cancerígena.

Ninguém menos do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que o glifosato "provavelmente" causa câncer. Juízes americanos estão se orientando por esse ponto de vista: um tribunal de San Francisco acaba de condenar a Monsanto a pagar ao ex-jardineiro Dewayne Johnson uma indenização de 289 milhões de dólares, por não ter advertido devidamente sobre os ricos do emprego do Roundup.

A multinacional americana já recorreu da sentença. Ainda assim, na bolsa de valores os investidores estão fugindo em massa da Bayer, livrando-se o mais rápido possível de suas ações. Nesta segunda-feira (13/08), a cotação dos títulos dela caiu 11,2% em Frankfurt – uma perda fora do comum num só dia para uma empresa do índice DAX.

Presidente da Bayer Werner Baumann: poucos motivos para sorrir?Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg

"É um crash, porque não se esperava uma pena dessa ordem de grandeza", comenta o corretor Oliver Roth, do grupo financeiro Oddo Seydler. "Agora estamos vendo que os riscos são maiores do que se escutava antes, pelo menos da parte da diretoria da Bayer."

Do ponto de vista econômico, é possível também estimar o risco de outra maneira: no último ano fiscal, a Monsanto teve um quarto de seu faturamento no setor de Agricultural Productivity: 3,7 bilhões de dólares basicamente graças às vendas de pesticidas contendo glifosato.

Esse é o primeiro processo nos Estados Unidos sobre o potencial cancerígeno do glifosato. Mas não será, nem de longe, o último: a Monsanto se encontra diante de mais de 5 mil ações semelhantes. "A coisa tem sempre um certo 'efeito arrastão'. Possivelmente muitos ainda vão se associar a eventuais queixas coletivas", prevê Uwe Treckmann, analista de setores do Commerzbank.

Do ponto de vista da Bayer e Monsanto, ainda é cedo demais para pessimismo. Pois a Monsanto partirá para a próxima instância. Nos EUA não é inusual quantias punitivas serem significativamente reduzidas em processos subsequentes. Por vezes os juízes da instância superior até anulam as sentenças.

Pesticida Roundup é apenas um dos produtos controversos da MonsantoFoto: Getty Images/AFP/P. Huguen

Segundo analistas da Barclays consultados pela agência de notícias Reuters, uma "dor de cabeça litigiosa" aguarda a Bayer. "Embora o recurso seja certo e possa até mesmo provavelmente resultar em a pena ser reduzida a um mínimo – se não anulada totalmente –, é bem provável que um grande número de casos pendentes agora vá se multiplicar."

O analista Michael Leacock, da investidora Mainfirst, acredita que o veredicto ainda deverá pesar um bom tempo sobre as ações, devido à insegurança. O fato não é de espantar, pois, caso Monsanto e Bayer realmente recebam penas nessas dimensões, logo se chegará à casa das centenas de bilhões de dólares, coisa que nenhuma empresa é capaz de sobreviver por meios próprios.

No entanto, a maioria dos observadores não acredita que a situação chegue a tal extremo, já que são muitos os postos de trabalho em jogo, também do lado americano. Só a Monsanto emprega mais de 23 mil funcionários.

Supostamente, a fusão entre as duas multinacionais deveria unir os pontos fortes de ambas, e naturalmente também criar sinergias. A Bayer calcula em quase 1,4 bilhão de dólares por ano os cortes de gastos decorrentes.

Fato é que, com a aquisição, a firma de Leverkusen se transformou na líder agroquímica mundial, sobretudo no setor de sementes. A transação já tem lugar assegurado nos livros de história: com um volume de 63 bilhões de dólares, ela é a maior incorporação de uma firma estrangeira por uma alemã já ocorrida.

Dewayne Johnson atribui seu câncer a anos trabalhando com pesticida da Monsanto. Juiz concordouFoto: picture-alliance/dpa/J. Edelson

Por outro lado, a compra poderá acarretar profundos arranhões na reputação da Bayer. Embora no decorrer da fusão o nome Monsanto vá desaparecer, permanece aquilo que ele significa para muitos na Alemanha. Além do glifosato possivelmente cancerígeno, a multinacional também fatura alto com plantas transgênicas, veementemente rejeitadas por boa parte dos consumidores alemães.

Assim o risco para a reputação cresceu fortemente em seguida à incorporação, como se pode ver pela repercussão da sentença de São Francisco. "O nome que agora está associado a tudo isso é o da Bayer" diz Treckmann, do Commerzbank. "É o 'show de horror da Monsanto' que desaba como uma onda sobre o pessoal de Leverkusen. Eles agora vão ter que lidar com isso."

O ministro francês do Meio Ambiente, Nicolas Hulot, encontrou palavras bem mais drásticas. "É o começo do fim da arrogância dessa maldita dupla Monsanto-Bayer", disse em entrevista ao jornal Libération. A decisão jurídica, afirma, tornou visível o objetivo dissimulado do conglomerado americano: "Sangrar os recursos alimentares do planeta".

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