Berlim anuncia planos para tentar sediar Jogos de 2036
27 de maio de 2025
Capital alemã quer ressignificar centenário dos Jogos de 1936 da era nazista. Proposta prevê partidas de vôlei em frente ao Portão de Brandemburgo e provas de skate em antigo aeroporto. Mas há oposição.
O Olympiastadion, estádio olímpico de Berlim, principal sede dos Jogos de 1936. E talvez de 2036?Foto: Paul Zinken/picture alliance/dpa
Anúncio
As autoridades de Berlim apresentaram formalmente nesta terça-feira (27/05) a pré-candidatura da cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2036, cem anos após os Jogos de 1936, que também ocorreram na capital alemã, mas sob circunstâncias mais sinistras, quando a Alemanha era governada pelos nazistas.
A apresentação dos planos para 2036 ocorreu justamente no antigo Olympiastadion, estádio que sediou algumas das principais provas dos Jogos de 1936, incluindo os 100 e 200 metros rasos, vencidas pelo afro-americano Jesse Owens, sob o olhar do ditador Adolf Hitler.
Para 2036, Berlim está propondo uma atmosfera que não poderia ser mais diferente do aspecto militarista que marcou os jogos realizados há cem anos.
Entre as propostas estão a realização de partidas de vôlei de praia em frente ao Portão de Brandemburgo, o principal cartão-postal da capital, seguindo o modelo observado nos jogos de Paris em 2024, que sediou essas provas em frente à Torre Eiffel.
Os organizadores da pré-candidatura de Berlim também planejam provas de skate na pista do antigo aeroporto de Tempelhof, outra relíquia da era nazista que encerrou suas operações em 2008.
Outras propostas incluem usar a Ilha dos Museus como ponto de partida da maratona, e a Ponte Glienicke, entre Berlim e Potsdam, como parte do percurso para competições para ciclistas e triatletas.
As autoridades salientaram que boa parte das ideias ainda são embrionárias, mas destacaram que, dado o histórico de Berlim na realização de grandes eventos, 90% das estruturas necessárias para sediar uma nova edição dos Jogos já estariam prontas. O foco seria a renovação, e não construção de novos equipamentos. O restante poderia ser composto por estruturas temporárias.
Ao defender a pré-candidatura da capital, o prefeito de Berlim, Kai Wegner, deixou claro que a memória dos jogos de 1936 tem uma carga histórica sobre os planos.
"Independentemente de onde forem realizados, os Jogos de 2036 trarão os Jogos Olímpicos nazistas de 1936 de volta ao foco", disse Wegner. Para ele, Berlim sediar os Jogos de 2036 mostraria "uma cidade que mudou nos últimos 100 anos".
"Não defendemos mais a exclusão e o ódio. Somos uma metrópole colorida e diversificada que está aberta para o mundo", disse Wegner, destacando ainda que as autoridades da cidade não têm exclusivamente interesse em sediar os Jogos de 2036, mas que também ficaria satisfeitas com uma candidatura bem-sucedida em 2040 ou 2044.
Adolef Hitler ao lado de atletas alemãs durante os Jogos de 1936Foto: arkivi/picture alliance
Competição com outras cidades alemãs
Os planos de Berlim, que opera como uma cidade-estado, também incluem dividir várias das provas com os estados alemães de Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia e Schleswig-Holstein.
Mas Berlim e os estados aliados também enfrentam competição de outras cidades alemãs que manifestaram interesse em sediar os jogos de 2036, 2040 ou 2044.
Entre elas estão Munique, que já sediou os Jogos de 1972; Hamburgo, que já ensaiou outras pré-candidaturas no passado; e uma coligação de cidades do estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália.
Caberá à Confederação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB) decidir no ano que vem qual cidade será a candidata oficial da Alemanha diante do Comité Olímpico Internacional (COI). Quem passar na peneira da entidade alemã ainda terá que enfrentar uma competição que promete ser dura para a escolha final da sede de 2036. Cidades como Istambul (Turquia), Santiago (Chile), Doha (Catar) e Riad (Arábia Saudita) já manifestaram interesse em concorrer.
Anúncio
Oposição
Mas também é possível que Berlim e outras cidades alemãs interessadas em sediar os jogos de 2036 nem cheguem à fase final da disputa.
Todos os projetos enfrentam oposição local. Em Berlim, vários habitantes já vêm se manifestando contra a ideia de realizar os Jogos, citando preocupações com custos e impacto negativo no mercado imobiliário.
Uma iniciativa popular chamada NOlympia Berlin já anuncia planos para barrar uma candidatura, incluindo uma campanha de coleta de assinaturas para forçar um referendo sobre o tema.
Um revés por iniciativa popular não seria inédito. No passado, autoridades de cidades alemãs viram seus planos de lançar candidaturas para os Jogos frustrados após derrotas em referendos. Em 2015, a DOSB escolheu a cidade de Hamburgo como candidata para sediar os Jogos de 2024. No entanto, a iniciativa foi bloqueada pouco depois por referendo popular. O mesmo ocorreu em 2013 quando as autoridades de Munique tentaram apresentar a cidade como pré-candidata a sede dos Jogos de Inverno de 2022.
jps/ra (dpa, AFP, ots)
As mascotes dos Jogos Olímpicos
Os Jogos tiveram mascotes a partir de 1972, em Munique. Animais e figuras reais ou fantasiosas representam cada edição e motivam atletas e espectadores.
Foto: kyodo/dpa/picture alliance
Munique 1972: cão-salsicha Waldi
A primeira mascote da história dos Jogos Olímpicos foi o dachshund (cão-salsicha) Waldi. O famoso designer alemão Otl Aicher, que o concebeu para Munique 1972, escolheu esta raça canina porque ela se caracteriza pela resistência, tenacidade e agilidade, atributos importantes dos atletas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Montreal 1976: o castor Amik
O castor preto Amik representa, para os canadenses, trabalho árduo. O nome significa castor na língua algonquin, a mais difundida entre os indígenas canadenses. A escolha pelo animal, nativo do Canadá, se deveu a características importantes para um atleta: paciência e trabalho duro para construir as barragens onde vive.
Foto: Sven Simon/imago
Moscou 1980: o urso Misha
Em 1980, os Jogos em Moscou tiveram o animal nacional da Rússia como mascote. Ele foi concebido pelo caricaturista e ilustrador de livros infantis russo Viktor Chizhikov, que alcançou fama internacional com Misha. A imagem da mascote chorando na cerimônia de encerramento emocionou o mundo.
Foto: Sven Simon/imago
Los Angeles 1984: a águia Sam
Outro animal símbolo nacional: a águia Sam. Idealizado pelo desenhista Robert Moore, dos estúdios Disney, o animal tinha um chapéu cartola e gravata borboleta nas cores da bandeira dos Estados Unidos.
Foto: Tony Duffy/Getty Images
Seul 1988: o tigre Hodori
Nos Jogos na capital da Coreia do Sul, o escolhido foi o tigre Hodori, um animal enraizado na cultura e mitologia coreanas, e que representa vigor e espírito de luta. Em sua cabeça, a mascote usa um sangmo, chapéu típico de músicos populares sul-coreanos. Seu criador foi Kim Hyun. O nome é uma mistura de horangi, que significa tigre, e dori, diminutivo de garoto.
Foto: Sven Simon/imago
Barcelona 1992: o cão pastor Cobi
A mascote espanhola idealizada pelo designer Javier Mariscal no estilo do cubismo foi uma homenagem ao pintor espanhol Pablo Picasso. O nome vem do comitê organizador dos Jogos de Barcelona.
Foto: Pressefoto Baumann/imago
Atlanta 1996: Izzy
Izzy foi a primeira mascote olímpica que não representava um animal típico do país. O designer americano John Ryan criou uma criatura puramente imaginária. O difícil era dizer do que se tratava, tanto que o nome é uma abreviação de "Whatizit", forma informal da pergunta "What’s it?" (O que é isso?, em inglês).
Foto: Michel Gangne/AFP/Getty Images
Sydney 2000: Olly, Syd e Millie
Pela primeira vez, os Jogos tiveram três mascotes numa edição. Criadas pelo designer Matthew Harton, elas representam animais nativos australianos. Olly, cujo nome vem de Olimpíada, é um pássaro kookaburra; Syd, versão reduzida de Sydney, é um ornitorrinco; e Millie, batizada em homenagem ao novo milênio, é um equidna, espécie de porco-espinho.
Foto: Arne Dedert/dpa/picture-alliance
Atenas 2004: Athena e Phevos
As mascotes dos Jogos Olímpicos de Atenas foram uma homenagem à mitologia grega. Athena e Phevos receberam os nomes de irmãos do Olimpo. Athena era a deusa da sabedoria e deu o nome à cidade onde se realizaram os Jogos. Phevos era o outro nome de Apolo, deus da luz e da música. A inspiração para o desenho, feito por S. Gogos, foi uma "aitala", boneca de terracota encontrada em escavações.
Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Image
Pequim 2008: Beibei, Jingjing, Huanhuan, Yingying e Nini
Os Jogos na capital chinesa tiveram cinco mascotes, cada um numa cor dos anéis olímpicos: Beibei, um peixe; Jingjing, um panda; Huanhuan, o fogo olímpico; Yingying, um antílope tibetano; e Nini, uma andorinha. Os nomes foram derivados de "Beijing huanying ni", que significa "Pequim lhe dá as boas-vindas".
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
Londres 2012: Wenlock e Mandeville
Wenlock e Madeville – esta última mascote dos Jogos Paralímpicos – lembram gotas de aço. Elas têm na cabeça um escudo laranja que lembra os sinais luminosos sobre os táxis ingleses. O olho, uma câmera, simboliza a era digital. Um nome vem de Much Wenlock, que teria inspirado o Barão de Coubertin a criar os Jogos da Era Moderna, e o outro vem de Stoke Mandeville, berço do Movimento Paralímpico.
Foto: Julian Finney/Getty Images
Rio 2016: Vinícius e Tom
A mascote Vinícius é uma mistura de macaco e gato selvagem e representa a fauna brasileira. Já a mascote paralímpica Tom combina várias plantas e representa a flora brasileira. Os nomes foram inspirados em Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Foto: Sebastiao Moreira/dpa/picture alliance
Tóquio 2020: Miraitowa e Someity
Miraitowa significa "futuro" (mirai) e "eternidade" (towa), em japonês. O projeto do artista Ryo Taniguchi foi escolhido por estudantes japoneses e combina futurismo com o tradicional estilo mangá. Já Someity, mascote dos Jogos Paralímpicos, mistura o termo "Someiyoshino", um tipo popular de flor de cerejeira, e a expressão "so mighty" (tão poderoso, em inglês).
Foto: picture-alliance/Kyodo/Maxppp
Paris 2024: os barretes Les Phryges
As mascotes dos Jogos de Paris também vêm em dupla: Les Phryges, em versão olímpica e paralímpica. Sua forma é inspirada no barrete frígio, "uma peça de vestuário que é um simbolo de liberdade, tem sido parte de nossa história há séculos e data a tempos remotos", "um símbolo de revoluções" e onipresente na França, explica o website do evento.