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Literatura

Bibliothek: O que ler quando se está aprendendo alemão?

Ricardo Domeneck
16 de maio de 2017

Quando já se tem um conhecimento básico da gramática alemã, alguns livros podem ajudar a acelerar e consolidar o aprendizado. O escritor Ricardo Domeneck oferece sugestões de livros infantis, infanto-juvenis e adultos.

Edição alemã de "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry
Edição alemã de "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-ExupéryFoto: picture-alliance/dpa

Eu tenho um amigo que fala várias línguas. É uma coisa impressionante. Uma vez, conversando com ele sobre sua técnica, ele me disse que tem um tipo de ritual quando começa a aprender outro idioma: assim que tem já um conhecimento básico da gramática e um pequeno vocabulário, ele começa a ler livros infantis naquela língua. 

No caso dele, não importa se o livro foi escrito idioma que está aprendendo. Ele sempre começa, por exemplo, com o mesmo livro: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, publicado em 1943. No nosso caso, Der kleine Prinz. Fiquei pensando em livros que são boa literatura e também acessíveis para quem está aprendendo alemão. 

O escritor Ricardo DomeneckFoto: Amos Fricke

Por causa deste meu amigo, pensei primeiro em literatura infantil, mas que possa ser lida por adultos com prazer. Ler literatura infantil de um país nos ajuda a compreender algumas coisas do lugar. Foi aí que me perguntei: qual seria o equivalente de O Pequeno Príncipe na Alemanha, ou na língua alemã? Escrevi estes dias a vários amigos com esta pergunta: qual a fábula moderna mais famosa da língua alemã? Há uma espécie de equivalente para O Pequeno Príncipe na língua? Os amigos eram sete alemães, dois austríacos e uma suíça.

Todos concordaram que achar um equivalente seria difícil. Mas todos mandaram recomendações. É claro que pensar em literatura infantil em alemão é pensar nos irmãos Grimm e suas fábulas. Afinal, são famosas no mundo todo, tendo gerado muita literatura em resposta a elas. Todos os amigos comentaram ainda que as fábulas alemãs para crianças tendem a ser mais assustadoras do que em outros países, e quem se esquece do Struwwelpeter, de Heinrich Hoffmann, publicado em 1845 com suas dez histórias de crianças que se comportaram mal e então se deram muito mal? Mas estes são clássicos. 

Como foi a literatura infanto-juvenil no século XX? O livro mais mencionado foi com certeza Die unendliche Geschichte (A História sem fim), de Michael Ende, publicado em 1979. Com o filme, talvez seja realmente o livro infanto-juvenil alemão mais conhecido no mundo. Mas não é exatamente uma leitura tão fácil. 

Foto: Beltz & Gelberg

As outras recomendações de meus amigos foram, em ordem cronológica de publicação: Peterchens Mondfahrt (1912), de Gerdt von Bassewitz; Pünktchen und Anton (1931), de Erich Kästner; Eine Woche voller Samstage (1973), de Paul Maar; Oh, wie schön ist Panama (1978), de Janosch, que parece ser o mais querido entre adultos e crianças.

Fora da literatura infanto-juvenil, há alguns livros curtos que são excelentes, com uma linguagem clara e precisa, e que podem ser bons desafios para quem quer começar a ler literatura alemã no original. Um bom exemplo é Wittgensteins Neffe (O sobrinho de Wittgenstein), do austríaco Thomas Bernhard, publicado em 1982. 

Com o subtítulo "Eine Freundschaft" (Uma amizade), esta novela memorialística relata a história da amizade entre o autor e Paul Wittgenstein (1907–1979), sobrinho do filósofo Ludwig Wittgenstein (1889–1951). Membro de uma das famílias mais ricas da Áustria, acompanhamos a vida boêmia dos dois amigos enquanto dura o dinheiro, e a descida à pobreza e à loucura de Paul nos últimos anos de sua vida, completamente abandonado por todos. 

Sendo um livro de Bernhard, é claro que o livro se torna um ataque à hipocrisia da sociedade austríaca, alvo favorito do sarcasmo e ódio do escritor, traçando um retrato do país no pós-guerra a partir desta personagem histórica muito interessante que é o sobrinho de Wittgenstein. Seu tio filósofo escreveu sobre como a linguagem cotidiana é estranha quando começamos a pensar nela. Thomas Bernhard parece partir desse princípio, usando uma linguagem bastante direta, mas tornando-a estranha através de repetições constantes das mesmas palavras e frases.

Para encerrar, como prometido na semana passada, a minha tradução do poema de Erich Fried:

É o que é

É louco
diz a razão
É o que é
diz o amor

É desastroso
diz o cálculo
É só dor
diz o medo
É causa perdida
diz o juízo
É o que é
diz o amor

É ridículo
diz o orgulho
É inconsequente
diz o cuidado
É impossível
diz a experiência
É o que é
diz o amor

Na coluna Bibliothek, publicada às terças-feiras, o escritor Ricardo Domeneck discute a produção literária em língua alemã, fala sobre livros recentes e antigos, faz recomendações de leitura e, de vez em quando, algumas incursões à relação literária entre o alemão e o português. A coluna Bibliothek sucede o blog Contra a capa.