Presidente eleito dos EUA tem planos ambiciosos contra o coronavírus, tendo nomeado uma força-tarefa de especialistas, integrada por médica brasileira. Distribuição da vacina e despolitização da máscara serão desafios.
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Joe Biden deixou claro em sua primeira aparição como presidente eleito dos Estados Unidos que o combate à pandemia de coronavírus será sua prioridade número um. "Pessoal, nosso trabalho começa com a tarefa de manter a covid sob controle", disse em seu discurso de vitória no sábado (07/11) à noite em Wilmington, Delaware.
"Não podemos consertar a economia, restaurar nossa vitalidade ou saborear os momentos mais preciosos da vida, abraçando nossos netos, nossos filhos, nossos aniversários, casamentos, formaturas, todos os momentos que mais importam para nós, até que tenhamos isso sob controle."
O presidente eleito prometeu um "plano de ação", a ser implementado assim que ele assumir o cargo, em 20 de janeiro de 2021. "Esse plano será construído com base nos alicerces da ciência", acrescentou Biden. "Será construído com compaixão, empatia e preocupação."
Saber que o próximo presidente dos EUA está aberto aos conselhos de cientistas e profissionais médicos é motivo de alívio.
"Estou muito esperançoso e otimista de que o governo Biden-Harris finalmente montará uma resposta federal baseada na ciência", diz Ashwin Vasan, médico e professor assistente do Centro Médico da Universidade de Columbia, em Nova York. "Sou médico, especialista em saúde pública e epidemiologista. Então, obviamente estou emocionado que [Biden] planeje colocar pessoas com essa experiência no centro de sua equipe e de seu plano de resposta à covid."
Força-tarefa
Biden apresentou uma força-tarefa para combater o coronavírus formada por 13 profissionais com considerável conhecimento e experiência na área médica. Entre seus integrantes está a médica brasileira Luciana Borio, especialista em biodefesa, doenças infecciosas e saúde pública do think tank Council on Foreign Relations.
Borio mora nos EUA desde o fim dos anos 80 e atuou nas gestões de George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump. A especialista chegou a trabalhar como cientista-chefe da agência reguladora de medicamentos e alimentos americana, a Food and Drug Administration (FDA).
Ela também foi diretora de políticas médicas e biodefesa do Conselho de Segurança Nacional, ligado à Casa Branca, cargo que exerceu até seu departamento ser extinto por Trump em 2018. A médica foi então deslocada para outras unidades dentro do órgão e serviu como assessora da Casa Branca até maio de 2019.
A equipe de Biden tem três copresidentes: Vivek H. Murthy, David Kessler e Marcella Nunez-Smith. Murthy foi cirurgião-geral, o maior cargo em saúde na administração pública dos EUA, durante a administração Obama, quando Biden era vice-presidente, e Kessler foi chefe da FDA sob os presidentes George H. W. Bush e Bill Clinton. Ambos têm mantido o presidente eleito informado sobre a pandemia há meses. Nunez-Smith é reitora associada de pesquisa de equidade em saúde na Universidade de Yale.
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Desafio logístico
A força-tarefa tem muito trabalho pela frente. Os EUA têm um total de mais de 10 milhões de casos de coronavírus e recentemente registrou mais de 100 mil novos casos por dia – mais do que durante o pico inicial da pandemia.
Uma boa notícia foi o anúncio, na segunda-feira, da empresa alemã Biontech e da sua parceira americana Pfizer de que a vacina que desenvolvem para covid-19 provou ser 90% eficaz na fase 3 em curso. Mas um sucesso na fase de testes hoje não quer dizer que haverá vacinas para todos amanhã. E o desafio também não acaba com a fabricação do inoculante.
"Uma das coisas mais importantes que o presidente eleito deve fazer é desenvolver um programa de distribuição de vacinas que seja eficiente e equitativo", diz o médico Vasan, que também é chefe da organização para saúde mental Fountain House, em Nova York.
"Produção e distribuição são grandes desafios pela frente. O governo federal precisa não só garantir que as vacinas estão sendo feitas, mas também distribuí-las de forma racional, focando primeiro nos trabalhadores essenciais, altamente expostos e em pessoas de risco. Somente o governo federal pode implementar isso."
O site da equipe de transição de Biden afirma que a administração dele e da vice Kamala Harris vai "planejar a distribuição eficaz e equitativa de tratamentos e vacinas – porque o desenvolvimento não é suficiente se não for distribuído de forma eficaz".
"Máscaras podem salvar vidas"
A outra grande tarefa é despolitizar o uso de máscaras. Atualmente, existe uma colcha de retalhos de regras que variam de estado para estado. Em estados governados por republicanos, como Dakota do Sul, por exemplo, não é incomum não ver uma única pessoa usando máscara. Em outros lugares, como na capital Washington, o uso de máscara é obrigatório assim que a pessoa sai de casa, e a maioria dos cidadãos segue a regra.
"Especialistas concordam que dezenas de milhares de vidas podem ser salvas se os americanos usarem máscaras", diz o site da equipe de transição de Biden. "O presidente eleito Biden continuará a pedir a todos os americanos que usem máscara quando estiverem perto de pessoas fora de suas casas [e] que todos os governadores tornem isso obrigatório em seu estado."
Vasan diz ser a favor de uma política de uso de máscara unificada. Biden tem usado uma cobertura de nariz e boca em todas as aparições públicas desde o início da pandemia, em total contraste com o presidente Donald Trump, que só apareceu usando máscara em público pela primeira vez em julho, quando a cifra oficial de mortes no país superava 134 mil.
O médico nova-iorquino afirma que teria que haver um aumento na produção de equipamentos de proteção individual para que a obrigatoriedade de máscara em nível nacional funcione, mas está otimista. "Temos falado desde o início da pandemia sobre as habilidades especiais que o governo federal tem para direcionar a indústria para uma produção específica, mas isso nunca foi totalmente implementado pelo atual governo", diz Vasan.
Ele reconhece que produzir equipamentos de proteção em tamanha escala não será fácil, mas sob um governo federal com determinação isso pode ser feito. "No momento, eles estão tomando todas as medidas corretas. É muito bom poder ter uma conversa substantiva sobre como enfrentar a pandemia em vez de lutar essas batalhas caóticas e mal informadas sobre até mesmo a natureza básica dessa pandemia."
Vasan continua: "Estamos entrando no período mais difícil da pandemia aqui nos Estados Unidos. Temos muito o que fazer, independentemente de quem está no comando. Agora tenho esperança de que o meio político não atrapalhe, mas que seja realmente um catalisador e um acelerador para uma reação forte."
Celebridades e políticos que testaram positivo para covid-19
Várias estrelas de cinema contraíram o coronavírus. A doença varreu a elite política global e afetou também os melhores atletas.
Foto: Joshua Roberts/Reuters
Emmanuel Macron
O presidente da França foi diagnosticado com o coronavírus dias depois de uma cúpula dos líderes da União Europeia, o que levou várias autoridades do bloco a adotarem o isolamento. Nos dias que antecederam o resultado, ele se reuniu também com lideranças políticas da França e membros de seu gabinete. Seus assessores disseram que ele mantém estilo de vida saudável e se exercita regularmente.
Foto: Lewis Joly/AP Photo/picture alliance
Donald Trump
Após menosprezar a doença durante meses, o presidente dos Estados Unidos confirmou que ele e a primeira-dama, Melania Trump, estavam infectados com o coronavírus em plena reta final de sua campanha à reeleição. Trump raramente aparecia em público usando máscaras de proteção e ignorou em diversas ocasiões os alertas das autoridades de saúde.
Foto: picture-alliance/CNP/A. Drago
Andrzej Duda
O presidente da Polônia, Andrzej Duda, testou positivo para o coronavírus, anunciou um porta-voz no dia 24 de outubro. Dias antes, ele esteve em um fórum de investimento na Estônia, onde se encontrou com o presidente búlgaro, Rumen Radev, que entrou em isolamento profilático depois de ter contato com alguém infectado em seu país de origem. No entanto, não foi confirmado como Duda se contaminou.
Foto: Photoshot/picture-alliance
Andrea Bocelli
O tenor italiano Andrea Bocelli testou positivo para o novo coronavírus em março. Ele relatou que teve apenas febre leve, e no mês seguinte, já fez uma apresentação na Catedral de Milão, vazia devido às regras de restrição.
Foto: Getty Images/S.Legato
Robert Pattinson
O ator, de 34 anos, mais conhecido por estrelar como o vampiro Edward Cullen na saga cinematográfica "Twilight", testou positivo para covid-19, obrigando a produção de "The Batman" a uma pausa apenas três dias depois de ter retomado trabalhos. Pattinson, que também foi Cedric Diggory na adaptação cinematográfica de "Harry Potter e o cálice de fogo", sucede Ben Affleck como o Homem Morcego.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/E. Chesnokova
Dwayne 'The Rock' Johnson
O lutador que virou estrela de cinema se tornou uma das mais recentes celebridades a contraírem covid-19. Em um vídeo no Instagram, Johnson revelou que ele, sua esposa e duas filhas testaram positivo — acrescentando que ele teve "uma experiência difícil" com os sintomas. Ele também pediu às pessoas que parem de "politizar" a pandemia e "usem máscara".
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Shotwell
Neymar
O craque brasileiro é um dos três jogadores do PSG a contraírem o vírus, informou a agência de notícias AFP em 2 de setembro. Acredita-se que o surto no clube esteja relacionado a uma viagem de férias que o time fez à ilha espanhola de Ibiza. Posteriormente, Neymar postou uma foto no Instagram com seu filho, que também supostamente testou positivo: "Obrigado pelas mensagens. Estamos todos bem".
Foto: Getty Images/AFP/D. Ramos
Silvio Berlusconi
O ex-premiê italiano de 83 anos testou positivo para o vírus e estaria assintomático, segundo anúncio de seu médico em 2 de setembro. Dois dos filhos de Berlusconi e sua namorada de 30 anos também testaram positivo. O ex-premiê testou positivo depois de passar férias na costa da Sardenha, onde os ricos e famosos da Itália costumam desdenhar das políticas de restrição.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Vojinovic
Usain Bolt
A lenda do atletismo Usain Bolt testou positivo poucos dias depois de realizar uma festa para comemorar seu 34º aniversário no final de agosto. O detentor do recorde para os 100 e 200 metros rasos disse que entrou em quarentena, mas que não estava exibindo sintomas. Vídeos da festa de aniversário ao ar livre de Bolt mostraram convidados sem máscaras durante a celebração.
Foto: Reuters/M. Childs
Antonio Banderas
O ator espanhol teve uma surpresa indesejável em seu 60º aniversário em meados de agosto, depois de um teste positivo para o coronavírus. Banderas disse que passou seu aniversário isolado e que estava "mais cansado do que de costume", mas "esperando se recuperar o mais rápido possível".
Foto: picture-alliance/Captital Pictures
Jair Bolsonaro
O presidente brasileiro, que repetidamente minimizou a gravidade da pandemia, contraiu o vírus em julho. Ele foi criticado por ignorar as medidas de segurança recomendadas por especialistas em saúde antes e depois de seu diagnóstico, incluindo apertar as mãos e abraçar apoiadores na multidão. Sua mulher, Michelle, e os filhos Jair Renan e Flávio também testaram positivo.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Tom Hanks
O ator Tom Hanks e sua mulher, a atriz e cantora Rita Wilson, foram algumas das primeiras celebridades a anunciar que contraíram o vírus. O casal testou positivo para a covid-19 em meados de março, quando estava na Austrália. Depois de se recuperar e retornar aos Estados Unidos, Hanks defendeu que as pessoas façam sua parte para retardar a propagação da doença.
Foto: picture-alliance/AP/Invision/J. Strauss
Sophie Gregoire Trudeau
Sophie Gregoire Trudeau, mulher do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, testou positivo para coronavírus depois de retornar do Reino Unido em meados de março. O marido dela anunciou ter se isolado na residência oficial, mesmo sem apresentar sintomas da enfermidade.
Foto: Reuters/P. Doyle
Boris Johnson
No final de março, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, contraiu o coronavírus que o levou ao hospital por vários dias. Johnson passou uma semana em um hospital em Londres e três noites na UTI, onde recebeu oxigênio e foi observado 24 horas por dia. Ele teve alta em meados de abril, e os funcionários do hospital receberam o crédito de ter salvado sua vida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Dawson
Ambrose Dlamini
O primeiro-ministro de Essuatíni (antiga Suazilândia), Ambrose Dlamini, contraiu o coronavírus e morreu em decorrência da covid-19, em dezembro de 2020. Ele tinha 52 anos e chegou a ser internado em um hospital da África do Sul, mas não resistiu.
Foto: RODGER BOSCH/AFP
Hamilton Mourão
O vice-presidente, Hamilton Mourão, anunciou no final de dezembro de 2020 que havia testado positivo para a covid-19. Ele ficou 12 dias em isolamento no Palácio do Jaburu, em Brasília. Antes de receber o diagnóstico, o vice-presidente teve dor no corpo, dor de cabeça e febre que não passou de 38 graus. Em março de 2021, ele recebeu a primeira dose da Coronavac.
Foto: Sergio Lima/AFP
Larry King
O lendário apresentador de TV americano Larry King morreu em janeiro de 2021, em decorrência da covid-19. Ele tinha 87 anos e comandava um tradicional programa de entrevistas na CNN há mais de duas décadas.
Foto: Radovan Stoklasa/REUTERS
Alberto Fernández
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, de 62 anos, anunciou no começo de abril de 2021 que contraiu o coronavírus. Segundo a Unidade Médica Presidencial, ele não teve sintomas, graças à imunização pela vacina russa Sputnik V, recebida dois meses antes.