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EsporteAlemanha

Bayer "Vice-Kusen" e o dia da marmota

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
19 de outubro de 2021

Ano após ano a história se repete: o Bayer Leverkusen perde na reta final títulos que pareciam certos e "amarela" frente ao Bayern de Munique. Tantos vice-campeonatos renderam o apelido "Vice-Kusen", escreve Gerd Wenzel.

O jogador Florian Wirtz, do Bayer Leverkusen, durante partida contra o Borussia Dortmund em setembroFoto: Thilo Schmuelgen/Reuters

No filme O Feitiço do Tempo, de 1993, o ator Bill Murray faz o papel de um jornalista enviado por seu canal de TV para uma pequena cidade do interior dos EUA. Lá tem a missão de cobrir uma tradicional festa local chamada "Dia da Marmota".

Durante seu trabalho, de um dia para o outro, fica preso num loop temporal, onde o mesmo dia se repete inúmeras vezes sempre da mesma forma.

Coincidência ou não, a última vez que o Bayer Leverkusen conquistou um título foi em 1993 quando venceu o DFB Pokal (Copa da Alemanha) ao derrotar o Hertha Berlin II por 1x0.

Desde então, o time, além de perder títulos, cuja obtenção parecia certa, para seus adversários, vira e mexe costuma amarelar frente ao seu principal concorrente – o Bayern de Munique. Ano após ano, a história se repete.

Entre 1997 e 2011, o Leverkusen foi vice-campeão da Bundesliga em cinco oportunidades. Nesta mesma época foi vice da Liga dos Campeões (2002) e no DFB Pokal chegou à final duas vezes (2002 e 2009) sem vencer uma única vez. Foram ao todo oito "vice-títulos".

O "Vice-Kusen"

A data de nascimento do pejorativo apelido "Vice-Kusen" teria surgido logo após completada a última rodada da temporada 1999/2000 da Bundesliga. Na tabela, o Leverkusen ostentava três pontos de vantagem sobre o Bayern. 

Os bávaros comandados por Ottmar Hitzfeld entraram em campo para enfrentar o Werder Bremen enquanto que o time da "Aspirina" (apelido dado por torcedores brasileiros em referência à empresa Bayer) foi jogar com o despretensioso Unterhaching na periferia de Munique.

O time da "Aspirina" só precisava de um empate para levantar o troféu – a salva de prata – e vencer o seu primeiro título de campeão alemão. Dependia apenas do seu próprio esforço e tinha um timão com jogadores do calibre de Michael Ballack, Ulf Kirsten, Bernd Schneider, Emerson e Zé Roberto.

O Leverkusen começou mal a partida e Ballack, visivelmente nervoso e errando muitos passes, tentou interceptar um cruzamento sobre sua grande área. Errou feio mandando a bola para o fundo de suas próprias redes. Era apenas o começo da catástrofe porque no segundo tempo o Unterhaching ainda teve tempo de marcar mais um, decretando um final amargo para Ballack e cia.

O pior ainda estaria por vir na temporada 2001/2002. O Leverkusen conseguiu a proeza de jogar pelo título em três competições (Bundesliga, DFB-Pokal e Champions League), podendo levantar, portanto, a almejada tríplice coroa. Na Bundesliga, a Werkself (os onze da fábrica em alusão à empresa Bayer) liderava na 32ª rodada mas, mais uma vez, na hora "H" entregou a paçoca. 

Na penúltima rodada perdeu para o Nuremberg, e não apenas isso, perdeu a liderança para o Dortmund que, ao apagar das luzes do campeonato, venceu de virada o Werder Bremen e botou a Salva de Prata debaixo do braço.

"Amareladas"

Não bastasse isso, uma semana depois, na final do DFB-Pokal, com três gols em 17 minutos no segundo tempo, o Schalke 04 desmantelou o Leverkusen que saiu de mãos vazias do Estádio Olímpico de Berlim.

Apenas quatro dias mais tarde, o time viajou para Glasgow onde enfrentou o Real Madrid que com um gol antológico de Zinedine Zidane sacramentou o terceiro título perdido do Leverkusen em apenas 11 dias.

Desde então, não apenas o mito do "Bayer Vice-Kusen" ficou estabelecido de vez, mas também a pecha de que em jogos decisivos o time vacila e não é pouco. A demonstração mais recente destas "amareladas" pôde ser vista domingo último (17/10) quando o Bayern de Munique, em plena BayArena, passou como um trator por cima do Vice-Kusen.

Na tabela, os dois estavam na vice-liderança com o mesmo número de pontos e com a mesma campanha neste início de campeonato. O vencedor do jogo assumiria a liderança isolada, ultrapassando o então líder Borussia Dortmund. Não eram nem decorridos três minutos da partida e Lewandowski já tinha deixado a sua marca: 1x0.

A partir dos 30 minutos de jogo o que se viu foram alucinantes momentos de futebol eficiente bem jogado que lembravam um cruel rolo compressor a todo vapor. Foram quatro gols em sete minutos. Nos telões da arena, o placar implacável do primeiro tempo: 5x0. O jogo terminou 5x1 só porque o Bayern tirou o pé do acelerador na segunda etapa.

"Vice-kusen" acabou se tornando uma marca decorrente de derrotas e fracassos por anos seguidos e tem até uma menção detalhada na Wikipedia. A própria empresa Bayer, proprietária do clube, numa jogada bem-humorada de marketing, registrou "Vice-Kusen" no Departamento Governamental de Marcas e Patentes.

Fica, porém, a dúvida se a institucionalização de um apelido pejorativo como esse vai agregar algum valor futuro para o clube e para o torcedor, ou se ao contrário, vai apenas contribuir para perpetuar o mesmo estigma de sempre, a do Bayer Leverkusen ser o eterno "Vice-Kusen".

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.