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Bayern – muita areia para pouco caminhão

22 de outubro de 2019

Com baixo aproveitamento, o maior campeão da Bundesliga vive seu pior início de temporada desde 2010. A pergunta que se faz em Munique diz respeito à competência de seu treinador: seria o Bayern grande demais para Kovac?

Niklas Süle se machuca em partida do Bayern contra o Augsburg pela Bundesliga
Em meio à tradicional crise de outuno do Bayern, a recente contusão de Niklas Süle não poderia vir em pior momentoFoto: Getty Images/Bongarts/A. Hassenstein

Não é a primeira vez que, com a chegada do outono, notícias ruins perturbam a atmosfera do maior campeão da Bundesliga. Foi assim em fins de setembro de 2017 quando, depois de dois empates consecutivos no campeonato e uma derrota humilhante na Champions League diante do PSG, o badalado Carlo Ancelotti foi demitido sumariamente da direção técnica do clube.

Na temporada seguinte, há exatamente um ano, o treinador Niko Kovac por pouco não viu seu mundo desabar por conta dos maus resultados no início da temporada. Não fosse o apoio incondicional do presidente Uli Hoeness, dificilmente o então recém-empossado técnico teria sobrevivido às intempéries daquele outono.

Duas derrotas consecutivas na Bundesliga e um empate em casa contra o Ajax balançaram o coreto de Kovac. E tudo isso durante a Oktoberfest em Munique, a festa sagrada dos bávaros na qual o Bayern costuma marcar presença com toda equipe vestida a caráter.

Agora o drama se repete, e os números não costumam mentir. Com apenas 15 pontos de 24 possíveis, o Bayern tem um aproveitamento de apenas 62,5%, muito baixo para as sempre altas pretensões bávaras. Desse ponto de vista, é o pior início de temporada desde 2010.

Há três semanas, todo mundo elogiava a equipe depois da estonteante vitória sobre o Tottenham, mas depois da derrota em casa para o Hoffenheim e o empate com o Augsburg, a já tradicional crise de outono dá as caras novamente.

Nos últimos quatro jogos oficiais, a defesa montada por Kovac sofreu oito gols, exatamente dois por partida. É muito, especialmente para um time que, há pouco tempo, se orgulhava de ostentar o melhor setor defensivo do país quando amargava apenas um gol adversário a cada dois jogos.  

Inevitavelmente cabe perguntar por que a defesa se mostra tão vulnerável, setor no qual o Bayern investiu 115 milhões de euros com as contratações de Hernandez e Pavard.

A recente contusão do zagueiro Niklas Süle não poderia vir em pior momento. Logo no comecinho da partida contra o Augsburg, sem ter sido atingido pelo adversário, Süle rompeu os ligamentos cruzados do joelho esquerdo. É considerada a contusão mais grave que um jogador de futebol pode sofrer. Ficará seis meses fora de ação e corre o risco inclusive de não poder participar da Eurocopa com a seleção alemã.

A atual temporada já está na metade do primeiro turno, e não se nota um desenvolvimento tático da equipe em nenhum setor. A defesa carece de estabilidade. A função de volante protetor está órfã, Coutinho até agora não desencantou, e o ataque vive do talento individual de Lewandowski e Gnabry. Não estivessem os dois em grande forma, os problemas do Bayern provavelmente seriam muito piores do que já são.

A criatividade ofensiva e a variação de jogadas no ataque atualmente dependem apenas de lances individuais. Falta claramente um conceito tático para jogadas ofensivas de acordo com o momento da partida. Triangulações, variações coletivas e automatismos raramente são vistos. São diretrizes que, durante o jogo, normalmente deveriam vir do técnico à beira do campo.

A pergunta que se faz hoje em Munique diz respeito, mais uma vez, à competência de Niko Kovac. Terá ele a capacidade de formar, com os extraordinários talentos individuais à sua disposição, um conjunto sintonizado que corresponda à ideia de um futebol coletivo? 

Em sua época como treinador do Eintracht Frankfurt, a tarefa de Kovac era mais fácil. Havia um grupo de jogadores medianos à sua disposição com um ou outro destaque. A proposta se restringia a um futebol robusto com ênfase na presença física. Filigranas táticas não faziam parte do repertório do Frankfurt, mesmo porque os recursos humanos eram limitados.

Já no Bayern há um elenco multiestelar composto por várias estrelas com luz própria que, para funcionar bem, precisam ser integradas num grande sistema que potencialize seu brilho em prol do conjunto.   

O portal Focus Online põe os pontos nos is com sua chamada a respeito do assunto: o Bayern parece ser grande demais para o Kovac. Sou tentado a concordar e me lembro do ditado popular brasileiro que diz: "É muita areia para pouco caminhão."

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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