"Bingo" é escolhido para representar Brasil no Oscar
15 de setembro de 2017
Longa de Daniel Rezende desbanca grande vencedor de Gramado e disputará vaga por uma indicação a melhor filme em língua estrangeira. Drama conta história de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo.
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O filme Bingo – O rei das manhãs, com direção de Daniel Rezende, foi escolhido o representante brasileiro na disputa por uma vaga entre os cinco indicados a melhor filme em língua estrangeira do Oscar 2018. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (15/09) pela Academia Brasileira de Cinema.
O longa é inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo na televisão na década de 1980. O ator Vladimir Brichta vive o baiano, que, apesar da fama de seu personagem, não era reconhecido pelo público, levando-o à frustração e ao envolvimento com drogas.
Bingo, que estreou nos cinemas brasileiros em 24 de agosto, concorria com outros 22 longas nacionais, incluindo Elis, de Hugo Prata, sobre a cantora Elis Regina, Joaquim, de Marcelo Gomes, sobre Tiradentes, e O filme da minha vida, de Selton Mello, que também agradou críticos.
Como nossos pais, de Laís Bodanzky, que teve sua estreia internacional no Festival de Berlim em fevereiro e foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado, era um dos preferidos à indicação, segundo apostas de críticos, mas foi desbancado.
Jorge Peregrino, vice-presidente da Academia Brasileira de Cinema e chefe da comissão que escolheu o filme, afirmou que a lista de longas apresentados neste ano mostrou muita qualidade, mas Bingo superou expectativas.
O cineasta João Daniel Tikhomiroff, também membro da comissão, disse que foram levados em conta quesitos como universalidade, linguagem cinematográfica e compreensão internacional.
"Bingo preenche todos os quesitos. Além de ser extremamente bem estruturado, com roteiro, elenco e edição, é muito bem feito. Ele nos deixou bastante impactados, e esse é o primeiro critério que focamos", afirmou.
O anúncio nesta sexta-feira teve atraso de mais de uma hora. Segundo Tikhomiroff, isso aconteceu porque houve divergências entre membros da comissão. "Foi difícil escolher. Havia obras muito relevantes. Tínhamos pelo menos três ou quatro filmes que poderiam representar o Brasil."
A seleção final dos cinco concorrentes na categoria de melhor filme em língua estrangeira ainda será definida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Alguns países já enviaram suas indicações, como Alemanha, com In the fade, de Fatih Akin, e Suécia, com The Square, de Ruben Ostlund, que levou a Palma de Ouro em Cannes. Também está na disputa o vencedor do Urso de Ouro em Berlim, On body and soul, de Ildiko Enyedi, da Hungria.
O anúncio dos finalistas em todas as categorias está marcado para 23 de janeiro do próximo ano, enquanto a cerimônia de premiação ocorre em 4 de março, em Los Angeles. O Brasil não disputa a categoria de filme estrangeiro desde 1999, com Central do Brasil, de Walter Salles.
EK/abr/ots
O cinema entre a Alemanha e o Brasil
A DW selecionou alguns filmes que abordam a interseção cultural entre Brasil e Alemanha.
Foto: João Ricardo
A outra pátria
Dirigido por Edgar Reitz (2013), "A outra pátria" fala da onda de emigração de alemães da região do Hunsrück para o Brasil entre os anos de 1842 e 1845, em fuga da pobreza e da fome. O longa-metragem é uma espécie de prólogo da conhecida série "Heimat" (palavra alemã para pátria ou lugar de origem), série dirigida por Reitz com mais de 15 horas de duração sobre a história alemã.
Filme dirigido por Maria Schrader, "Vor der Morgenröte" (Antes da aurora, 2016) retrata os últimos anos de vida de Stefan Zweig. Dividido em seis episódios, o longa reconstrói o exílio do escritor austríaco no Brasil, após sua fuga do nazismo na Europa. Zweig, que acabou se suicidando em Petrópolis, em 1942, oscilava entre a gratidão pela acolhida no Brasil e a nostalgia de um tempo passado.
Foto: X Verleih AG
Muito romântico
Melissa Dullius e Gustavo Jahn atravessam o Oceano Atlântico, em um navio de carga rumo a Berlim, na busca de novas experiências. Na transição lenta, o casal passa o tempo lendo e fotografando. "Muito romântico" (2016) mistura lembranças e encenações, tendo Berlim, cidade em constante transformação, como centro da narrativa construída a partir da perspectiva romântica e singular dos cineastas.
Foto: Distruktur
Outro Sertão
Documentário de 2013 sobre João Guimarães Rosa como diplomata na Alemanha sob o regime nazista. O filme, dirigido por Soraia Vilela e Adriana Jacobsen, resgata a estada do então diplomata em Hamburgo (1938-1942) e traz depoimentos de judeus que deixaram a Alemanha e emigraram para o Brasil naquele momento. Destaque é uma entrevista inédita de Guimarães Rosa à TV alemã, concedida em 1962.
Foto: Outro Sertão
Walachai
O documentário (2011) parte da experiência pessoal da diretora Rejane Zilles em um vilarejo de descendentes de imigrantes alemães, que resistem às mudanças do tempo, mantendo as raízes culturais e o dialeto do Hunsrück, região do oeste alemão. A diretora volta ao povoado e reúne mais de 40 horas de depoimentos entre os moradores, selecionados em quase uma hora e meia de documentário.
Foto: João Ricardo
Praia do futuro
Dirigido por Karim Aïnouz, diretor brasileiro que vive em Berlim, o filme foi rodado em Berlim, Fortaleza e na costa alemã do Mar do Norte. Lançado em 2014, o longa-metragem conta a história de amor entre o salva-vidas Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick).
Foto: Alexandre Ermel
Menino 23
O documentário "Menino 23", de Belisário Franca, tem como ponto de partida as investigações do historiador Sidney Aguilar Filho sobre tijolos marcados com a suástica nazista, encontrados no interior do Brasil, que revelam a história de meninos órfãos e negros, vítimas de um projeto criminoso de eugenia. Aloizio Silva, o "menino 23", sobreviveu até os 93 anos.
Foto: Globo Filmes/Menino23
Cinema, aspirinas e urubus
Com direção de Marcelo Gomes, o filme de 2005 narra a história de um alemão que, em fuga da Segunda Guerra Mundial, vai trabalhar como vendedor de aspirinas no sertão nordestino. As aspirinas são, porém, uma forma de viabilizar a exibição de filmes promocionais nos vilarejos. No caminho, o protagonista encontra um nordestino que tenta seguir para o Rio de Janeiro e o encontro muda a vida de ambos.
Foto: Divulgação/Presse
Ilha dos esquecidos
Longa-metragem de 1999, dirigido por Thomas Keller e Andreas Weiser, é um filme sobre o presídio que existiu na Ilha Grande (Rio de Janeiro) até o ano de 1994. O documentário resgata a história dos moradores do lugar, que eram obrigados a aceitar as limitações constantes da ilha que servia de sede a uma penitenciária, para logo depois terem que aprender a lidar com a nova liberdade.
Foto: Andreas Weiser
Os Mucker
"Os Mucker" (1978), de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, recria os acontecimentos da revolta na gaúcha Ferrabraz, no século 19, quando um movimento de caráter religioso, formado por imigrantes alemães e liderado por Jacobina Mentz Maurer, foi combatido por tropas do Exército Imperial. O filme, primeira coprodução entre Brasil e Alemanha, relembra esse episódio negado pela historiografia oficial.