Cerca de 300 amostras descobertas recentemente de tecidos de dissidentes mortos em prisão nazista passaram por um processo de identificação. Vítimas são homenageadas mais de 70 anos após o fim da guerra.
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Restos mortais de vítimas do nazismo descobertos recentemente foram enterrados nesta segunda-feira (13/05) em Berlim, mais de sete décadas após o fim da Segunda Guerra.
Trata-se de cerca de 300 amostras microscópicas de tecidos que pertenciam a vítimas do nazismo, na maioria mulheres, cujos corpos foram utilizados em experimentos médicos, num episódio pouco conhecido ocorrido durante a guerra.
Os restos mortais eram de combatentes da resistência executados na prisão de Plötzensee, onde mais de 2,8 mil vítimas foram degoladas ou enforcadas entre 1933 e 1945. Muitas das vítimas tiveram seus corpos dissecados no Instituto Universitário de Anatomia de Berlim.
A cerimônia resulta de uma iniciativa levada adiante pelo hospital Charité de Berlim, após três anos de pesquisas. Em 2016, as amostras de tecidos foram descobertas pelos descendentes do anatomista Hermann Stieve, que trabalhou com os cadáveres dos opositores do regime, e encaminhadas para o Memorial da Resistência Alemã.
O professor Andreas Winkelmann foi o encarregado de identificar as origens das amostras. "Em geral, não consideraríamos que tecidos tão minúsculos mereceriam ser enterrados [...] mas neste caso a história é particular, uma vez que advém de pessoas às quais foram deliberadamente negadas suas sepulturas, para que seus familiares não soubessem onde elas se encontravam", explicou Winkelmann.
Apesar de não conseguir identificar exatamente a quantas pessoas pertenciam as cerca de 300 amostras, Winkelmann pôde trabalhar a partir de 20 nomes e de indícios que estabelecia algum vínculo com a prisão de Plötzensee. A pedido das famílias, os nomes das vítimas não foram divulgados.
Sabe-se que eram, na maioria, mulheres porque Hermann Stieve, que foi diretor do Instituto Universitário de Anatomia de Berlim, se especializou no estudo dos efeitos do estresse e do medo no sistema reprodutivo feminino. Ele analisava tecidos genitais extraídos de mulheres executadas pelos nazistas.
Entre os tecidos encontrados estão 13 das 18 integrantes do grupo de resistência berlinense "Orquestra vermelha", ao qual pertencia a americana Mildred Fish Harnack, degolada em 1943 após um pedido direto de Adolf Hitler.
Ao contrário de outros cientistas nazistas conhecidos pelos requintes de crueldade, como o "anjo da morte" de Auschwitz, Joseph Mengele, Stieve não era membro no partido nacional-socialista e não realizou experiências com pessoas vivas. Ele, porém, teria pleno conhecimento de que suas "cobaias" haviam sofrido tortura.
"Isso demonstra até que ponto ele era frio. Via essas pessoas como simples objetos", disse Winkelmann, afirmando que Stieve teria colaborado com o regime nazista para desenvolver suas pesquisas. Os corpos, provavelmente, foram enterrados em valas comuns.
Após a guerra, Stieve não foi investigado ou processado pela Justiça e continuou sua carreira, assim como muitos outros cientistas que trabalharam para os nazistas. Até hoje, suas descobertas continuam sendo consideradas importantes para a ginecologia moderna. Ele é membro de honra a título póstumo da Sociedade Alemã de Ginecologia e Obstetrícia.
"Com o sepultamento das amostras microscópicas [...] queremos outorgar um pouco de dignidade às vítimas", disse o diretor do hospital Charité, Karl Marx Einhäulp.
Para o Memorial da Resistência Alemã, que co-organiza a cerimônia, a iniciativa é uma mostra dos esforços recentes realizados pelo hospital para "enfrentar o passado", uma vez que "muitos de seus médicos que ocupavam cargos de direção transformaram, durante o período nazista, suas clínicas e institutos em locais onde se trabalhava a medicina racial e de destruição", levada a cabo pelo regime.
A cerimônia inter-religiosa no cemitério de Dorotheenstadt contou com clérigos cristãos, judeus e protestantes. Os restos mortais foram sepultados em um muro, junto a uma placa em memória das mais de 2,8 mil vítimas da prisão de Plötzensee.
RC/ap/afp/epd
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Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
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Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.