Biden anuncia fim da missão de combate dos EUA no Iraque
27 de julho de 2021
Presidente delineou nova fase da presença americana no país, que ainda envolverá "lidar com o 'Estado Islâmico'". No final de 2021, missão de combate dos EUA terá terminado, quase duas décadas após seu início.
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta segunda-feira (26/07) que seu país encerrará a missão de combate no Iraque até o final do ano, quase duas décadas após seu início, mas que a cooperação para enfrentar o terrorismo continuaria.
Os comentários foram feitos durante reunião do americano com o primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al-Kadhimi, na Casa Branca.
Biden disse que será iniciada uma "nova fase" para os 2.500 militares americanos ainda destacados no país. "Nosso papel no Iraque será ... estar disponível, continuar a treinar, apoiar, ajudar e lidar com o EI à medida que ele surja, mas não estaremos mais, até o final do ano, em uma zona de combate", disse Biden aos jornalistas.
As tropas americanas têm desempenhado um papel ativo na luta contra o chamado "Estado Islâmico" (EI). O novo plano não envolve uma retirada total, e as tropas americanas permanecerão promovendo treinamento, logística e assessoria.
Um oficial dos EUA detalhou nesta segunda "uma nova fase na campanha, em que já completamos a missão de combate contra o 'EI' e passamos para uma missão de consultoria e treinamento até o final do ano".
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Primeiro-ministro enfrenta pressão interna
Al-Kadhimi está sob pressão de grupos armados próximos ao Irã que desejam ver os soldados americanos fora do país. A decisão foi anunciada três meses antes de os iraquianos irem às urnas.
Anos de guerra, insurgência, corrupção e pobreza assolam o Iraque, e manifestantes têm protestado contra a falta de infra-estrutura adequada – os apagões tornaram-se frequentes, agravados pelo calor extremo do verão no país.
O movimento é visto como uma tentativa de al-Kadhimi de conseguir o apoio dos grupos pró-Teerã. Estas milícias têm repetidamente realizado ataques contra as forças americanas, e sofrem retaliações dos EUA.
Especialistas consideram improvável que Biden abandone completamente o Iraque devido à influência do vizinho Irã. "Não parece provável que o número de militares dos EUA no Iraque seja reduzido drasticamente", disse Hamdi Malik, do Washington Institutite, à AFP.
Ramzy Mardini, do Pearson Institute de Chicago, acrescentou que o encontro entre os dois líderes pode ter sido "formatado" para fazer al-Kadhimi parecer bem internamente, sem mudar muito a realidade.
Iraque ainda sob ameaça
O anúncio foi feito enquanto as tropas americanas estão realizando uma retirada total do Afeganistão, 20 anos após a primeira invasão americana no país. O Iraque tem visto rápidos ganhos por parte do Talibã, mesmo antes de as forças de países ocidentais concluírem a sua partida.
O oficial anônimo americano disse que as forças iraquianas foram "testadas em batalha" e são "capazes" de defender seu próprio país.
Al-Kadhimi também expressou sua crença de que as forças de segurança iraquianas possam administrar a situação por conta própria. "Não há necessidade de forças de combate estrangeiras em solo iraquiano", disse ele à agência de notícias Associated Press.
No entanto, o "EI" continua sendo uma ameaça. Na semana passada, uma bomba na beira de uma estrada matou pelo menos 30 pessoas em um mercado em Bagdá.
bl (AP, AFP, Reuters)
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.