A ratificação da lei ocorreu numa cerimônia no gramado da Casa Branca, num evento que contou com 3 mil participantes. No início da cerimônia, o cantor Sam Smith apresentou a famosa canção "Stay With Me", enquanto Cyndi Lauper emocionou o público com "True Colors", um hino da comunidade gay.
A assinatura da lei ocorreu no final do evento. Ao promulgar o projeto, Biden afirmou se tratar de um "passo crucial rumo à igualdade, à liberdade e à justiça, não apenas para alguns, mas para todos".
"Decidir com quem se casar é uma das decisões mais pessoais que alguém pode tomar", salientou o democrata, defendendo que o casamento deve ser resumido a apenas duas perguntas: "Quem você ama?" e "Você será fiel a quem ama?".
O presidente destacou que a nova lei reconhece a todos o direito de responderem a essas perguntas por si próprios, sem interferência do governo.
Com a assinatura, a legislação entra em vigor automaticamente. Ela servirá para proteger também os casamentos interraciais, além das uniões entre pessoas do mesmo sexo, caso a maioria conservadora da Suprema Corte anule as decisões judiciais que protegem esses direitos. Em 1967, a Suprema Corte derrubou leis em 16 estados americanos que impediam o casamento interracial.
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O que diz a lei
A lei foi aprovada pelo Congresso americano na semana passada. Ao proteger os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, ela é considerada um passo monumental numa batalha de décadas pelo reconhecimento de tais uniões.
Aprovada na Câmara dos Representantes por 258 votos a favor e 169 contra, a legislação bipartidária também protege as uniões interraciais ao exigir que os estados reconheçam os casamentos legais independentemente de "sexo, raça, etnia ou origem nacional". Após meses de negociações, o Senado aprovou o projeto na semana passada com 12 votos republicanos.
Especificamente, a lei proíbe qualquer estado de contestar a legalidade de um casamento, independentemente do sexo ou origem das partes, se o casamento for legal no estado em que ocorreu.
Além disso, revoga a Lei de Defesa do Casamento aprovada em 1996 no governo de Bill Clinton (1993-2001) e que estabelecia que o casamento só poderia ocorrer entre um homem e mulher, impedindo o reconhecimento de uniões homossexuais.
A defesa da igualdade no casamento ganhou força depois da Suprema Corte dos EUA ter derrubado em junho a lei Roe versus Wade, que durante quase meio século protegeu o acesso ao aborto.
Apoio da opinião pública
A cerimônia contou ainda com a presença dos líderes democratas do Congresso, Chuck Schumer e Nancy Pelosi, que reconheceram o trabalho de ativistas americanos para mudar a opinião pública em torno do casamento entre pessoas do mesmo sexo e protegê-lo por lei.
"Todos merecem aproveitar da benção mágica de construir uma união com quem se ama", afirmou Pelosi.
A opinião pública nos EUA mudou drasticamente nos últimos anos: em 1996, quando foi assinada a Lei de Defesa do Casamento, apenas 27% dos americanos apoiavam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto em 2022 o apoio era de 71%, segundo uma sondagem da Gallup.
O próprio Biden, que como senador votou a favor daquela lei, mudou a sua posição sobre o assunto nos últimos anos e, como candidato nas eleições de 2020, prometeu defender os direitos da comunidade LGBT.
cn/rk (Efe, Lusa, Reuters)
A homossexualidade na realeza através dos tempos
Holanda anunciou em 2021 que um monarca poderia se casar com um parceiro do mesmo sexo sem ter que abrir mão do direito ao trono. Mas sempre existiram gays, lésbicas e bissexuais na realeza. Relembre alguns casos.
Foto: Instagram: ivar_mountbatten
Príncipe Manvendra Singh Gohil
O príncipe indiano Manvendra Singh Gohil se tornou o primeiro príncipe abertamente gay do mundo ao se declarar homossexual em 2006. A revelação, porém, levou sua família a deserdá-lo rapidamente. Em 2013, ele se casou com seu príncipe encantado nos EUA. Ativista fervoroso dos direitos LGBTQ, hoje ele também educa sobre a prevenção do HIV e até já abrigou LGBTQs em seu palácio.
Foto: Karin Törnblom/Imago Images
Imperador Adriano (76 - 138 DC)
O imperador Adriano pode não ser considerado um rei no sentido moderno, mas foi imperador romano de 117 a 138 d.C. Nesse período, nunca escondeu seu amor pelo jovem grego Antínoo, com quem participava publicamente de cerimônias reais. Quando Antínoo morreu, Adriano ficou tão abalado que pediu que o jovem fosse transformado em deus – uma honra geralmente reservada à família do imperador.
Filipe 1º, duque de Orléans (1640-1701)
Irmão mais novo do rei Luís 14, da França, Filipe 1º jamais escondeu seu jeito afeminado. O duque era famoso por ser "perfumado, adornado com joias e extravagantemente vestido de renda e seda". Filipe teve muitos amantes – homens e mulheres –, mas seu companheiro favorito era um nobre francês da casa ducal de Lorena, com quem permaneceu até o fim da vida.
Foto: Public Domain
Rainha Ana da Grã-Bretanha (1665 - 1714)
A rainha Ana reinou na Grã-Bretanha de 1702 a 1714. Embora casada, seu coração pertencia a Sarah Churchill, uma ancestral de Winston Churchill. O afeto entre ambas está bem documentado em cartas de amor. Quando a rainha decidiu terminar o relacionamento, Churchill tornou pública a sexualidade de Ana. A história foi adaptada no filme "A Favorita".
Foto: National Portrait Gallery, London
Lorde Alfred Douglas (1870 - 1945)
Lorde Alfred Douglas, caso de amor de Oscar Wilde no início do século 20, era filho do marquês de Queensberry. Seu pai repudiava seu relacionamento com o poeta irlandês, tendo acusado Oscar Wilde de sodomia – o que acabaria colocando Wilde atrás das grades. Após os eventos traumáticos, Douglas se casou com uma mulher e repudiou publicamente a homossexualidade de Wilde.
Foto: Imago Images/Leemage
Príncipe Egon von Fürstenberg (1946 - 2004)
O príncipe Egon von Fürstenberg, da Alemanha, foi um socialite, designer e queridinho dos tabloides. Sua bissexualidade sempre foi pública: duas vezes casado com mulheres, não escondia seus parceiros homens. Ao longo da vida, Von Fürstenberg era famoso frequentador da vida noturna gay.
Foto: Holt, Rinehart and Winston
Umberto 2º (1904 - 1983)
Umberto 2º foi o último rei da Itália. Como uma forma de desacreditá-lo, jornais fascistas italianos trouxeram sua homossexualidade a público de forma sensacionalista no final de 1943. Mas após a guerra, logo ele foi nomeado rei novamente até 1946.
Foto: Public Domain
Luisa Isabel Alvarez de Toledo (1936 - 2008)
Luisa Isabel Alvarez de Toledo nunca se preocupou com a reputação familiar – e isso apesar de a Casa de Medina Sidonia, à qual ela pertencia, ser uma das casas ducais mais importantes da Espanha. Ativista dedicada contra a Igreja, ela manteve um relacionamento amoroso com sua secretária por mais de 20 anos. O casamento oficial ocorreu em 2008, com a duquesa em seu leito de morte.
Foto: picture alliance/dpa
Lorde Ivar Mountbatten
Lorde Ivar Mountbatten foi o primeiro membro da realeza britânica a ter uma relação aberta com alguém do mesmo sexo e também o primeiro a se casar com seu parceiro, em 2018. A revelação foi aparentemente bem recebida pela família – a ex-mulher de Mountbatten inclusive o acompanhou até o altar.