Fundação cultural herda coleção pessoal com filmes, fotos, cartas e documentos da controversa diretora Leni Riefenstahl, responsável por realizar vários projetos para a máquina de propaganda.
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Uma fundação cultural berlinense herdou o acervo pessoal completo de Leni Riefenstahl, conhecida como a cineasta predileta de Adolf Hitler. A coleção inclui fotos, filmes, manuscritos, cartas e arquivos da propriedade da diretora, conhecida por ter realizado filmes de propaganda para o regime nazista e que morreu em 2003, aos 101 anos.
A Fundação Prussiana do Patrimônio Cultural afirmou na segunda-feira (12/02) que a ex-secretária de Riefenstahl, Gisela Jahn, doou à instituição sediada em Berlim – cidade natal da cineasta – o completo acervo acumulado pela diretora, após ter herdado a coleção do viúvo da cineasta, o cinegrafista Horst Kettner, morto em 2016. Ele mantinha o material guardado na residência do casal, em Pöcking, no sul da Alemanha.
Os filmes de Leni Riefenstahl eram considerados um poderoso instrumento de propaganda dos nazistas e até hoje são tidos como obras de arte cinematográficas esteticamente sofisticadas.
Entre seus trabalhos mais conhecidos, estão Triunfo da Vontade, um registro do congresso do Partido Nazista de 1934, em Nurembergue, e Olympia, um ensaio cinematográfico em duas partes, abordando os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936.
O presidente da Fundação Prussiana do Patrimônio Cultural, Hermann Parzinger, assegurou que sua entidade tratará o material com "uma responsabilidade especial", com um "exame crítico" da cineasta.
O acervo será avaliado e catalogado por uma equipe interdisciplinar supervisionada pelo órgão, em cooperação com a Deutsche Kinemathek. Ele está abrigado em cerca de 700 caixas.
O diretor artístico da Deutsche Kinemathek, Rainer Rother, espera que o acervo adquirido possa revelar novas facetas da obra da diretora.
"Nossa perspectiva sobre Leni Riefenstahl se enriquecerá – não necessariamente se modificará.” Para além das questões morais, políticas e históricas, Riefenstahl é considerada uma dos diretoras mais importantes da história do cinema. "Sua contribuição estética é incontestável", destaca Rother.
O inventário fotográfico será abrigado no Museu da Fotografia, situado em Berlim, que desde 2004 exibe o trabalho do fotógrafo Helmut Newton, amigo de Riefenstahl nos últimos anos de vida da cineasta. As correspondências, diários e os manuscritos devem ficar sob os cuidados da Staatsbibliothek de Berlim.
Riefenstahl sempre defendeu das acusações relacionadas a seus serviços ao Terceiro Reich, dizendo que não sabia nada das atrocidades nazistas .
Após a Segunda Guerra Mundial, ela praticamente não conseguiu mais financiamento para novos projetos. Seu filme Terra Baixa, filmado entre 1940 e 1942, só estreou em 1954. Para as filmagens, ela recrutou 60 ciganos que eram prisioneiros de campos de concentração, o que mais tarde causou controvérsia.
Depois, Riefenstahl estabeleceu carreira como fotógrafa, publicando livros de fotos, como o dedicado à tribo africana dos nubas. Nos últimos anos de vida, ela se dedicou a filmagens submarinas. Em seu aniversário de 100 anos, em agosto de 2002, Riefenstahl lançou um novo filme, sobre a beleza dos atóis no Oceano Índico.
MD/dpa/ap/afp/epd
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Dez diretoras alemãs de cinema
Embora quase metade dos graduados em Cinema na Alemanha sejam mulheres, elas assumem apenas 15% da direção dos filmes no país. Conheça algumas delas: jovens ou precursoras, com filmografias experimentais ou comerciais.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Maren Ade
Nascida em 1976, Maren Ade é uma das diretoras alemães de trajetória mais sólida dentro e fora do país. Depois de "Floresta para as árvores", seu premiado filme de conclusão de curso e de baixo orçamento "Todos os outros" (2009) levou um Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim. "Tony Erdmann" (2016), que teve sua estreia em Cannes, é um dos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Ulrike Ottinger
Entre 1962 e 1968, foi aluna de Claude Lévi-Strauss e Pierre Bourdieu na França. De volta à Alemanha, dirigiu muitos filmes – entre eles uma série de documentários longos, frutos de suas viagens pela Ásia e mais tarde pelo Leste Europeu. Seus trabalhos audiovisuais receberam incontáveis prêmios e sua obra foi tema de retrospectivas na Cinemateca de Paris e no MoMA de Nova York.
Foto: DW
Helke Sander
Nascida em 1937, foi uma das precursoras do movimento feminista no cinema alemão. Entre 1966 e 1969, estudou na Academia Alemã de Cinema e Televisão de Berlim (DFFB). Em 1973, organizou o Primeiro Seminário de Cinema Feminino em Berlim, com exibição de 40 filmes dirigidos por mulheres. Em 1974, fundou a revista "Mulheres e Cinema", que editou até 1982. Em 1984, recebeu o Urso de Ouro na Berlinale.
Foto: picture-alliance / KPA Honorar und Belege
Helma Sanders-Brahms
Em 1967, Helma Sanders-Brahms (1940-2014) trabalhou com Pier Paolo Pasolini na Itália. A partir de 1969, dirigiu diversos filmes de cunho autobiográfico, muitos deles voltados para questões relativas ao lugar da mulher no trabalho e na família. Além da direção, ela assinava roteiros e produzia seus próprios filmes. Entre as obras que a tornaram conhecida está "Alemanha, mãe pálida" (1980).
Foto: Getty Images
Margarethe von Trotta
Diretora e roteirista berlinense nascida em 1942, Margarethe von Trotta começou sua carreira como atriz. Personagens femininas são uma marca de sua obra. Ela já levou às telas as trajetórias de Hildegard von Bingen, Rosa Luxemburg e Hannah Arendt, entre outras.
Foto: picture-alliance/dpa
Doris Dörrie
A cineasta assina a direção de mais de 30 filmes, encenações de ópera, romances e livros infantis. Alguns de seus filmes são adaptações para a tela de seus próprios livros. Doris Dörrie tornou-se internacionalmente conhecida em 1985 com a comédia de costumes "Homens". Uma das características de sua obra é o humor constante.
Foto: picture-alliance/Geisler-Fotopress
Caroline Link
Em 1990, concluiu os estudos na Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique. Seis anos mais tarde, "A música e o silêncio", seu longa-metragem de estreia na direção, seria indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas conhecida internacionalmente ela se tornaria com "Lugar nenhum na África", a história de uma família judia que foge do nazismo e se exila no Quênia.
Foto: picture-alliance/dpa
Angela Schanelec
Em 1993, antes de se formar na Academia Alemã de Cinema e Televisão de Berlim (DFFB), já estreava na direção. Foi premiada por "Marselha" e é uma das diretoras dos "13 curtas sobre o estado da nação" – projeto que reuniu cineastas do país em 2009, como contraponto ao coletivo "Alemanha no outono", de 1977. Seu nome é associado ao que se convencionou chamar de Escola de Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Yasemin Şamdereli
De ascendência curda, a diretora nasceu e cresceu na Alemanha. Graduada pela Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique, recebeu vários prêmios por seu curta de conclusão de curso. Depois de trabalhar para a TV, realizou "Bem-vindo à Alemanha", que estreou no Festival de Berlim e foi exibido em diversos lugares do mundo. O filme aborda, de maneira singular, o tema migração e identidade.
Valeska Grisebach
Ex-aluna de Michael Hanecke na Academia de Cinema de Viena, recebeu diversos prêmios por seu filme de conclusão de curso: o semidocumental "Minha estrela". Seu segundo longa, "Saudade", estreou no Festival de Berlim e foi muito premiado. Nele, a diretora consegue abolir a fronteira entre documentário e ficção, já que os figurantes do povoado que serve de cenário ao filme são moradores locais.