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Berlim é redescoberta como estrela de cinema

8 de outubro de 2012

Alguns poucos filmes rodados na capital alemã tornaram-se clássicos, mas há incontáveis pérolas desconhecidas, que também mostram as mudanças pelas quais passou a cidade.

Foto: Common Film Produktion GmbH

Quando você pensa em cenários de filmes em Berlim, há grandes chances de que alguns poucos lugares venham sempre à mente: Franka Potente correndo pelas ruas de Kreuzberg em Corra, Lola, Corra, por exemplo; ou o olhar sombrio frente ao concreto cinza dos arranha-céus no drama A vida dos outros, focado na Stasi, a polícia política da ex-Alemanha Oriental.

Você poderá talvez pensar em Christian Ulmen passando seus dias a beber no mercado na comédia-drama Herr Lehmann, de Leander Haussmann. Talvez a cena da qual você melhor se lembre seja aquela em que uma estátua de Lênin é retirada de helicóptero, sem qualquer cerimônia, da Karl-Marx-Allee, em Adeus, Lênin.

Alguma outra cena? Provavelmente, não.

Foi exatamente este foco permanente nos mesmos tópicos, sempre retomados nos filmes rodados em Berlim, que inspirou o jornalista Jan Gympel a lançar na cidade o Berlin Film Katalog (Catálogo de Filmes de Berlim) na Brotfabrik, um espaço de teatro e cinema localizado no bairro Weissensee. O objetivo é mostrar uma série de filmes que ficaram esquecidos durante muito tempo – todos rodados na cidade. E criar ao mesmo tempo um arquivo deste material compilado para a posteridade.

Pérolas escondidas

"A seleção de filmes sobre Berlim exibidos na TV ou no cinema tem se tornado cada vez menor", diz Gympel em entrevista concedida à Deutsche Welle no café do espaço Brotfabrik. "Os mesmos 15 ou 20 filmes são mostrados à exaustão: Asas do Desejo, Berlim Alexanderplatz, Berlim, esquina da Schönhauser. É sempre a mesma coisa. Enquanto há incontáveis filmes sobre a cidade, muitos totalmente desconhecidos ou fadados ao esquecimento, que também merecem nosso interesse", completa Gympel.

Festival quer reunir acervo de filmes sobre a capital alemãFoto: Jan Gympel

A série começa com Endstation Liebe (Estação Final Amor), um drama de 1958 estrelado por Horst Buchholz, o James Dean alemão. O filme nunca foi lançado comercialmente e é tão raro hoje em dia que Gympel teve que usar uma cópia em VHS, de 20 anos atrás, para a projeção.

"Estação Final Amor é um bom exemplo: tem no elenco Horst Buchholz, um dos atores mais famosos do país, e foi dirigido por Georg Tressler, que não era nenhum desconhecido", comenta Gympel. "Mas hoje em dia o filme está praticamente esquecido. Como pode um longa como aquele nunca tenha sido lançado no circuito comercial? Queremos provar que esses atores e diretores fizeram filmes que talvez sejam menos conhecidos, mas são tão bons quanto seus trabalhos mais famosos", conclui.

Depois de começar com o cinema da ex-Alemanha Ocidental, a escolha óbvia para uma segunda etapa do projeto sobre o cinema berlinense foi a de cruzar a fronteira e apresentar um filme da ex-Alemanha Oriental. E o escolhido foi Hochzeitsnacht am Regen (Noite de Núpcias na Chuva), de 1967.

Depois da história do cinema com dramas tanto do Leste quanto do Oeste, segue a exibição do documentário Gedächtnis (Memória), de 1982. O filme em preto e branco celebra os atores alemães Bruno Ganz e Otto Sander na condição de entrevistadores, que passam o tempo com os iniciantes Bernhard Minetti, um notável performer de palco, e Curt Bois, que pode muito bem angariar o título de detentor da carreira mais longa do cinema e teatro alemães, com participações no palco e na tela por mais de 80 anos.

Berlim, a estrela

Embora as reminiscências dos dois protagonistas sejam suficientemente interessantes, tem-se a impressão de que a estrela real do show é Berlim, a cidade. "Me lembro de ter visitado Berlim no início dos anos 1980", declarou uma senhora ao fim da segunda exibição. "Era exatamente assim. Foi adorável ver isso de novo."

Cena de 'Estação Final Amor'Foto: picture-alliance/dpa

Ganz e Sander saíam com suas câmeras para oferecer um olhar fortuito sobre uma Berlim em ruínas da época da Guerra Fria.

O filme oferece um olhar que às vezes tortura o espectador: a Savigny Platz, no bairro Charlotenburg, por exemplo, hoje em dia chique e rica, pode ser vista a partir de um trem que passa, parecendo decadente e deprimente; ou uma tomada de câmera alta da única parte remanescente da fachada da estação Anhalter Bahnhof, atrás da qual só se vê uma vegetação rasteira e cascalho. E uma imagem da avenida Strasse des 17. Juni em toda sua extensão, fechada de um lado pelo Muro, coberto por um emaranhado de arame farpado.

Filmada no inverno, num dia de névoa densa, a respiração dos atores torna-se visível diversas vezes. Ganz e Sander permanecem agasalhados com casacos grossos de inverno, muito bem enrolados em cachecóis e afastando o frio com chapéus Fedora. Eles encarnam o exemplo perfeito do estereótipo da era da Guerra Fria, numa cidade fria, desolada e habitada por espiões astutos de capotes longos.

O primeiro e único filme da Stasi

A série continua com Septemberliebe (Amor de Setembro), um filme de propaganda da ex-Alemanha Oriental, datado de 1960. Rodado antes da construção do Muro de Berlim, acaba com a impressão de que um dos primeiros filmes sobre o trabalho da Stasi tenha sido A vida dos outros, de 2006. Amor de Setembro foi um dos primeiros, ou melhor, um dos únicos filmes produzidos no lado comunista, que procuravam justificar a existência da Stasi.

Centro Cultural BrotfabrikFoto: Glashaus e.V.

Com a continuação das exibições e a criação de um banco de dados, o público poderá sugerir outros filmes esquecidos através do site da Brotfabrik. A ideia, segundo Jan Gympel, é apresentar um panorama de filmes rodados em Berlim, a fim de completar o arquivo. "Queremos que as pessoas entendam que há muito mais para ser visto do que é normalmente exibido", diz ele.

Autor: Gavin Blackburn (sv)
Revisão: Francis França

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