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Berlim celebra Chico Buarque

Soraia Vilela17 de junho de 2006

Na capital alemã inteiramente tomada pela cultura brasileira, platéia se curva a Chico Buarque e bate palmas com vontade.

Chico canta na Casa de Culturas do MundoFoto: Dirk Bleicker/presse

Com entradas completamente esgotadas e filas quilométricas dos que ainda alimentavam uma última esperança, começou pouco antes das dez horas da noite o show agendado para a última sexta-feira (16/06), na Casa de Culturas do Mundo, em Berlim.

Mart’nália sobe soberana ao palco, começa com Nas Águas de Amaralina, passa por Menino do Rio e busca um Luiz Melodia em Estácio, holy Estácio. Com presença de palco como se estivesse "na Vila", lembra a parceria com Zélia Duncan em Benditas e oferece, para o coração de um brasileiro, Pé do meu samba, de Caetano – "minha música da sorte".

Segue-se aí mais uma celebração à Vila Isabel e o Tiro ao Álvaro de Adoniran Barbosa. Mart’nália presta uma homenagem a Dona Yvone Lara, até encerrar com o clássico Sonho Meu.

O que será

A filha de Martinho da Vila se despede depois de dar uma volta pelo anfiteatro, seguida de seus músicos, sob fortes aplausos da platéia. Depois de uma rápida pausa, às 23h50min, as luzes se apagam e Chico sobe ao palco.

A cultura brasileira se autocelebra em Berlim. A partir de O que será, fica claro que Chico, três dias antes de completar seus 62 anos, poderia cantar o que quisesse, da forma como bem entendesse, ou até mesmo se calar. O público o reverencia como ícone de uma ou várias gerações.

Futebol

Chico arrisca um "guten Abend" após o "boa noite". Para delírio das gerais, anuncia "um samba chamado O futebol ", como não poderia deixar de ser, traduzindo em seguida: "Ein Samba: der Fussball". Ri. Vem Ela é dançarina e Palavra de mulher.

Uma quase histeria coletiva toma conta da platéia. A cada fotógrafo que se aventura a passar na frente do palco, embaraçando a visão de um espectador qualquer, ouve-se um desesperado "senta", como se qualquer milésimo de segundo a menos à frente da mais fina companhia de Chico Buarque fosse uma catástrofe de ordem maior.

Quem te viu, quem te vê

A platéia hipnotizada ouve Morro Dois Irmãos. Chico quase não fala com o público, que parece já ter aprendido a não desconfiar do seu silêncio. Ele assovia ao microfone, apresenta os músicos – "meine Musiker" – e chama "der grösste brasilianische Schlagzeuger" (o maior percussionista brasileiro), Wilson das Neves.

Começa Quem te viu, quem te vê para um público que canta junto, bate palmas com vontade e até faz de conta que é turista. Chico sai do palco, os aplausos não cessam. Ele volta, chama Mart’nália, Sem Compromisso. Quando param, a platéia bate palma e pede bis. São 15 para a uma.

João e Maria

Vai passar, na voz dos dois, faz o público de pelo menos 60% de brasileiros – muitos vindos de Munique, Freiburg, Colônia ou outras cidades alemãs, especialmente para ver Chico Buarque em Berlim – se arrepiar frente àquele pedaço da distante pátria distraída.

Chico Buarque e Mart'nália, com camiseta 'Carioca' (título do último CD de Chico)Foto: Dirk Bleicker/presse

Uma nova despedida e uma nova volta. Chico no palco mais uma vez, ao lado de Mart`nália, aplausos que não cessam. É hora de João e Maria e de enfrentar os alemães e seus sorrisos atônitos, frente ao êxtase coletivo do público brasileiro.

Às cinco para a uma, era fatal que o faz-de-conta terminasse assim. Chico sai e não volta mais. As luzes se acendem. Por sorte, lá fora, as ruas de Berlim não estavam tão gélidas como de costume.

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