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Bienal de Veneza reavalia modernidade

Sabine Oelze (av)7 de junho de 2014

Holandês Rem Koolhaas, diretor da 14ª edição do evento, é defensor dos aspectos radicais e "feios" das metrópoles, na teoria e na prática. Pavilhão Alemão investiga o papel da arquitetura na representação estatal.

Foto: CLA/Foto: Bas Princen

A 14ª Bienal de Arquitetura de Veneza abre as suas portas neste sábado (07/06). Um aspecto inédito da edição atual é que sua duração foi dobrada, estendendo-se até 23 de novembro de 2014.

Neste ano, outra novidade na história da Bienal de Arquitetura de Veneza é que os países participantes terão um tema comum: Absorbing Modernity 1914-2014 (Absorvendo a modernidade), proposto pelo diretor da 14ª edição, Rem Koolhaas. Trata-se de uma novidade bastante especial, pois o evento – que se alterna anualmente com a Bienal de Arte – inclui normalmente um concurso, de que todos os países participam.

Os suíços Savvas Ciriacidis e Alex Lehnerer estão encarregados da curadoria da mostra no Pavilhão Alemão. Construído em 1909, ele foi reformado pelo regime hitlerista em 1938, como um manifesto da arquitetura nacional-socialista. A dupla de arquitetos pretende, contudo, transformar o local num "Bungalow Germania".

Para tal, combinaram a estrutura do pavilhão com o assim chamado "Kanzlerbungalow" (Bangalô do chanceler federal), na antiga capital alemã Bonn. Projetado em 1964 por Sepp Ruf, a residência e mansão representativa do chefe de governo da Alemanha foi considerada durante décadas a "sala de estar da nação".

"Kanzlerbungalow", o original, em BonnFoto: DW/M. Todeskino

No entanto, caiu no esquecimento quando a capital alemã foi transferida para Berlim, em 1999.

"Essas duas linhas narrativas dos últimos cem anos – a da nação e, ligada a ela, a da arquitetura enquanto disciplina – nós queremos fazer confluir em Veneza. Mas não como uma coleção cronológica, com início e fim, mas sim como construção e encenação de um momento arquitetônico especial."

Assim Lehnerer e Ciriacidis definem seu ponto de partida curatorial, voltado a iluminar criticamente a representação oficial do Estado pela arquitetura. "Cada prédio coloca em questão os mitos do outro. Que sentido tem, por exemplo, o vidro transparente do bangalô, se não cumprir sua promessa de vista panorâmica e amplitude, mas sim fazer o olhar colidir com a nudez da parede branca do pavilhão?", provocam os curadores.

Em Veneza: Bungalow Germania dos curadores Ciriacidis e LehnererFoto: CLA/Foto: Bas Princen

Diretor Rem Koolhaas, pensador moderno

A Bienal de Arquitetura nunca registrou tantos participantes quanto em 2014. Dez países virão a Veneza pela primeira vez, entre eles a Costa Rica, Costa do Marfim, Moçambique e Quênia.

Esse olhar mais global sobre a atividade arquitetônica combina com o perfil do atual diretor, Rem Koolhaas, considerado um dos mais interessantes pensadores contemporâneos do setor. Desde 1980, quando criou seu prestigioso Office for Metropolitan Architecture (OMA), o holandês de 69 anos de idade tem coordenado projetos por todo o mundo.

Entre estes contam: o Nederlands Dans Theater em Haia; o Nexus World Housing, em Fukoaka, Japão; a Villa dall'Ava de Paris; a Kunsthal Rotterdam; o centro de congressos e exposições Euralille; a reforma de um banco de Nova York como nova sede do Second Stage Theater; o edifício da diretoria dos Universal Studios em Hollywood; a Casa da Música no Porto; a Villa Lemoine, perto de Bordeaux, projetada especialmente para usuários de cadeiras de rodas; a Embaixada da Holanda em Berlim; ou o Museu Guggenheim em Las Vegas.

Como teórico e urbanista, Koolhaas é um entusiasta das metrópoles, em seus aspectos extremos, radicais e mais feios: restaurantes drive-in, estacionamentos, shopping-centers. Ele considera as cidades sem características próprias como o cumprimento da promessa da modernidade.

Arquiteto Rem Koolhaas, diretor da 14ª edição da Bienal, é um dos grandes nomes do pensamento arquitetônico contemporâneoFoto: picture-alliance/dpa

Aquilo que para os pessimistas culturais evoca cenários de horror – como a ausência de um centro e de proporção, ou o alastramento não planejado das cidades –, Koolhaas interpreta como mensagens da salvação.

Sua fórmula de economia de espaço é "empilhar e condensar": relegar os automóveis aos subterrâneos, para que os pedestres possam utilizar melhor as áreas públicas; por cima ficam as lojas e residências. E pelo espaço urbano ele semeia surpreendentes conexões ou separações entre os diferentes níveis.

As utopias da era moderna se refletem de formas diversas no pensamento e na prática de Rem Koolhaas. Contudo ele aponta que, paradoxalmente, o moderno se dilui cada vez mais. "A modernidade chegou à China e outros países. Ela não nos pertence mais", disse na coletiva de imprensa da bienal.

Esse é mais um aspecto de interesse no reprocessamento dos desenvolvimentos arquitetônicos nos diversos países participantes. Porém o que mais interessa a Koolhaas, segundo suas próprias palavras, não são os atos de arquitetos isolados, mas sim a linguagem da arquitetura em si.

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