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Berlim indecisa sobre o que fazer com terreno em seu "coração"

Mathis Winkler (sv)23 de agosto de 2006

A proposta de construir um museu de arte de caráter temporário no espaço ocupado pelo Palácio da República reacendeu o debate sobre o futuro do local.

Controvérsias a respeito do que vai ocupar o lugar do palácioFoto: picture-alliance/ dpa

Enquanto operários demolem uma edificação considerada por alguns uma monstruosidade da era socialista, o mesmo prédio, situado no coração de Berlim, é tido por outros como uma importante relíquia da história da ex-Alemaha Oriental.

O prédio do Palácio da República (Palast der Republik), que abrigava o Parlamento comunista e servia como espaço de diversão para um público selecionado pelo regime, tem agora suas vigas à mostra. Quem passa hoje ao lado do antigo palácio pode enxergar o céu através do esqueleto da edificação, deixado pelos demolidores, e que deverá desaparecer por completo no decorrer do próximo ano.

Adiamento

Demolição em andamentoFoto: picture-alliance/ ZB

Após uma operação inicial de saneamento, que tem custado milhões de euros aos cofres públicos, o material cancerígeno continua a ser detectado na área e pode estender a remoção completa do palácio até o ano de 2008.

O adiamento é apenas mais um capítulo na saga que envolve o futuro do espaço desde a reunificação alemã, em 1990. O debate opôs os defensores da preservação do "palácio proletário" àqueles que sugeriram a reconstrução do castelo imperial, severamente danificado durante a Segunda Guerra Mundial e demolido pelo governo da ex-Alemanha Oriental.

Fórum Humboldt

Os defensores da idéia da reconstrução do castelo imperial acabaram ganhando o apoio do Parlamento alemão, que optou pela construção de um centro cultural e científico no local.

Situado em frente à famosa Ilha dos Museus e levando o nome do pesquisador alemão Alexander von Humboldt, o Fórum Humboldt a ser construído irá abrigar acervos de arte não-européia, próximo do acervo científico da Unviersidade Humbodlt, bem como parte da Biblioteca Central de Berlim.

Um centro de convenções e lazer irá complementar o complexo, que terá uma estrutura interna moderna, coberta pela fachada "histórica" do castelo imprerial reconstruído.

Espaço verde ou arte contemporânea?

Segundo declarações oficiais, a reconstrução do castelo – entre outros, por motivos de ordem financeira – não irá começar antes de 2012. Até lá, está planejada a criação de um espaço verde para o local.

Antes mesmo que as melhores propostas fossem avaliadas, o que deve acontecer em setembro, os editores da revista de arte Monopol sugeriram recentemente uma outra alternativa para o espaço: um museu temporário, com obras de artistas jovens.

Projeto de museu temporário do escritório de arquitetura GraftFoto: Graft

"Queremos fazer com que a arte contemporânea se encontre com a arquitetura contemporânea", diz Ingolf Kern, um dos editores da revista, depois que os arquitetos dos escritórios Schneider + Schumacher, Graft, gmp, Bottega + Erhardt e Sauerbruch Hutton apresentaram seus projetos para um museu.

Entre os nomes que apóiam o projeto está o da ex-ministra da Cultura Christina Weiss. Segundo ela, o espaço em questão é muito importante para ser deixado vazio por tantos anos. Mesmo assim, as autoridades locais não acreditam na viabilidade do projeto de um museu temporário.

"Queremos fazer uso do mínimo possível de verbas públicas, mas mesmo assim criar um espaço aceito pelo público. Um museu de arte iria contra isso. Certamente não há plano algum para colocar qualquer construção sólida neste espaço", diz Petra Roland, porta-voz do Departamento de Planejamento Urbano de Berlim.

Tentativa de sabotagem?

Enquanto os defensores da idéia de um museu no local argumentam que a estrutura a ser construída seria provisória, aqueles que apóiam a proposta de reconstrução do castelo imperial temem que o projeto seja uma tentativa de sabotar a idéia do Fórum Humboldt no local.

"Me parece que a criação de um espaço de exposições seja uma forma de evitar o castelo", diz Wilhelm von Boddien, um dos coordenadores da campanha para levantar mais de 80 milhões de euros, necessários para financiar a fachada histórica do castelo imperial.

Projeto de jardim em labirinto, para ocupar o espaço do Palácio da República nos próximos anosFoto: Labyrinthgarten Berlin

Enquanto uma ala crítica aponta que Von Boddien, um executivo de Hamburgo, jamais estará em condições de arrecadar uma soma tão alta quanto essa, ele próprio afirma que o dinheiro estará disponível tão logo o governo dê o sinal verde para a construção.

Von Boddien defende ainda a criação de um centro de informações que coloque a população a par do planejamento de reconstrução do castelo, com o objetivo de entusiasmar as pessoas em relação a uma idéia que vem sendo, segundo ele, tão mal-entendida pelo público.

"As pessoas associam o castelo com monarquia, absolutismo. Não conseguem ver que as pessoas anseiam a beleza, a identidade. Estamos voltando à identidade berlinense. Trata-se da cura de um conjunto arquitetônico que foi mutilado em seu cerne", argumenta Von Boddien.

Falta de idéias

"O castelo é uma expressão da falta de imaginação da classe política", afirma o arquiteto Wilfried Wang, ex-diretor do Museu Alemão de Arquitetura e professor da Universidade do Texas, em Austin (EUA). "Se você não tem idéias, não deveria construir erros. É melhor deixar essa área vazia, aberta àqueles que têm uma sugestão melhor, do que privar-se da imaginação."

Diante do fato de que as autoridades que têm poder de decisão sobre o caso ainda continuam influenciadas pela divisão entre Leste e Oeste, se deveria deixar, segundo Wang, a decisão para as gerações futuras.

"Gerações que não se lembrarão exatamente do que esse espaço foi." Na opinião do arquiteto, o andar térreo de qualquer edificação futura a ser construída no local deveria abrigar restaurantes e bares. "Desta forma, acredito que toda a área poderia ser revitalizada."

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