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HistóriaAlemanha

Berlim quer doar mansão de ministro da propaganda nazista

4 de maio de 2024

Construída em 1939, "Villa Goebbels" é hoje uma ruína decadente tomada pelo mato em área de 17 hectares. Autoridades queixam-se de altos custos de manutenção e ameaçam demolir complexo.

Uma mansão em forma de U cercada por uma floresta; ao fundo, um lago
"Villa Goebbels": abandonado desde 2000, imóvel do ex-ministro de propaganda nazista entrou em decadênciaFoto: Patrick Pleul/dpa/picture alliance

A antiga mansão do ministro da Propaganda da Alemanha nazista Joseph Goebbels é um fardo para a administração pública de Berlim, que já não quer mais arcar altos custos de manutenção do lugar. Por isso, e após diversas tentativas fracassadas de livrar-se do imóvel, o governo agora se declara disposto a doá-lo.

Há anos as autoridades vêm tentando dar um destino à propriedade de um dos mais importantes acólitos de Adolf Hitler, outrora uma luxuosa construção em uma área de 17 hectares às margens do lago Bogensee, cerca de 40 quilômetros ao norte da capital alemã, e hoje uma ruína decadente tomada pelo mato.

"A quem quiser assumir o local, ofereço-o como um presente do estado de Berlim", declarou nesta quinta-feira (02/05) o responsável pelas finanças, Stefan Evers, durante um debate acalorado no Parlamento estadual.

A propriedade, cujo tamanho equivale a mais ou menos um aeroporto e meio de Guarulhos, fica no município de Wandlitz, no estado de Brandemburgo. Assim como o governo federal, porém, nenhum deles está interessado no "presente tão generoso", disse Evers.

A "Villa Bogensee" foi construída a mando de Goebbels em 1939Foto: Jürgen Ritter/IMAGO

A história da Villa Goebbels

Goebbels recebeu o terreno como presente em 1936 e mandou construir a mansão em 1939, bancada com recursos da Universum Film AG, ou UFA, o estúdio cinematográfico mais importante da Alemanha na primeira metade do século 20.

A luxuosa propriedade onde ele viveu com mulher e seis filhos tinha uma sala de cinema privada e amplos quartos com vista para o lago. Ali, Goebbels recebia estrelas do mundo do cinema, personalidades e amantes.

Com a derrocada alemã na Segunda Guerra Mundial e a intensificação dos bombardeios aliados em Berlim, o imóvel ganhou um bunker subterrâneo, de onde Goebbels passou a despachar. No final do conflito, ele regressou a Berlim, onde se suicidou junto com a família, dentro do bunker de Hitler, pouco antes de o local ser tomado por tropas soviéticas.

Após o fim da guerra, com a derrota da Alemanha, o local foi transformado em hospital militar pelos aliados. Depois, no início da década de 1950, as autoridades da antiga Alemanha Oriental ergueram no mesmo terreno um conjunto de imóveis em estilo stalinista para abrigar um centro de formação da juventude do partido comunista. A "Villa Goebbels", que ficava no centro desta universidade comunista, virou creche e supermercado para os estudantes.

Prédio da antiga universidade da juventude do partido comunista, da época da Alemanha OrientalFoto: Christian Thiel/imago images

Com a queda do Muro de Berlim, porém, a universidade deixou de existir e a área, gradualmente esvaziada até ser abandonada, voltou a ser propriedade da capital alemã – que, contudo, nunca encontrou uma utilidade para ela.

Desde o ano 2000, a "Villa Goebbels" está desocupada e em mau estado. Propostas de compra, até agora, não prosperaram devido ao receio de Berlim de que o local "caia em mãos erradas" e vire ponto de encontro de nazistas.

Segundo o portal alemão ZDF, os custos estimados para reforma do complexo são de 350 milhões de euros (R$ 1,91 bilhão).

Berlim também cogita demolição

Na falta de um comprador, e diante dos altos custos de manutenção – segundo a imprensa alemã, na casa dos 250 mil euros (R$ 1,36 milhão) –, Berlim está considerando a possibilidade de colocar tudo abaixo e reflorestar a área, que é tombada desde 1999.

Ao portal alemão Tagesschau, Evers disse que a administração pública está aberta a ideias para o imóvel que sejam do "interesse da cidade" e que "façam justiça à complexa importância histórica da zona". Sem mencionar se o governo consideraria propostas de pessoas privadas, ele sinalizou que aguarda propostas do governo federal ou de Brandemburgo, especialmente no que diz respeito ao financiamento.

"Mas se isso não der em nada de novo, como tem acontecido nas últimas décadas, então o estado de Berlim não terá outra opção senão realizar a demolição", afirmou.

ra/md (AFP, AP, ots)