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Feio e antissocial: quem era mesmo Beethoven?

11 de setembro de 2011

Há muito ele ocupa o mais alto pedestal da arte: idealizado, dramatizado, deificado. Mas o grande artista era um homem feio, baixinho, de caráter difícil e hábitos antissociais. Qual é face real de Ludwig van Beethoven?

Ludwig Van Beethoven en 1823. peinture de Ferdinand Georg Waldmueller (1793-1869). Breitkopf und Haertel. Francfort. Allemagne
Beethoven em 1823, em retrato de Ferdinand Georg WaldmüllerFoto: picture-alliance / maxppp

O aristocrata britânico John Russell descreveu como "selvagem e desleixada" a aparência de seu contemporâneo Beethoven, os olhos "cheios de energia impetuosa; seus cabelos, que aparentemente nem pente nem tesoura visitam, há anos". Para Russell, o músico alemão gravemente doente estava "perdido para a sociedade".

Que tipo de homem era Ludwig van Beethoven? Uma viagem por sua infância leva à casa onde nasceu, em Bonn. Numa minúscula câmara de mansarda – o lugar onde presumivelmente se encontrava seu berço – vê-se um busto do artista em seus últimos anos de vida, em Viena.



Um dândi em Viena

Contudo, a real aparência do compositor devia ser bem diferente desse retrato idealizado, na opinião de Michael Ladenburger, curador da Casa Beethoven, em entrevista à Deutsche Welle. "Beethoven era um homem de apenas 1,60 metro de altura, feio e muitas vezes descuidado, com o rosto coberto de marcas de varíola – mas dotado de grande carisma. E isso o tornava muito atraente, também para o sexo feminino."

A posteridade idealizou Beethoven como titã da arte musical, torturado pelo destino. Contudo, testemunhos da época, suas cartas e cadernos de conversação o mostram como um amante da comida e da bebida, inquilino bagunceiro e truculento, artista sutil e apaixonado, amigo ríspido, mas também afetuoso.

Rabugento e irascível, muitas vezes ele ofendia seus interlocutores. No entanto, mal chegado a Viena, encontrou rapidamente mecenas e acesso aos meios nobres influentes. Para encenar com maior efeito suas aparições, adquiriu roupa elegante da moda e até mesmo um cavalo.

A Amada Imortal

Seu relacionamento com as mulheres permanece um mistério. Beethoven jamais se casou. É certo que se apaixonou intensamente por várias de suas alunas de piano nobres. Segundo a biografia de seu criado Anton Schindler, houve também uma série de "casos românticos". No entanto, era impensável para uma jovem dama da nobreza ligar-se a um membro da burguesia, como ele.

Até hoje não se sabe a quem nem quando o músico dedicou as seguintes linhas, encontradas em seu espólio:

"Já na cama, as ideias se dirigem a ti, minha Amada Imortal, aqui e ali alegres, e então tristes. Viver, só posso ou inteiramente contigo ou de jeito nenhum; sim, decidi errar por terras longínquas, até que possa voar para teus braços..."

Caráter irascível

As frequentes trocas de endereço sugerem que o compositor fosse um inquilino nômade. Beate Angelika Kraus, estudiosa de Beethoven, tem outra explicação para este fato. "As mudanças se devem ao fato de ele geralmente sair da cidade no verão e, ao retornar a Viena no outono, escolher uma nova casa. Afinal de contas, não era tão abastado assim que pudesse manter paralelamente uma moradia na cidade e outra no campo."

Objetos pessoais, como a escrivaninha de viagem, à qual o compositor trabalhava – comparável ao atual laptop –, ou seu elegante relógio de mesa, demonstram que ele tinha um senso apurado para o design de bom gosto.

Ao julgar os demais, Beethoven não tinha papas na língua. Com rudeza característica, chegou a se indispor com seu amigo, o renomado violinista Ignaz Schuppanzigh: "Tu que não venhas mais aqui em casa! És um cachorro falso, e o carrasco que leve os cachorros falsos!". Numa carta de 19 de agosto de 1823, Beethoven expõe um rico repertório de insultos, que vão desde "esta porca de empregada" até "vilão desgraçado".

John Russell descreve as visitas regulares de Beethoven a uma hospedaria, "onde à noite bebia vinho e cerveja num canto, comia queijo e peixe defumado e lia o jornal. Ao adentrar a hospedaria um homem cuja cara desagradou a Beethoven, este cuspiu diversas vezes e deixou o local bradando: 'Que cara de mau caráter".

Fazer da fraqueza uma virtude

Já em 1796, fizeram-se notar os primeiros sinais de uma afecção auditiva. Beethoven sentiu-se cada vez mais isolado, evitando progressivamente o contato com as pessoas e o mundo externo.

Em seu Testamento de Heiligenstadt, de 1802, o artista, de 31 anos, expõe aos irmãos o terrível dilema que o fazia sofrer e pensar em suicídio. Ele, que nascera com um temperamento fogoso e vivaz, era forçado agora a passar a vida na solidão. Afinal, não podia dizer às pessoas: "Falem mais alto, sou surdo!". Pois como compreenderiam que um músico privado da audição pudesse compor?

Os anos de moléstia e surdez progressiva fizeram que os traços de caráter de Beethoven se acentuassem e fossem ficando mais negativos em relação ao contato externo. No estágio final da surdez, ele era forçado a levar consigo um caderninho de conversação, para poder se comunicar com as outras pessoas.

Michael Ladenburger resume: "Está claro que Beethoven extraiu grande força das rupturas em sua biografia e em sua personalidade, ao se revoltar contra elas, ao impor a si mesmo parâmetros muito altos. Assim, essas fraquezas não são apenas negativas, mas formavam uma superfície áspera contra a qual ele se atritava, e onde se burilava com resultados prodigiosos, no que concerne sua obra".

Autoria: Hildburg Heider / Augusto Valente
 

Aparelho de audição e manuscrito de BeethovenFoto: picture-alliance/akg-images
Bettina von Arnim: candidata a 'Amada Imortal'Foto: picture-alliance / akg-images
Quarto onde nasceu Beethoven, em BonnFoto: Juergen Gregori, Rheinisches Amt fuer Denkmalpflege

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