Para conter especulação imobiliária e reverter crise habitacional, prefeito da capital alemã estuda adotar modelo de proibição semelhante ao recentemente aprovado na Nova Zelândia. Medida, porém, enfrenta obstáculos.
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A especulação imobiliária encontrou em Berlim um terreno fértil nos últimos anos e tem atraído principalmente investidores estrangeiros. Em apenas uma década, o preço dos imóveis subiu 104% na cidade, o que atinge diretamente inquilinos locais. Esta não é primeira vez que abordo o tema na coluna (e provavelmente não será a última).
Encontrar uma moradia pagável na capital alemã é algo cada vez mais raro. Em dez anos morando em Berlim, pude acompanhar essa transformação, que começou lenta em bairros como Prenzlauer Berg, Mitte e Kreuzberg, e que nos últimos cinco anos se espalhou rapidamente por toda a cidade.
Esse processo está transformado Berlim, onde diversas classes sociais ocupavam o mesmo espaço e florescia o pequeno comércio local. Atualmente, os mais carentes estão sendo empurrados para a periferia, muitos acabam indo morar na rua, e apenas grandes redes conseguem arcar com o valor cobrado em aluguéis de salas comerciais. A explosão dos aluguéis também se reflete no aumento de preços em restaurantes e bares.
Para conter essa crise habitacional que está transformando a cidade, o governo local avalia proibir a venda de imóveis a investidores estrangeiros. A medida não é uma novidade. Recentemente, a Nova Zelândia aprovou uma lei que proibiu a compra, por estrangeiros, de imóveis residenciais.
Em entrevista a um jornal alemão, o prefeito de Berlim, Michael Müller, afirmou que o governo local prepara um plano para conter a especulação imobiliária na cidade e avalia adotar uma medida semelhante à da Nova Zelândia.
Especialistas entrevistados por diversos jornais, porém, afirmam que a proibição não é tão simples como parece. Primeiro, por não haver dados sobre nacionalidade de donos de imóveis na cidade. Segundo, porque muitos imóveis são adquiridos por empresas alemãs, das quais investidores estrangeiros possuem ações.
Por exemplo, a maior empresa do setor imobiliário de Berlim é a alemã Deutsche Wohnen, com cerca de 110 mil apartamentos. Por trás dela estão diversos investidores, incluindo o fundo soberano da Noruega.
Outro aspecto a ser considerado é que a União Europeia não permite leis que discriminem cidadãos de outras nacionalidades do bloco.
A ideia de Berlim parece, portanto, inicialmente inviável. Depois do bafafá causado pela declaração do prefeito, o governo amenizou um pouco o tema e afirmou que avalia a restrição da venda de imóveis a estrangeiros que os adquirem visando à especulação imobiliária.
Se Berlim vai de fato tentar adotar uma proibição e como ela será, só será revelado no fim deste ano ou início do próximo, quando um plano para enfrentar a atual crise habitacional será apresentado. Resta esperar para ver.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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A primeira linha subterrânea para transporte público na Alemanha foi inaugurada em 1902, em Berlim, cerca de 40 anos depois de a primeira do mundo ser aberta em Londres. Os alemães chamam o metrô de U-Bahn.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Berlim, pioneira na Alemanha
No dia 15 de fevereiro de 1902, foi inaugurado o metrô berlinense, partindo da estação da Praça de Postdam em direção à estação Stralauer Tor. Três dias depois, o meio de transporte foi aberto ao público. Até dezembro do mesmo ano, foram abertas nove estações na rede metroviária. Na Alemanha, o trem subterrâneo chama-se Untergrundbahn ou U-Bahn.
Foto: Imago/G. Leber
Londres, primeiro metrô do mundo
Em 1863, começaram a circular os metrôs em Londres, na época, locomotivas a vapor. Como a fumaça incomodava os passageiros, a linha foi encerrada precocemente. Em 1890, os túneis da capital londrina foram eletrificados. Em Paris, a primeira linha da rede de metrô foi inaugurada em 1900. O Chemin de Fer Métropolitain (caminho de ferro metropolitano) deu origem à abreviatura no português, metrô.
Foto: picture-alliance/Heritage-Images
Da Berlim Ocidental à Oriental
O metrô de Berlim, primeiro trem subterrâneo da Alemanha, cresceu com a expansão de seus trilhos, que inicialmente percorriam pouco mais de 10 quilômetros. Ele sobreviveu a duas guerras mundiais e o Muro de Berlim. Durante a divisão da cidade, o trem só chegava ao lado oriental, comunista, após inspeções rigorosas. A segurança foi redobrada, para evitar que alemães do leste fugissem para o oeste.
Foto: DW/Kate Brady
Hamburgo
A eficiência dos trens elétricos em Berlim inspirou a cidade portuária de Hamburgo, que inaugurou sua rede ferroviária subterrânea em 15 de fevereiro de 1912. Por causa do rio Elba, no entanto, grande parte da malha foi construída sobre viadutos e aterros.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Colônia e outras
Em outras grandes cidades alemãs, o metrô subterrâneo foi introduzido após a Segunda Guerra, por conta da reconstrução dos centros urbanos. A Stuttgart, ele chegou em 1966; a Essen, em 1967; e a Frankfurt e Colônia, em 1968. Na foto, a escada rolante da estação de metrô Heumarkt, em Colônia.
Foto: Imago/blickwinkel/S. Ziese
Munique
À capital da Baviera, o sistema de metrô subterrâneo só chegou na década de 1970. Inicialmente ele estava previsto para ser inaugurado em 1974, mas, devido aos Jogos Olímpicos de 1972, começou a funcionar já em 1971. Na foto, a estação Münchner Freiheit, decorada pelo designer e artista alemão Ingo Maurer, com espelhos no teto e luzes azuis.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Warmuth
A rede mais longa do mundo
Desde dezembro de 2017, a mais extensa malha metroviária do mundo é a de Xangai, na China, com 637 quilômetros. Na Alemanha, a maior rede de metrô é a de Berlim, com 144 quilômetros, 12ª colocada no ranking mundial.
Foto: Imago/Xinhua/D. Ting
O mais longo trecho subterrâneo
A mais longa linha subterrânea da Alemanha é a U7 (foto), de Berlim, com 31,8 km. Já a linha de metrô mais longa, que corre embaixo e sobre o solo, é a linha U1 em Hamburgo, com 55,8 km. Em termos de inclinação, a linha U3, entre Frankfurt e Hohemark, supera uma altura de 204 metros.
Foto: Imago/R. Peters
Bunker de guerra
Estações de metrô especialmente profundas sob o solo foram construídas nos antigos países socialistas durante a Guerra Fria, para servirem também de abrigo numa eventual guerra nuclear. O recorde mundial de profundidade é a estação de metrô Arsenalna, em Kiev, na Ucrânia, com 105,5 metros. Na foto, a escada rolante de uma estação de metrô em São Petersburgo.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
A estação alemã mais profunda
Já nos países ocidentais, os metrôs não são tão profundos devido a questões arqueológicas (Atenas e Roma) ou geológicas (Oslo e Washington). A estação mais profunda da Alemanha é a Messehallen, em Hamburgo, 26 metros abaixo do solo. Também suas escadas-rolantes são recorde alemão, com 22 metros de extensão.