1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
ArteItália

Bienal de Veneza sob o signo da guerra no Oriente Médio

Stefan Dege
20 de abril de 2024

Dirigido pelo brasileiro Adriano Pedrosa, festival de arte reflete os conflitos no resto do mundo. Palestinos exigem exclusão de Israel; África quer descolonização. Francisco é primeiro papa a visitar a Bienal.

Aviso diante do pavilhão de Israel na Bienal de Veneza 2024
Pavilhão de Israel em Veneza: "os artistas só abrirão a mostra quando for alcançado um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns"Foto: Luca Bruno/AP Photo/picture alliance

A Bienal de Veneza é um dos festivais internacionais de artes plásticas mais prestigiosos do mundo. Em 2024, ela se realiza de 20 de abril a 24 de novembro, paralelamente à Documenta de Kassel. Na edição anterior, a cidade italiana dos canais bateu recordes, atraindo mais de 800 mil amantes das artes, dois terços vindos do exterior.

Bienal de Veneza faz história com destaques femininos

13:26

This browser does not support the video element.

Na 60ª edição, o exacerbamento do conflito no Oriente Médio confere uma nova tensão ao evento. Um coletivo de ativistas pró-palestinos, Art Not Genocide Alliance (ANGA – Aliança Arte Não Genocídio) tem reivindicado a exclusão de Israel. Em carta aberta, criticou os "padrões duplos" dos organizadores que, tendo condenado a guerra de agressão russa na Ucrânia, agora silenciam sobre as operações militares de Israel na Faixa de Gaza. O documento online já reúne quase 24 mil signatários.

A Bienal rejeitou os apelos por boicote: seus curadores já teriam decidido sobre a concepção e os participantes da exposição central muito antes dos atentados de 7 de outubro de 2023 em solo israelense pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas, que suscitaram a retaliação em Gaza.

Desde início da guerra contra a Ucrânia, pavilhão russo está fechadoFoto: Antonio Calanni/AP Photo/picture alliance

Israel protesta, pavilhão da Rússia segue vazio

Mas agora as portas do pavilhão israelense permanecerão fechadas, de qualquer modo. A artista que o protagoniza, Ruth Patir, nascida em Nova York em 1984, anunciou em nota, na terça-feira (16/04), que a mostra só será inaugurada "quando for alcançado um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns".

"A decisão da artista e dos curadores é não se cancelarem, nem a exposição; em vez disso optaram por assumir uma posição de solidariedade com as famílias dos reféns e a ampla comunidade que está exigindo mudança em Israel", consta do website de Patir. Israel mantém desde 1950 um pavilhão nacional em Veneza.

A obra M/otherLand (um jogo de palavras entre "Terra-Mãe" e "Outra terra") contém uma instalação de vídeo com antigas estatuetas de museu: "mulheres quebradas voltam à vida e participam de uma procissão, numa expressão pública coletiva de luto, dor e cólera. O ponto de vista da câmera é o de um observador ou testemunha da cena, alegando, portanto, uma visão subjetiva, corpórea, dos eventos mundiais."

Enquanto isso, o pavilhão permanente da Rússia ficará mais uma vez vazio. A Bienal não excluiu o país oficialmente, mas após a invasão em ampla escala da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, os artistas e curadores russos selecionados renunciaram a participar sob a bandeira nacional. A Ucrânia está presente com a mostra coletiva Net making (Fabricação de redes).

"Estrangeiros por toda parte" em 53 idiomas, na instalação do coletivo parisiense Claire FontaineFoto: Galerie Neu, Berlin

Estrangeiros por toda parte, luz sobre a descolonização

Intitulada Stranieri ovunque – Foreigners everywhere, a mostra principal tem curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, que é o primeiro diretor da Bienal de Veneza proveniente do Sul Global. Sua meta é mostrar arte de regiões menos privilegiadas e menos industrializadas.

Assim, o foco primário da mostra – que se estende pelo parque Giardini della Biennale, os galpões do estaleiro histórico Arsenale e outras locações da cidade na Laguna – são "artistas, eles mesmos, estrangeiros, expatriados, diaspóricos, émigrés, exilados ou refugiados", explicou Pedrosa em comunicado.

O título da 60ª edição, da qual participam 330 artistas, inspira-se num trabalho do coletivo parisiense Claire Fontaine, apresentando o slogan "Estrangeiros por toda parte" em 53 idiomas diferentes, em letreiros de neon que agora iluminam o Arsenale. Lá também a maioria dos 88 países que não tem pavilhão próprio apresenta suas exposições.

Quatro nações estreiam em 2024 no mais antigo festival de arte do mundo: Benin, Etiópia, Tanzânia e Timor-Leste; enquanto Nicarágua, Panamá e Senegal terão pela primeira vez seu pavilhão. O continente africano tem reforçado de maneira especial sua presença em Veneza: Gana e Madagascar estrearam em 2019, Uganda, Camarões e Namíbia seguiram-se em 2022.

Antes da abertura da edição, o curador do Benin, o crítico de arte nigeriano Azu Nwagbogu, declarou à imprensa que pretende lançar nova luz sobre a descolonização da arte: além da restituição de objetos, ele quer promover uma "restituição de saber". Com a ajuda de uma "biblioteca de resistência", pretende dar voz às mulheres em temáticas como identidade africana, ecologia e ciência.

Indagado se acha que as vozes africanas estão suficientemente representadas em Veneza, ele disse que "gostaria de ver muitas mais": "mais importante, eu gostaria de ver mais infraestrutura cultural construída e apoiada no continente [europeu] e mais apoio àqueles eventos imponentes que já construímos por toda a África".

Alemanha "no limiar", estreia do papa

Paredes vazias e grandes ideias no pavilhão da Alemanha

03:08

This browser does not support the video element.

Entre os 28 pavilhões permanentes nos Giardini, o programa da Alemanha abre com uma instalação do diretor de teatro Ersan Mondtag, de Berlim, e do artista israelense Yael Bartana: sob o título Thresholds (Limiares), eles empreendem uma exploração do passado e do futuro inspirada por diversos conceitos artísticos.

A curadora alemã em 2024 é a arquiteta natural de Istambul Çağla Ilk, codiretora do salão de arte Kunsthalle Baden-Baden. Quanto ao título da mostra, ela explica que no limiar "não há certeza sobre nada".

Por sua vez, o Vaticano é responsável por uma das exposições que mais despertam atenção em 2024: seu pavilhão se localiza no presídio feminino de Veneza, dentro do qual detentas acompanharão os visitantes num itinerário artístico. O papa Francisco prometeu visitar o pavilhão, como primeiro pontífice na Bienal de Veneza em toda a história do evento.

Mural do coletivo indígena Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), da Amazônia, na entrada da Bienal 2024Foto: Felix Hörhager/dpa/picture alliance

Indígenas: estrangeiros em sua própria terra

O pavilhão do Brasil exibirá a exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, de Glicéria Tupinambá e convidadoscom curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. Durante a mostra, o local será renomeado para Pavilhão Hãhãwpuá, termo dos Pataxó para o território que, depois da colonização, ficou conhecido como Brasil, mas que já teve muitos outros nomes.

A exposição brasileira destaca a memória da floresta, da capoeira e dos pássaros camuflados, como uma metáfora das lutas dos povos indígenas brasileiros e suas estratégias de ressurgimento e resistência.

A artista Glicéria Tupinambá traz a perspectiva do tema geral da Bienal, "estrangeiros por toda parte", para a realidade dos povos indígenas do Brasil, cuja história inclui séculos de marginalização em seu próprio território.

Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque