Belarus também estaria sequestrando crianças da Ucrânia
Tatsiana Harhalyk
28 de abril de 2023
Não só para a Rússia são deportados menores das áreas ucranianas ocupadas por Moscou. Minsk estaria igualmente os transportando para suposto "descanso" em seu território, denuncia oposicionista belarusso.
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"Vemos como, com o apoio de Lukashenko, as crianças são levadas da Ucrânia para Belarus e Rússia", diz à DW o político oposicionista belarusso Pavel Latushko, que vive na Polônia devido às ameaças do regime de Alexander Lukashenko. Em março de 2023, ele foi condenado à revelia a 18 anos de prisão por um tribunal belarusso.
De acordo com a União Europeia e o comissário presidencial ucraniano para os direitos infantis, até agora mais de 16 mil crianças teriam sido deportadas de áreas da Ucrânia ocupadas pela Rússia, sob várias circunstâncias, inclusive de orfanatos. Em março, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, e sua comissária para os direitos infantis, Maria Lwova-Belowa, pelo suposto sequestro de crianças ucranianas.
Segundo Latushko, o transporte de menores para Belarus também viola a Convenção de Genebra de 1949. O oposicionista enfatiza que Belarus está disponibilizando seu território para a agressão russa contra a Ucrânia e, portanto, não pode ser considerada um "Estado neutro". Esses fatos levaram Latushko a coletar material que pretende apresentar não só ao Ministério Público da Ucrânia, como também ao procurador do TPI em Haia.
A estadia dos menores ucranianos em Belarus é amplamente noticiada na mídia estatal daquele país. "Os propagandistas dizem que as crianças estão sendo levadas para Belarus para descansarem. Mas uma criança de seis anos pode decidir deixar um país por conta própria, neste caso a Ucrânia? Não. Isso é impossível", argumenta o oposicionista belarusso, enfatizando que nem as famílias deixaram o país voluntariamente, nem as autoridades ucranianas deram permissão para que as crianças fossem levadas.
"Ajuda para as crianças do Donbass"
Segundo Latushko, Belarus e Rússia têm projetos especiais visando levar a Belarus menores ucranianos entre seis e 15 anos de idade, e "essas decisões foram tomadas por ordem de Vladimir Putin e Alexander Lukashenko". Uma resolução sobre "ajuda para as crianças do Donbass", datada de 16 de setembro de 2022, previa o transporte de 1.050 menores ucranianos para Belarus.
Esses projetos são apoiados financeiramente pela estatal Belaruskali, uma das maiores produtoras de fertilizantes potássicos do mundo. "O dinheiro vai para a Fundação Alexei Talai, que organiza a saída das crianças no território ucraniano", diz Latushko. Elas também teria sido levadas para Belarus por padres da Igreja Ortodoxa Belarussa, que faz parte do Patriarcado de Moscou.
No fim de outubro, o secretário da entidade supranacional União da Rússia e Belarus, Dmitry Mesentsev, visitou o campo infantil "Dubrava" perto de Minsk, propriedade da Belaruskali. Lá ele afirmou que "várias dezenas de milhões de rublos foram alocados para o projeto" e que o trabalho continuará. "Apoiamos com satisfação a viagem das crianças para Belarus via Rostov", disse Mesentsev. Ele acrescentou que o objetivo é ajudá-las a "esquecer experiências difíceis e realizar sonhos" para que se tornem "cidadãos confiáveis do seu país".
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"Nem Haia impedirá nossas obras de caridade"
Em abril e maio, a Fundação Talai planeja levar mais de mil crianças ucranianas para Belarus. A DW pediu a Alexei Talai que explicasse o papel de sua organização, mas não houve resposta. Ele é integrante da equipe paralímpica de natação, empresário e participante assíduo de ações de apoio a Lukashenko. Em resposta às alegações de Latushko, escreveu em seu canal no Telegram que "nem mesmo Haia nos impedirá de fazer obras de caridade e ajudar ainda mais as crianças do Donbass".
Talai também visitou em abril os mais de 300 menores da Ucrânia no campo de Dubrava. Lá, distribuiu, entre outras coisas, fitas nas cores das bandeiras russa e belarussa. O lugar também foi visitado pelo cientista político pró-governo Alexander Shpakovsky, o primeiro secretário da União da Juventude Republicana de Belarus, Alexander Lukyanov, e por membros do clube militarista Rodnik.
Segundo Latushko, sob as disposições do direito internacional, tudo isso pode ser inequivocamente classificado como crime de guerra destinado a educar crianças com sentimentos antiucranianos. O chefe da federação dos sindicatos de mineiros e químicos da cidade de Minsk, Dmitry Shvaiba, também admitiu que Belarus quer oferecer às crianças da Ucrânia uma educação em escolas profissionalizantes e depois um emprego. "Eles estão, então, buscando potencial mão de obra para Belarus", alerta Latushko.
O que dizem Kiev e Unicef
O ex-comissário do presidente ucraniano para os direitos da criança e chefe da Fundação Salve a Ucrânia, Mykola Kuleba, disse ao canal de TV polonês Belsat que o lado ucraniano ainda não tem fatos documentados sobre o transporte de suas crianças para Belarus, e que são necessárias investigações.
Se houver provas suficientes, não se descarta um mandado de prisão para Alexander Lukashenko e outros envolvidos, acrescentou Kuleba, segundo quem o caso pode também ser classificado como crime de guerra.
De acordo com Aaron Greenberg, conselheiro-chefe regional do Unicef para proteção infantil na Europa e Ásia Central, sua organização está ciente de relatos de que "algumas crianças ucranianas foram levadas por período curto da Federação Russa para Belarus".
"Continuamos profundamente preocupados com relatos de transportes de crianças sem as devidas salvaguardas e retornos acelerados de crianças de locais de reassentamento que não levam em consideração o melhor interesse delas", informou o Unicef à DW. A entidade também se disse preocupada com os procedimentos acelerados para mudar a cidadania das crianças.
Bakhmut: a "fortaleza do Donbass" na linha de frente da guerra
Antes da invasão russa, Bakhmut tinha 70 mil moradores. Intensos combates entre tropas russas e ucranianas causaram mortes e destruição na estratégica cidade do Donbass, mas nem todos os civis a abandonaram.
Foto: LIBKOS/AP Photo/picture alliance
A cidade antes da destruição
Esta foto, tirada na primavera europeia de 2022, mostra murais com o tema "Família e Crianças" em Bakhmut. Em maio, a linha de frente da guerra chegou à cidade, e os tiros e bombardeios aéreos começaram. Muitas casas foram seriamente danificadas.
Foto: JORGE SILVA/REUTERS
"Você se sente um sem-teto"
Blocos de apartamentos no leste de Bakhmut foram os primeiros a serem atingidos por ataques russos. Hoje, os bairros se assemelham aos da cidade portuária destruída de Mariupol. "Você se sente um sem-teto, perdemos tudo. Não há para onde voltar", disse uma moradora chamada, Halyna, retirada de Bakhmut e cuja casa foi totalmente destruída.
Foto: Aris Messinis/AFP/Getty Images
Escola em ruínas
Dois professores de Bakhmut se abraçam em frente às ruínas de sua escola. Ela foi bombardeada pelo exército russo em 24 de julho de 2022. O prédio ficou bastante danificado. Não houve mortos ou feridos no ataque.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Patrimônio cultural em pedaços
O bombardeio russo causou a destruição de muitos prédios históricos importantes em Bakhmut, incluindo o Palácio da Cultura, a antiga casa particular do comerciante Polyakov da década de 1880 e o antigo ginásio para meninas. Edifícios mais modernos, que já foram o "cartão de visitas" de Bakhmut, também foram destruídos.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Preparativos para a retirada
Oleksandr Hawrys faz os preparativos finais para transferir a esposa e dois filhos de Bakhmut para Kiev. Em 7 de março de 2023, menos de 4 mil pessoas ainda estavam na cidade, que antes da guerra tinha 73 mil habitantes.
Foto: Metin Aktas/AA/picture alliance
Só ficaram os solteiros e os mais fracos
Mais de 90% dos residentes deixaram Bachmut e arredores. Por meses, algumas lojas e uma farmácia ainda funcionaram durante momentos de trégua. Instituições de caridade e voluntários levaram ajuda humanitária aos moradores da cidade.
Foto: ANATOLII STEPANOV/AFP/Getty Images
Eles resistem, apesar de tudo
A grávida Olha e seu marido, Wlad, em 28 de janeiro de 2023 em frente a um abrigo antiaéreo em Bakhmut. O casal está entre os poucos civis que permaneceram na cidade, apesar dos violentos combates. Atualmente, para entrar em Backmut é preciso um passe especial.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Viver sob medo constante
A aposentada Valentyna Bondarenko, de 79 anos, olha pela janela de seu apartamento em Bakhmut, em agosto de 2022. Por causa dos bombardeios sem fim e do perigo constante, muitos moradores de Bakhmut permanecem em porões e abrigos de emergência por meses.
Foto: Daniel Carde/Zumapress/picture alliance
O dia a dia num porão
"Estamos acostumados aos zumbidos e explosões", disse Nina, de Bakhmut, à DW. Suas filhas foram "para a Europa", mas ela e o marido pretendem ficar enquanto o exército ucraniano estiver na cidade. Se a situação piorar, eles querem deixar a cidade "para não perturbar os militares quando o inimigo se esconder atrás das casas".
Foto: Oleksandra Indukhova/DW
Na fila pela ajuda humanitária
A situação humanitária na cidade piorou, principalmente nos últimos meses de 2022, depois da ofensiva das tropas russas de 1º de agosto. A rede elétrica foi danificada pelos ataques e bombardeios. O abastecimento de alimentos se tornou difícil, e a telefonia móvel entrou em colapso. Até voluntários foram atacados.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Batalhas de artilharia pesada
As principais batalhas por Bakhmut são travadas entre unidades de artilharia. Segundo estimativas militares, quase toda a gama de artilharia e morteiros fica nesta área. Bakhmut é fortemente atacada por unidades do exército privado russo Grupo Wagner. Os militares ucranianos continuam resistindo aos ataques.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Bandeira ucraniana de Bakhmut no Congresso dos EUA
Em 20 de dezembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou soldados ucranianos perto de Bakhmut. De lá, ele levou uma bandeira ucraniana, que deu à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, dois dias depois, durante sua visita ao Congresso dos Estados Unidos. A bandeira traz as assinaturas de soldados que defendem a soberania da Ucrânia nas linhas de frente.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Tratamento dos feridos em Bakhmut
As principais tarefas dos médicos militares no front são estabilizar os feridos, prevenir mortes por perda de sangue e choque e, em casos graves, garantir o transporte para hospitais de áreas mais seguras no interior do país.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance
Cidade está 80% em ruínas
A foto é dos últimos dias de dezembro de 2022. A fumaça sobe sobre as ruínas de casas nos arredores de Bakhmut. De acordo com as autoridades locais, em março de 2023 os violentos combates já haviam destruído mais de 80% da área habitacional da cidade.
Foto: Libkos/AP/picture alliance
Destruição registrada por satélite
Uma imagem de satélite divulgada pela Maxar em 4 de janeiro de 2023 mostra a extensão da destruição em Bakhmut. "A cidade tem sido o centro de intensos combates entre as forças russas e ucranianas nos últimos meses, e as imagens mostram danos significativos em prédios e infraestrutura", informou a empresa aeroespacial.
Foto: Maxar Technologies/picture alliance/AP
Cidade-fantasma
Esta foto de 13 de fevereiro de 2023, tirada por um drone da agência de notícias AP, mostra a extensão da destruição causada pelos combates. Fileiras inteiras de casas foram destruídas, apenas as paredes externas e as fachadas danificadas ainda estão de pé. Telhados, tetos e pisos desmoronaram, e a neve se acumula dentro das ruínas.
Foto: AP Photo/picture alliance
"Fortaleza Bakhmut"
Um soldado ucraniano diante de uma pichação no centro da cidade que diz "Bakhmut ama a Ucrânia". Embora a liderança política e militar da Ucrânia tenha decidido continuar defendendo o lugar, a Otan não descarta que Bakhmut possa cair, embora isso não signifique necessariamente uma virada na guerra.