Antes ridicularizada, reconstrução de relíquia arquitetônica parece ter convencido berlinenses. Cinco anos após lançamento da pedra fundamental, tudo corre dentro do cronograma para a inauguração do Palácio da Cidade.
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Wilhelm von Boddien é empresário e presidente da associação para a reconstrução do Palácio da Cidade de Berlim. Durante muito tempo, sua iniciativa foi vista com ceticismo e até ridicularizada. Mas agora ele se encontra diante do fruto de seus esforços, com as obras bem adiantadas e a inauguração prevista para setembro de 2019.
"A deusa Fortuna sempre esteve conosco", comenta, e sorri. O Palácio de Berlim está de pé, os pedreiros estão justamente retirando os andaimes do pátio que leva o nome do arquiteto Andreas Schlüter (1659-1714), liberando à vista a fachada barroca magistralmente reconstruída.
Dentro de pouco mais de um ano, a capital alemã terá finalmente uma nova marca registrada. E aí haverá espaço suficiente em frente à Ilha dos Museus para as coleções não europeias da Fundação do Patrimônio Prussiano. O quarteirão se chamará Fórum Humboldt, um local de intercâmbio internacional e encontro de culturas.
Sonho de juventude
Nascido no norte da Alemanha em 1942, de uma família nobre de Mecklemburgo, Wilhelm Dietrich Gotthard Hans Oskar von Boddien visitou, quando ainda estava no colégio, a Berlim dividida. Em seguida, começou a se ocupar intensivamente da história prussiana – e a sonhar com a reconstrução do Palácio da Cidade.
O prédio fora seriamente danificado na Segunda Guerra Mundial, e demolido em 1950 por ordens do então líder da comunista República Democrática Alemã (RDA), Walter Ulbricht. Poucos anos mais tarde, foi construído, numa parte do terreno, o legendário Palácio da República.
Após a queda do Muro, quando muitas regras passaram a não valer mais, Von Boddien, agora um próspero empresário, fez erguer, diante do palácio, cenários barrocos pintados de amarelo berrante, desencadeando um debate feroz na Alemanha recém-reunificada.
A mídia caçoava dele como "Fantasma do Castelo". Seu plano, de angariar pelo menos 85 milhões de euros em doações para o reerguimento do antigo palácio, era motivo de zombaria. Mas a Fortuna sempre esteve com Von Boddien. Até que comissões, júris e o Parlamento puseram-se de acordo: o Palácio da República, contaminado por amianto, deveria cair, e em seu lugar ser reerguido o Palácio da Cidade.
Interiores modernos e fachadas barrocas
Desde o lançamento da pedra fundamental, passaram-se cinco anos. No espírito da nova sensibilidade para com a arte confiscada pelo regime nazista e saqueada como botim na Segunda Guerra, discutiu-se muito sobre o futuro Fórum Humboldt e seus muitos artefatos da África, Ásia e América do Sul. Mas o Palácio, ninguém coloca mais em questão.
Os berlinenses, conhecidos por seu espírito crítico, adotaram a causa. Se no início as doações da capital eram esparsas, hoje elas perfazem mais de 50% da quantia total. A associação dos amigos do Palácio da Cidade já angariou os 85 milhões de euros, agora só faltam 20 milhões para a cúpula – que ainda será acrescentada –, os quais Von Boddien espera reunir até o fim de 2019.
Seguindo os passos de Alexander von Humboldt
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Para quem não pode esperar tanto até conhecer o local, as obras estarão abertas ao público neste fim de semana (25 e 26/08). A ala leste, problemática desde o projeto original, foi substituída por uma estrutura de concreto extremamente singela do arquiteto italiano Frank Stella.
As demais alas são basicamente modernas e amplas, com escadas rolantes e ar condicionado. Porém, as fachadas e, sobretudo, três dos lados do majestoso pátio interno "Schlüterhof" obedecem ao mais elaborado estilo barroco.
Primorosas arcadas e pérgulas profundas, colunas, frisos, guirlandas, cabeças de leão e águias: uma caprichosa miscelânea arquitetônica reconstituída a partir de velhas fotos e restos de pedra e tinta, e concretizada por robôs e experientes mestres-artesãos. Na tarde de sábado, a Filarmônica de Berlim dará ali um concerto – de graça, pois a bilheteria reverterá integralmente para as obras.
Ainda há muito a fazer no gigantesco canteiro de obras no centro de Berlim. Mas os trabalhos estão adiantados, dentro do cronograma e com um cálculo de custos totais de 600 milhões de euros: um pequeno milagre, sobretudo numa cidade marcada por atrasos escandalosos de obras públicas.
Von Boddien, atualmente com 76 anos de idade, faz questão de celebrar a inauguração pontualmente em 14 de setembro de 2019, o 250º aniversário de Alexander von Humboldt.
Até a queda do Muro de Berlim, em 1989, um terço da população mundial vivia em países comunistas. Após o colapso da União Soviética, teve início um processo de revisão histórica e construção de monumentos.
Foto: picture alliance/dpa/P. Zinken
República Tcheca: Monumento às Vítimas do Comunismo
Sete esculturas em bronze de pé sobre uma escadaria branca na base do Monte Petřin, em Praga. O memorial inaugurado em 2002 é do escultor e ex-preso político Olbram Zoubek. Segundo a inscrição no pedestal, o monumento não é apenas dedicado àqueles "que foram presos ou executados, mas também a todos aqueles que tiveram suas vidas destruídas pelo despotismo totalitário".
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Alemanha: Memorial de Hohenschönhausen
Entre 1951 e 1989, mais de 11 mil pessoas passaram pela antiga prisão da Stasi, polícia secreta da ex-Alemanha Oriental comunista. Antes, o terreno em Berlim foi usado pelas forças de ocupação soviéticas como entreposto para suspeitos de serem opositores do regime. De lá, entre outros destinos, os detentos eram transferidos para o campo de concentração de Sachsenhausen, construído pelos nazistas.
Foto: picture alliance/dpa/P. Zinken
Romênia: Lembrando a resistência
Em 2016, o monumento do escultor Mihai Buculei foi erigido sobre o pedestal de uma estátua derrubada de Lênin em Bucareste. A obra, que tem 20 metros de altura e é composta por três asas de aço inoxidável, foi colocada diante de um dos edifícios mais importantes da era Stalin, na atual "Praça da Imprensa Livre". A iniciativa para a instalação foi da associação de ex-presos políticos.
Foto: Florian Kindermann
Albânia: "Casa das Folhas"
Em Tirana, o primeiro memorial erigido após a deposição do regime stalinista foi inaugurado em 2017. Durante a ocupação pelos nazistas, os alemães usaram o edifício como prisão. Quando os comunistas assumiram o poder em 1945, o local era palco de torturas e assassinatos. Mais tarde, a "Casa das Folhas" – chamada assim por causa das trepadeiras na fachada – foi usado pela polícia secreta.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Geórgia: Museu da Ocupação Soviética
Em Gori, sua cidade natal, o ditador soviético Josef Stalin ainda possui uma aura heroica no museu que leva seu nome – 65 anos após sua morte e 27 depois da reconquista da independência. Porém, já há planos de rever a exposição. Os crimes cometidos sob o comando de Stalin só foram tematizados a partir de 2006 no museu nacional em Tbilisi.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Cazaquistão: vítimas da fome
Em 1932/33, um milhão e meio de cazaques foram vítimas de uma catástrofe de fome causada por má administração e pela coletivização forçada de propriedades na União Soviética. O conjunto de esculturas em Astana homenageia os mortos. A obra foi inaugurada em 31 de maio de 2012, dia nacional em memória às vítimas de repressões políticas.
Foto: Dr. Jens Schöne
Letônia: Monumento da Liberdade
A figura feminina sobre obelisco de 19 metros de altura em Riga, capital da Letônia, é popularmente conhecida como "Milda". A obra foi construída nos anos 1930, antes da ocupação soviética em 1940. Para os letões, a estátua é o símbolo fundamental do desejo por liberdade e autonomia. Ao longo do tempo, sempre voltou a ser ponto de partida de protestos e resistência.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Mongólia: perseguição política
O país situado entre Rússia e China sofreu exploração e domínio estrangeiro por quase todo o século 20. Tanto política quanto economicamente, dependeu da União Soviética pela maior parte do tempo. O Museu Memorial das Vítimas de Perseguição Política foi inaugurado em 1996 em Ulan Bator. Um ano depois, foi criado o Memorial.
Foto: Torsten Baar
Coreia do Sul: "Ponte da Liberdade"
A ponte construída sobre o rio Imjin já no início do século 20 é a única ligação entre as duas Coreias. Durante a Guerra da Coreia (1950-1953), teve grande importância militar. No lado sul, é possível chegar à barreira por um píer de madeira. Muitos visitantes deixam bandeiras e mensagens pessoais no local.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Camboja: vítimas do Khmer Vermelho
Estima-se que cerca de 2,2 milhões de cambojanos tenham morrido durante o regime sangrento do Khmer Vermelho – o equivalente a cerca de metade da população. Depois da invasão das tropas também comunistas do Vietnã, ossadas e crânios foram expostos publicamente para documentar os crimes. Muitas valas coletivas não foram encontradas até hoje.
Foto: Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur
Estados Unidos: "Deusa da Democracia"
A estátua inaugurada em 2007 em Washington é uma reprodução da "Deusa da Democracia" erigida por estudantes chineses em 1989 durante os protestos que acabaram sendo fatais na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim. Além de políticos locais, ativistas pela liberdade como Václav Havel e Lech Wałęsa também se empenharam na criação do monumento na capital americana.
Foto: Prof. Dr. Hope Harrison
Estados Unidos: as vítimas de Katyń
Numa floresta no vilarejo de Katyń, na Rússia, soviéticos executaram 4.400 presos de guerra poloneses – em sua maioria, oficiais – em 1940. Na Polônia, o massacre é sinônimo para uma série de genocídios. A iniciativa para a criação do memorial em New Jersey, dedicado a todas as vítimas do comunismo soviético, partiu de imigrantes poloneses nos EUA.