Obras abandonadas, desprezadas, banidas e desmontadas no passado ganham exposição na capital alemã. Símbolos do conturbado passado, como cabeça de estátua Lênin, recontam história do país.
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A cena de Adeus, Lênin! em que a estátua do político soviético é retirada de seu pedestal e passa voando sobre as cabeças dos personagens principais é uma das mais marcantes do filme. Dificilmente monumentos como esse, que foram banidos e passaram décadas em depósitos ou até enterrados, voltam a atrair atenção. São lembranças do passado que muitos preferem esquecer e que a exposição "Enthüllt – Berlin und seine Denkmäler" ("Revelados –Berlim e seus monumentos") traz novamente à tona na capital alemã.
A iniciativa é única no mundo, diz Andrea Theissen, diretora do Museu na Citadela de Spandau em entrevista à DW. A exibição mostra estátuas políticas originais que estiveram nas ruas e praças de Berlim e recontam a história alemã desde o século 18 até a Reunificação do país.
Lagartos sobre a cabeça de Lênin
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Vladimir Lênin, lembrado no antigo lado oriental da cidade com uma estátua gigantesca feita por Nikolai Tomski e que ficou escondida por muitos anos após ser desmontada, é um dos destaques da mostra. Decathlete, esculpida por Arno Brekers na época do nazismo, e imagens de monarcas prussianos que adornavam a Siegesallee (Alameda da Vitória) no tempo do imperador Guilherme 2º são outros exemplos de monumentos que voltam a ganhar a vida na exposição berlinense.
Vestígios da história
Essas imagens em pedra ou metal trazem consigo mensagens implícitas. "Os monumentos também são declarações políticas", diz Andreas Nachama, diretor da Fundação Topografia do Terror e que colaborou com o projeto. Eles permitem reler a história desde o reinado da Prússia até a Alemanha dividida, passando pelo Império Alemão, a República de Weimar e a era nazista.
Enquanto Paris, por exemplo, preserva alguns dos ícones de diferentes épocas, em Berlim eles foram regularmente desalojados. Foi o caso espetacular envolvendo a estátua colossal de Lênin, inaugurada em clima de festa na presença de mais de 200 mil pessoas, em 19 de abril de 1970. Com a queda do Muro de Berlim, muitas esculturas no lado oriental foram demolidas. Entre elas, a estátua do soviético, que foi cortada em pedaços e enterrada.
"Acredito que os políticos pensam de forma diferente hoje. Eles lidariam com algo assim de outra maneira", aponta Theissen. Em vez de desmontar e esconder monumentos, seria melhor mantê-los e discutir publicamente seu papel e simbolismo, diz a diretora. Ela revela que, ainda hoje, a decisão de incluir ou não a estátua de Lênin na exibição gerou "debates sem fim".
Além da política
A mostra revela ainda 70 das 96 esculturas planejadas pelo arquiteto preferido de Adolf Hitler, Albert Speer, para a Germânia, versão megalomaníaca de Berlim projetada para ser a capital do Terceiro Reich. Muitas foram severamente danificadas por buracos de tiros e explosões durante a Batalha de Berlim, em 1945.
Além dos monumentos marcados pelo peso político e simbólico, a coleção evidencia mostras de intimidade e delicadeza em obras que, separadas de seu contexto, ainda inspiram emoção. É o caso da escultura que retrata o rei prussiano Frederico Guilherme 3º de luto pela popular rainha Luísa.
Ou da estátua que reproduz um homem ferido, ajoelhado e perdido em pensamentos, de Emil Cauer, que relembra os 2 milhões de soldados alemães mortos na Primeira Guerra Mundial – uma representação típica do período da República de Weimar. A mostra em Berlim está prevista para ficar em cartaz até 2019.
Dez museus diferentes de Berlim
Além da renomada Ilha dos Museus, a capital alemã tem cerca de 200 instituições repletas de atrações, que vão do curioso ao excêntrico.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-D. Gabbert
Museu Gay
Um cartoon do artista Ross Johnston mostra o Super-Homem e o Robin se beijando enquanto tematizam a "traição" ao Batman. Para homens que gostam de homens, mulheres que gostam de mulheres e também para aqueles que curtem os dois, o Museu Gay, no bairro Tiergarten, é uma experiência reveladora e especial. O lugar oferece visitas guiadas gratuitas.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-D. Gabbert
Museu do Açúcar
A exposição permanente "É tudo açúcar!" repassa a trajetória que transformou a especiaria num produto cobiçado e com diversas utilidades, até mesmo servir de material para esta maquete do Portão de Brandemburgo. As peças do Museu do Açúcar original, aberto em 1904, foram transferidas para o Museu da Tecnologia, no bairro de Kreuzberg.
Foto: picture-alliance/dpa
Museu do Batom
Uma peça de luxo banhada em ouro, incrustrada com diamante e safira, este tubo de batom no estilo art déco, datado 1925, é apenas um dos destaques da exuberante coleção de René Koch. O maquiador mostra aos visitantes o seu museu particular no bairro de Wilmersdorf e, quando solicitado, dá até dicas individuais de maquiagem. É necessário combinar o horário antes.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Wabitsch
Museu Gründerzeit
Assim se parecia a sala de recepção de uma abastada família alemã nos idos entre 1870 e o início do século 20. Com 14 salas de estar mobiliadas no estilo Gründerzeit (época da fundação, logo após a unificação, em 1871), este museu fica numa casa senhorial no bairro de Mahlsdorf. O interior do Mulakritze é uma exposição à parte. Trata-se de um dos mais famosos pubs da época dourada de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Anfiteatro da Anatomia Animal
Antigamente, estudantes dissecavam aqui animais em aulas de anatomia. Hoje o anfiteatro é uma das construções mais importantes entre os prédios acadêmicos de Berlim. O salão neoclássico foi projetado pelo arquiteto Carl Gotthard Langhans no século 18, na mesma época do Portão de Brandemburgo. Ele faz parte do Museu da História Médica de Berlim, no Hospital Universitário Charité.
Foto: picture-alliance/dpa/Hannibal
Museu dos Jogos Eletrônicos
O Museu dos Jogos Eletrônicos do bairro Friedrischshain foi o primeiro do gênero no mundo. Aberto em 2011, ele fascina os amantes dos jogos para computador e mostra aos visitantes a rápida evolução dos games – dos lendários Pong da pioneira Atari até os atuais jogos 3D, passando pelo Gameboy.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick
Museu Unterwelten
Esta maquete mostra os planos megalomaníacos de Adolf Hitler para Berlim. Esta imensa cúpula no meio seria o "Salão do Povo", com lugar para mais de 150 mil pessoas. Em 24 de março, a exposição "O mito da Germânia – visões e crimes" será aberta ao público no Museu Unterwelten, na estação de bonde Gesundbrunnen.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Museu Teuto-Russo
A rendição incondicional da Alemanha aos aliados foi assinada em 8 (ou 9, dependendo do fuso horário) de maio de 1945 no cassino dos oficiais no bairro de Karlshorst. Assim terminava a Segunda Guerra Mundial na Europa. Durante o período da Alemanha Oriental, o prédio foi transformado no museu da rendição. Depois da Reunificação, o museu ganhou um novo nome e foca nas relações teuto-russas.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Museu Bröhan
O mecenas Karl H. Bröhan doou sua coleção privada de 16 mil objetos à cidade de Berlim. Este museu especial em frente ao Castelo Charlottenburg mostra peças de art nouveau, art déco e da Secessão de Berlim. Este conjunto de café e chá de Josef Hoffmann provocou furor em 1910, quando seu design foi considerado vanguardista.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Lanternas a gás
Berlim ainda tem várias áreas iluminadas pela luz suave e delicada das lanternas de gás – por exemplo a rua Sophie-Charlotte, ruas laterais da Kurfürstendamm e o largo Chamissoplatz. A associação Verein Gaslicht-Kultur se dedica a preservar essa iluminação pública histórica da cidade e oferece passeios guiados noturnos. Uma coleção de lanternas de toda a Europa pode ser vista no parque Tiergarten.