Comitê do Interior do Parlamento alemão estabelece criação de novas leis de asilo em até dois meses. Alemanha registra mais de 100 mil refugiados somente em agosto.
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Na sequência de uma reunião extraordinária do comitê do Interior do Parlamento alemão, realizada nesta quarta-feira (02/09), o ministro do Interior, Thomas de Maizière, afirmou que o tempo é essencial e que progresso havia sido feito. O encontro estabeleceu um plano de criar novas leis de asilo em até dois meses.
"Nosso plano é ambicioso", disse o ministro, conhecido por ser um aliado próximo da chanceler federal alemã, Angela Merkel, acrescentando que "não há tempo a perder" e que "precisamos de decisões rápidas".
De acordo com projeções feitas pelo ministério de De Maizière, haverá mais de quatro vezes mais refugiados chegando à Alemanha neste ano do que em 2014 – o que será também o novo recorde anual. A previsão estima, provisoriamente, a chegada de aproximadamente 800 mil migrantes.
Embora o ministro do Interior não tenha oferecido nenhuma informação concreta sobre as leis prometidas, ele disse que a nova legislação abrangerá três importantes pontos: a criação de mais espaço habitacional para os requerentes de asilo; catalisar o processo de deportação de requerentes de asilo que tiveram o pedido negado; e oferecer mais dinheiro para estados e municípios alemães que assumiram a tarefa de acomodar refugiados.
Agosto: mais de 100 mil refugiados
Com centenas de novos requerentes de asilo chegando diariamente à Alemanha, centros de refugiados e instalações de acolhimento já estão extremamente sobrecarregados. Uma tentativa de criar mais dessas instalações no país também levou a uma onda de ataques de simpatizantes da extrema direita, sugerem dados estatísticos na Alemanha.
O chefe da agência de inteligência interna da Alemanha, Hans-Georg Maassen, advertiu que a situação estimulou um aumento do extremismo de direita no país. Em declaração à revista semanal alemã Stern, ele lamentou "a ligação entre o número de ataques [contra instalações de recepção de refugiados] e o número de pessoas na NPD", referindo-se ao Partido Nacional Democrático da Alemanha, notória legenda ultradireitista.
Também nesta quarta-feira, a porta-voz do ministério para questões sociais da Baviera, Emilia Müller, afirmou que somente no mês de agosto 104.460 requerentes de asilo chegaram ao território alemão. De janeiro até agosto, 413.535 pessoas foram registradas no sistema de cadastro inicial de migrantes e refugiados – o pedido de asilo é um processo separado. Cerca de um terço dos registros em agosto foram feitos somente na Baviera.
Em 2014, cerca de 60% dos 202.834 requerentes tiveram asilo concedido na Alemanha. Os outros 40%, no entanto, não foram mandados de volta para casa imediatamente – muitos passaram meses em centros de refugiados recebendo uma bolsa mensal de 143 euros do governo alemão, além de moradia e alimentação.
Numa tentativa de contornar esses custos, De Maizière quer criar leis que permitirão o governo alemão deportar o mais rápido possível aqueles candidatos com poucas chances de conseguir asilo. Estes são geralmente migrantes de países considerados "seguros" pelo governo alemão. O ministro também quer adicionar alguns países da Europa Oriental à lista de "países seguros". Para este último ponto, porém, a Constituição da Alemanha terá que sofrer alterações.
Custos acima dos 3 bilhões de euros
O item mais controverso na agenda do encontro desta quarta-feira foi o dinheiro – particularmente quanto Berlim terá de alocar para os 16 estados federais. O chefe do comitê do Interior, Wolfgang Bosbach, partidário da União Democrata Cristã de Merkel, afirmou que "um ou dois bilhões de euros certamente não cobrirão os custos". Antes do encontro, a ministra do Trabalho, Andrea Nahles, do Partido Social Democrata, afirmou que ao menos 3,3 bilhões de euros serão necessários do governo federal.
Além da situação financeira, Bosbach também criticou a falta de cooperação em toda a Europa em relação a crise migratória. A Alemanha acolheu aproximadamente 40% dos requerentes de asilo que se candidataram neste ano na União Europeia (UE).
Ele também aproveitou para criticar Budapeste, que permitiu que migrantes seguissem livremente viagem em trens rumo à Áustria e à Alemanha – o que caracteriza violação da Convenção de Dublin, que determina que o primeiro Estado-membro da União Europeia (UE) adentrado pelo refugiado é responsável pelo processo de asilo. No dia seguinte, a polícia húngara impediu a entrada de refugiados na estação de Keleti.
PV/dpa/rtr/afp
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.