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Bento 16 condena nazismo e anti-semitismo

(gh)19 de agosto de 2005

Em visita histórica à sinagoga de Colônia, papa condena o nazismo e os novos sinais de anti-semitismo. Bento 16 quer melhorar relações entre Igreja Católica e judeus, presentes na Alemanha desde o ano 321.

Jovem judeu entregou presente ao papa na sinagoga de ColôniaFoto: dpa


"Precisamos nos conhecer muito mais e melhor. Por isso, encorajo expressamente um diálogo franco entre judeus e cristãos", disse Bento 16, nesta sexta-feira (19/08), ao visitar a sinagoga de Colônia, no segundo dia de sua viagem à Alemanha, onde participa da Jornada Mundial da Juventude.

Foi a segunda vez na história que um papa entrou em um templo judeu (a primeira no exterior), após a visita de João Paulo 2º à sinagoga de Roma em 1986. A visita foi considerada histórica pelo fato de Bento 16 ser o primeiro sumo pontífice alemão a pisar numa sinagoga da Alemanha, país onde o regime nazista executou milhões de judeus.

Bento 16 cumprimenta o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Paul Spiegel (e), na sinagoga de ColôniaFoto: dpa

Segundo o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Paul Spiegel, a visita foi um sinal muito esperançoso que demonstra "que estamos verdadeiramente no caminho do entendimento entre as religiões".

Depois de ser recebido por líderes judeus, acompanhados de representantes do governo, dos partidos e da Igreja Luterana, Bento 16 visitou a sala do memorial às vítimas do Holocausto. O regime nazista exterminou seis milhões de judeus – cerca de 11 mil eram cidadãos de Colônia.

Encontro de integrantes da comunidade judaica com Bento 16 na sinagoga de Colônia.Foto: dpa-Report

Em seu pronunciamento na sinagoga, Bento 16 condenou o nazismo, sem mencionar, porém, a cumplicidade de parte dos cristãos e da Igreja Católica com os crimes ocorridos na Segunda Guerra Mundial. Ele disse que, "infelizmente, estão ressurgindo novos sinais de anti-semitismo e aparecendo diversas formas de hostilidade generalizada em direção aos estrangeiros. Este é um motivo de preocupação. A Igreja se compromete com a tolerância, o respeito, a amizade e a paz entre todos os povos, culturas e religiões".

Filhos de Abraão à beira do Reno

A comunidade judaica de Colônia é a mais antiga da Alemanha e do solo europeu ao norte dos Alpes. Sua fundação remonta ao ano 321, à mesma época em que os cristãos chegaram à região, trazidos pela colonização romana.

Enquanto os cristãos construíam a imponente catedral, os judeus sofriam as primeiras perseguições durante as Cruzadas e, em 1424, foram expulsos da cidade, por ocasião de uma peste.

Sinagoga de Colônia, construída em 1899, destruída na Segunda Guerra e reconstruída em 1959Foto: dpa

Somente as tropas revolucionárias francesas permitiram seu retorno a Colônia em 1798. Em 1899, a comunidade, que então contava oito mil integrantes, construiu uma grande sinagoga neo-românica, arrasada por um incêndio na "noite dos cristais" de 9 de novembro de 1938.

Apenas uma minoria dos 20 mil judeus que viviam em Colônia no início da Segunda Guerra Mundial conseguiu sobreviver ao Holocausto. A sinagoga foi reconstruída em 1959, mas a comunidade só voltou a crescer com a imigração de judeus das ex-repúblicas soviéticas para a Alemanha, a partir de 1990, e hoje tem cerca de cinco mil integrantes.

Relação complicada

Sessenta anós após o fim da Segunda Guerra, a visita de Bento 16 teve um caráter simbólico para judeus e católicos, que, apesar de pertencerem a "religiões irmãs", têm um passado de hostilidades. Desde os primeiros séculos depois de Cristo, a Igreja Católica passou a classificar o judaísmo como "religião do passado" e até acusou os judeus de terem morto Jesus, embora este tivesse sido crucificado por romanos. Na melhor das hipóteses, eles eram tolerados por governos cristãos, quando não perseguidos ou expulsos.

Essa triste tradição, que também contribuiu para o Holocausto, só começou a ser quebrada aos poucos, depois de 1945. Em 2000, finalmente, João Paulo 2º pediu perdão "por todos aqueles que impuseram sofrimento ao judaísmo e seus filhos durante os séculos". Ele não mencionou explicitamente o envolvimento da Igreja Católica com o nazismo nem os documentos anti-semitas de seus antecessores. Em Colônia, esperou-se em vão um pronunciamento de Bento 16 sobre isso.

Da cumplicidade ao ecumenismo

Segundo o historiador Karl-Joseph Hummel, um dos primeiros pesquisadores que tiveram acesso aos arquivos diplomáticos do Vaticano até 1939, recentemente abertos, "no final de 1938, o Vaticano havia preparado um plano para atacar mundialmente o nazismo. Mas a pedido de bispos alemães, que temiam retaliações incalculáveis, o plano não saiu do papel".

Hummel ressaltou, porém, que não encontrou prova da suposta conivência dos papas Pio 11 e Pio 12 com o nazismo. "A intervenção de Pio 12 foi decisiva para salvar três quartos dos cerca de oito mil judeus romanos do Holocausto", disse.

O líder da comunidade judaica de Colônia, Abraham Lehrer, pediu a Bento 16 a abertura dos arquivos do Vaticano sobre o Holocausto. "Para nós, a completa abertura dos arquivos do Vaticano que cobrem o período da Segunda Guerra, sessenta anos após o fim do Holocausto, seria uma mostra de consciência histórica", disse Lehrer.

Não só os judeus aguardam sinais de reconciliação do papa alemão. Durante um encontro de mais de 30 representantes das Igrejas Ortodoxa e Luterana com Bento 16, em Colônia, o presidente do Conselho das Igrejas Evangélicas Luteranas da Alemanha, bispo Wolfang Huber, lembrou que "os cristãos têm o compromisso de buscar a unidade ecumênica. É urgente encontrar e preservar posições comuns em questões éticas centrais". Bento 16 pediu "paciência e persistência" no diálogo ecumênico.

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