Dezenas de manifestantes, incluindo alemães, se reuniram no Portão de Brandemburgo para pedir o impeachment do presidente e condenar a gestão da pandemia. Violência contra indígenas, negros e LGBTQs também é pauta.
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Dezenas de manifestantes se reuniram neste sábado (24/07) em frente ao Portão de Brandemburgo, no centro de Berlim, para protestar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Com faixas e cartazes em português, inglês e alemão, os manifestantes pediram o impeachment de Bolsonaro, chamando-o de "genocida" e "fascista", e o fim da violência contra os povos indígenas.
Houve críticas também ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, acusado pelos manifestantes de fazer um "trabalho sujo" como parte da "tropa de choque" do presidente, enquanto ignora os mais de 100 pedidos de impeachment entregues à Casa. A corrupção também foi mencionada, assim como o "nepotismo dos militares".
"Estamos aqui em solidariedade aos protestos de hoje [sábado] no Brasil. É inaceitável o que está acontecendo. Talvez em três meses vá entrar uma ditadura no país", disse à DW a pernambucana Edleuza Peixoto, que organizou o ato juntamente com o Coletivo Luta contra o Fascismo no Brasil.
Berlim tem novo protesto contra Bolsonaro
02:25
Peixoto também pediu o fim da violência contra os negros e pessoas LGBTQ, lembrando que neste sábado também se celebra em Berlim o Christopher Street Day (CSD), a parada LGBTQ.
De máscaras e sob um sol de 28 graus, os manifestantes atraíram a atenção dos que passavam pelo Portão de Brandemburgo, um dos pontos mais visitados de Berlim, que voltou a receber turistas com a flexibilização das restrições contra a covid-19.
A gestora cultural Suely Torres disse estar presente por considerar muito importante que os brasileiros que estão fora do país possam representar o Brasil onde estiverem. "Não podemos, porque saímos de lá, esquecer que fazemos parte dessa sociedade", destacou.
Uma artista plástica brasileira, que está em Berlim de passagem, contou à DW que até agora não teve coragem de ir aos protestos no Brasil por medo da covid-19. Mas que se sentiu segura na Alemanha por causa do uso obrigatório de máscaras.
Filha de uma polonesa que sobreviveu ao campo de extermínio de Auschwitz, ela contou que sempre pensou na Alemanha com temor. "Hoje vivemos uma situação oposta. Sinto medo do que acontece no Brasil", disse a artista plástica, que preferiu não se identificar por temer represálias. "Vi que a história muda."
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Participação de alemães
O protesto também contou com a presença de alemães, como o geógrafo Bernd Schultze. "A Alemanha tem um relacionamento muito forte com o Brasil em termos de economia e política, por isso não se pode tolerar que um presidente antidemocrata aja contra o seu povo", justificou.
Já o estudante berlinense Orlando Scharf disse que foi protestar "contra o genocídio que Bolsonaro está cometendo no Brasil", e expressou admiração pelos brasileiros que "estão se expondo nessa situação de risco com esse fascismo perseguindo todo mundo".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi mencionado em uma das faixas. Também havia uma bandeira do movimento alemão antifascista Antifa.
Ao fim do protesto, um grupo de manifestantes se deitou sobre os cartazes, segurando cruzes alusivas aos mortos pela pandemia no Brasil.
Em paralelo ao protesto contra Jair Bolsonaro, houve também um ato do partido alemão A Esquerda no mesmo local, em meio à campanha eleitoral no país, que terá eleições gerais em dois meses.
Protestos em outras cidades alemãs
Atos pedindo o impeachment do presidente, vacinas para todos e o fim da corrupção foram convocados para este sábado em quase 500 cidades, incluindo 17 países além do Brasil, segundo os organizadores. O Coletivo Brasil-Alemanha pela Democracia contabilizou protestos em 39 cidades do exterior.
Na Alemanha, além da capital do país, manifestantes também foram às ruas em cidades como Colônia, Frankfurt, Munique e Freiburg.
"Lutamos pelo impeachment do governo Bolsonaro/Mourão, pela cassação do mandato do deputado federal Arthur Lira, contra a política de morte e pela preservação das políticas sociais e dos recursos naturais", declarou o núcleo de Freiburg do Coletivo Brasil-Alemanha pela Democracia, que organizou o ato na cidade.
Em 19 de junho e em 3 de julho, na esteira de manifestações contra Bolsonaro no Brasil, protestos já haviam sido realizados em Berlim e em outras cidades da Europa.
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.