Inédito na Alemanha, modelo prevê que participantes trabalhem em atividades sociais, como em creches, escolas ou hospitais, e recebam acompanhamento profissional. Inicialmente, 250 desempregados serão selecionados.
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Quem mora em Berlim com certeza já teve que esperar meses para conseguir um horário de atendimento em repartições públicas ou já ouviu falar das dificuldades de encontrar vagas em jardins de infância. Recentemente, por exemplo, dei entrada ao processo para tirar a carteira de motorista e fui informada que dentro de duas semanas receberia a carta com instruções. Após um mês e nada, liguei para o departamento responsável e me informaram que estavam sobrecarregados. No fim, só recebi a tal da carta seis meses depois.
A demora nos processos públicos e falta de vagas em jardins de infância são alguns dos problemas enfrentados pela capital alemã depois de um período de austeridade que começou no início dos anos 2000. A economia para equilibrar as contas públicas levou a cortes drásticos de funcionários públicos, e essa diminuição começou a ser sentida nos últimos anos diante do crescimento populacional constante da cidade, que hoje possuiu cerca de 3,6 milhões de habitantes.
Se por um lado faltam funcionários, por outro, Berlim registrou pouco mais de 153 mil desempregados em maio, uma taxa de desemprego de 7,8%. Para muitos, a volta para o mercado de trabalho é árdua e nem sempre será bem sucedida. Por isso, para oferecer novas perspectivas aos desempregados e tentar suprir a carência de funcionários em atividades de utilidade pública, Berlim testará a partir de julho um modelo de salário básico solidário.
Diferente do modelo de renda básica incondicional testado recentemente na Finlândia, onde os participantes recebiam um valor mensal sem a exigência de procurar ou aceitar emprego, em Berlim, os escolhidos para participar do projeto receberão um emprego com carteira assinada em atividades sociais, como em creches, escolas, hospitais ou instituições que prestam serviços à comunidade.
Inédito na Alemanha, o modelo berlinense prevê que os participantes recebam um salário mínimo ou valor mínimo pago para a função assumida. Durante o projeto, eles também farão cursos técnicos e receberão acompanhamento profissional.
O modelo será testado a partir de 1º de julho por cinco anos e contará inicialmente com 250 pessoas escolhidas. Neste período, o projeto pretende ser ampliado para até mil participantes. Serão selecionados desempregados a menos de um ano, mas que não tenham chances de voltarem ao mercado de trabalho formal num futuro breve. Berlim investirá 200 milhões de euros na fase de teste.
Em entrevista à emissora de televisão local RBB, o prefeito de Berlim, Michael Müller, afirmou que o modelo seria uma alternativa para superar o Hartz IV, o sistema de assistência social aos desempregados de longa data – um programa controverso que tem causados debates na Alemanha recentemente. O Hartz IV é quase um estigma social.
O modelo berlinense não garante que os participantes sejam contratados após a fase de teste, porém, buscará a colocação deles em outras vagas. No fim do programa, os participantes terão ainda adquirido experiência profissional e, desta maneira, melhores chances de serem reintegrados no mercado de trabalho.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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A partir do ano 2000, chegaram às telas filmes de cineastas associados ao que se chamou de "segunda geração da Escola de Berlim", além de uma vertente do cinema alemão impulsionada por diretores filhos de imigrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Caixa preta Alemanha
O documentário de Andres Veiel, de 2001, apresenta dois personagens paralelos: Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank, morto em um atentado em 1989; e o terrorista Wolfgang Grams, morto em confronto com a polícia. O diretor busca depoimentos de pessoas próximas aos dois e esboça um retrato da sociedade alemã à sombra do terrorismo da RAF: "A luta passou, mas as feridas continuam abertas."
Foto: X Verleih
Adeus, Lênin!
Nesta comédia de 2003, o diretor Wolfgang Becker revisita a queda do Muro de Berlim através da história da família Kerner. E brinca com as diferenças culturais entre as ex-Alemanhas Oriental e Ocidental. O filme recebeu diversos prêmios, entre eles o de melhor filme europeu do ano e se tornou um dos maiores sucessos de público da história recente do cinema alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Contra a parede
O filme de Fatih Akin recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2003. O diretor volta mais uma vez os olhos para suas raízes, ao contar a inusitada história de amor entre dois jovens turcos na Alemanha, que lutam para se libertar das amarras das tradições familiares. A premiação marcou a consagração de Akin como um dos principais diretores do país.
Foto: picture alliance/dpa
Marselha
Angela Schanelec, uma das diretoras da "Escola de Berlim", traça, em seu longa de 2004, o retrato de uma geração perdida entre lugares, pessoas, idas e vindas, emoções contrárias. Adepta de uma linguagem cinematográfica elíptica e de rigor formal, e amante confessa do cinema de Robert Bresson, Schanelec "documenta" o cotidiano das personagens em seus filmes de ficção.
Foto: peripherfilm/R.Vorschneider
Edukators
"Edukators", de 2005, dirigido por Hans Weingartner, encerrou o longo jejum de filmes alemães no Festival de Cannes, tendo sido posteriormente bem recebido em muitos países. A narrativa em torno do amor, da amizade e da rebeldia serve como alerta à sociedade de que por trás de uma suposta vida feliz e perfeita podem se ocultar sinais de uma ordem mundial nada justa e igualitária.
Foto: picture alliance/dpa
A vida dos outros
O longa-metragem dirigido por Florian Henckel von Donnersmark sobre as atividades da Stasi, a polícia secreta da ex-Alemanha Oriental, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Ao refletir sobre a vigilância estatal, o filme de 2006 apresenta uma narrativa que não reconstrói contextos reais, mas cria uma parábola sobre as possibilidades de resistência aos mecanismos de um Estado repressor.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena Vista
Yella
Dirigido por Christian Petzold, um dos nomes da chamada Escola de Berlim, "Yella" (2007) coloca na tela os bastidores do mercado financeiro, com suas imagens, atitudes, valores e riscos. Segundo o próprio diretor, as contradições do neoliberalismo são justamente as contradições da protagonista, que deixa sua pequena cidade no Leste alemão para trabalhar no Oeste com empresários inescrupulosos.
Foto: Hans Fromm
13 curtas sobre o estado do país
Inspirado no projeto coletivo anterior "Alemanha no Outono" (1978), os 13 curtas-metragens radiografaram em 2009 os problemas do país em 140 minutos – desde o fantasma da vigilância até as heranças do nazismo e do terrorismo. Com cineastas como Fatih Akin, Wolfgang Becker, Tom Tykwer e Hans Weingartner, a seleção marcou os 50 anos do fim da Guerra Fria e os 20 anos de queda do Muro de Berlim.
Foto: Piffl Medien GmbH
A fita branca
Produção alemã de 2009 dirigida pelo austríaco Michael Haneke, "A fita branca" levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Em preto e branco, ele traça um panorama da sociedade europeia às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o prenúncio de catástrofes iminentes. "Uma história infantil alemã", subtítulo do filme, remete tanto à "violência infantil" como à "infância" do nazismo do país.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Todos os outros
Rituais secretos, brincadeiras, desejos não realizados e jogos de poder permeiam as relações do casal que protagoniza este filme dirigido em 2009 pela cineasta Maren Ade. "Todos os outros", apontado como um dos mais franceses entre os filmes alemães, é um impressionante exercício de observação e sutileza sobre o amor e suas inerentes decepções, das quais ninguém escapa.