Berlim proíbe "soldados" no antigo Checkpoint Charlie
4 de novembro de 2019
Atores uniformizados que posam para fotos com turistas não poderão mais atuar na antiga passagem que se tornou célebre na Guerra Fria. Governo diz que grupo se comportava de forma "agressiva" para coletar dinheiro.
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As autoridades de Berlim anunciaram nesta segunda-feira (04/11) que vão vetar as atividades de atores que se vestem como militares americanos para posar em fotografias ao lado de turistas no antigo Checkpoint Charlie, na região central da capital alemã.
O Checkpoint Charlie era um dos vários postos de controle entre o setor americano e soviético da cidade quando Berlim esteve dividida durante a Guerra Fria. O local servia especificamente para a passagem de estrangeiros e tropas aliadas. Depois da queda do Muro, a região foi revitalizada e passou a ser um dos locais turísticos mais frequentados da capital.
Ao justificar o veto aos atores, as autoridades afirmaram que uma investigação conduzida pela polícia apontou que alguns deles costumavam pressionar turistas a pagar pelas fotos, muitas vezes de forma "agressiva".
Pelo menos dez atores de um coletivo chamado Dance Factory se revezavam em frente a uma réplica do antigo posto de controle. De acordo com o tabloide Bild, o negócio é lucrativo e o grupo chegava a faturar 5 mil euros por dia. Ainda segundo o Bild, o líder da trupe de atores negou que o grupo fosse agressivo com os turistas. Segundo ele, as doações eram voluntárias.
A proibição de atores no local também voltou a alimentar as discussões sobre o futuro do Checkpoint Charlie. O local que chegou a ser um dos principais símbolos da antiga divisão da cidade se tornou um ímã para turistas, mas também perdeu parte da sua dimensão histórica ao ser tomado por lojas de bugigangas para turistas e cadeias de fast-food.
No ano passado, o anúncio da construção no local de um hotel da bandeira Hard Rock (a mesma da cadeia de restaurantes) provocou críticas na imprensa local.
Recentemente, o chefe da agência de promoção de turismo de Berlim, Burkhard Kieker, disse que ao jornal Tagesspiegel que o checkpoint se tornou algo "ofensivo aos olhos". Políticos e historiadores locais já criticaram o que classificaram como "disneyficação" do local, que foi palco de alguns dos momentos mais tensos da Guerra Fria. Em 1961, logo após a construção do muro, tanques de guerra americanos e soviéticos posicionaram-se frente a frente no antigo posto de fronteira da rua Friedrichstrasse.
A decisão de Berlim de banir os atores segue o exemplo de Roma, que em 2016 proibiu qualquer atividade que incluísse a "disponibilidade de ser retratado em vestimentas históricas em fotografias ou vídeos em troca de dinheiro".
A proibição mirou especificamente nos "gladiadores" da cidade, homens fantasiados com armaduras, espadas e capas vermelhas, que costumavam ocupar os arredores do Coliseu se oferecendo para tirar fotos com os turistas em troca de dinheiro. Assim como em Berlim, eles eram regularmente acusados de agir de maneira inoportuna e agressiva para cobrar os turistas.
A derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial resultou na divisão do país, ratificada com o Muro de Berlim. Veja algumas estações do símbolo da divisão.
Foto: DW/M. Fürstenau
160 km de história
Durante 28 anos, até 1989, o Muro dividiu Berlim em Ocidental e Oriental. Hoje, há cada vez menos resquícios da divisão. A Rota do Muro de Berlim tem 160 quilômetros, que podem ser seguidos a pé ou de bicicleta.Testemunhos daquele tempo e muita informação contam a história do Muro.
Memorial do Muro
O passeio pode ser iniciado em qualquer ponto da rota. Uma sugestão é começar no Memorial do Muro de Berlim, seguindo por 1,4 km a rua Bernauer Strasse, ao longo da qual ficava o Muro. Ela mostra a arquitetura assassina da antiga fronteira e lembra as pessoas que perderam a vida tentando fugir de Berlim Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Pedras redesenham percurso do Muro
Uma fileira dupla de quase seis quilômetros de paralelepípedos ajuda a imaginar onde passava o Muro. Mas qual era o lado ocidental? De trecho em trecho, há uma placa em bronze com a informação: "Muro de Berlim 1961-1989". Isso só pode ser lido por quem está no antigo lado ocidental.
Foto: DW/E. Grenier
De símbolo da divisão a marco da unidade
Seguindo em direção ao centro, chega-se aos prédios do governo federal, ao longo do rio Spree, e à praça Pariser Platz, onde fica o Portão de Brandemburgo, que havia sido isolado pelo Muro. Ele não podia ser acessado nem por Berlim Ocidental, nem pela Oriental. De símbolo da divisão, ele virou símbolo da unidade, após a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa
Checkpoint Charlie
A mais famosa das antigas passagens entre os dois lados da Berlim dividida é Checkpoint Charlie. No local, não há mais nada de original, até o ponto de controle é uma réplica do ano 2000, cercada por lojas de souvenirs baratos. Mesmo assim, o local está sempre cheio de turistas. O auge da comercialização da História são homens vestidos de soldados alemães-orientais que cobram para posar em fotos.
Foto: picture-alliance/dpa/Maurizio Gambarini
As torres de vigilância
Do lado alemão-oriental, havia mais de 300 torres de vigilância. Ali, com as mãos no gatilho, os soldados da então Alemanha Oriental vigiavam a faixa de fronteira 24 horas por dia. Apenas três dessas torres ainda existem e todas estão protegidas como patrimônio histórico. Esta da foto fica quase escondida numa rua lateral à praça Potsdamer Platz.
Foto: picture alliance/dpa/W. Steinberg
East Side Gallery, arte ao ar livre
A rota também passa pelo trecho mais longo do Muro ainda de pé. O lado ocidental do símbolo da divisão alemã sempre foi conhecido pelos seus grafites coloridos. Já o lado oriental era cinza. Artistas internacionais mudaram isso em 1990. Eles pintaram um trecho dele de 1,3 km no bairro Berlin-Friedrichshain, criando assim a mais longa galeria de arte ao ar livre.
Foto: Reuters/F. Bensch
Trocas de espiões na ponte de Glienicke
A maior parte da rota do Muro se estende por 110 km ao longo da fronteira do perímetro urbano de Berlim. Um ponto de destaque neste trajeto é a ponte de Glienicke, palco de espetaculares trocas de espiões durante a Guerra Fria e cenário de filmes como "Ponte dos Espiões", de Steven Spielberg, com Tom Hanks.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger
Museu na torre de fronteira
Trechos da rota margeiam rios, atravessam bosques e campos. O meio ambiente em volta de Berlim testemunhou muitas tentativas arriscadas de fuga. O Muro dividiu famílias e vilarejos, como Hennigsdorf, a 20 km de Berlim. Um museu na torre de fronteira conta como era a vida com o Muro.
Foto: DW/M. Fürstenau
Cerejeiras, presente japonês
Milhares de cerejeiras colorem trajetos da Rota do Muro. Elas foram doadas por japoneses, para representar a alegria pela Reunificação. A cada primavera, elas transformam estas áreas em um mar cor-de-rosa. Como embaixo da ponte Bösebrücke, no bairro Pankow. Ela foi o primeiro posto de fronteira a abrir na noite da queda do Muro, em 9 de novembro de 1989.