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HistóriaAlemanha

Bismarck e o 2º Império

5 de abril de 2013

A Revolução Francesa contribuiu para a queda do Sacro Império em 1806. Uma nova unificação política só foi possível em 1871, graças ao progresso econômico registrado a partir de meados do século 19.

Otto Count Bismarck (1815-1898)
Otto von BismarckFoto: Ullstein

O impacto da Revolução Francesa – que em 1789 proclamou Liberté, Egalité, Fraternité na França, eliminando a ordem social feudal e promovendo a separação de poderes – foi o que faltava para fazer desmoronar o Sacro Império Romano de Nação Germânica. Os ideais revolucionários ouvidos na França não chegaram a se alastrar na Alemanha devido à estrutura federalista do império. Mas as ofensivas militares desencadeadas pela revolução tiveram amplo efeito sobre a região.

A Prússia e a Áustria resolveram intervir nos acontecimentos do país vizinho e acabaram provocando uma contraofensiva das tropas revolucionárias. Atacado pelo exército de Napoleão Bonaparte, que se considerava herdeiro da Revolução Francesa, o Sacro Império sucumbiu definitivamente, e a França anexou a margem esquerda do rio Reno.

Essa reorganização territorial deu-se às custas dos principados menores e dos religiosos. Os estados de porte médio foram os grandes beneficiados, unindo-se em 1806 na Liga Renana (ou Confederação do Reno), sob o protetorado francês. No mesmo ano, o imperador Francisco 2º abdicou da coroa, pondo fim ao Sacro Império Romano de Nação Germânica. A necessidade de expulsar os invasores franceses acabou dando asas ao espírito nacional, e um novo movimento nacional culminou nas Guerras de Libertação.

A Alemanha, contudo, não ficou imune às grandes transformações sociais vindas da França e acabou instituindo a sociedade burguesa. Reformas, como a abolição da vassalagem, a liberdade profissional, a autonomia municipal, a igualdade perante a lei e o serviço militar obrigatório, foram implementadas inicialmente nos estados da Liga Renana e mais tarde também na Prússia, dando continuidade à reforma judicial e outras obras avançadas realizadas no século anterior por Frederico, o Grande (1740–1786), um legítimo representante do despotismo esclarecido.

A Liga Alemã

Seguro-saúde para trabalhadoresFoto: picture alliance / akg-images

Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena (1814–1815) estabeleceu uma nova ordem na Europa. Porém, as aspirações de muitos alemães a um Estado nacional livre e homogêneo não se concretizaram. A Liga Alemã, que substituiu o antigo império, era uma união de estados soberanos pouco coesos. O único órgão, a Dieta de Frankfurt, não era um parlamento eleito, e sim um congresso de delegados. A Liga Alemã só podia agir com o beneplácito das duas grandes potências Prússia e Áustria. Nas décadas seguintes, a Liga reprimiu todas as tentativas de unificação e liberdade.

O desenvolvimento econômico incipiente trazia modernidade, contrariando essas tendências retrógradas. Em 1834, foi fundada a União Alfandegária Alemã, que implantou um mercado nacional uniforme. Em 1835, foi inaugurada a primeira estrada de ferro. Começava a industrialização. Com as fábricas, formou-se uma nova classe operária fabril. No entanto, o forte crescimento demográfico levou a um excedente de mão de obra. Como não havia legislação previdenciária ou trabalhista, a massa dos operários vivia na miséria.

A Revolução de 1848

A revolução de fevereiro de 1848 na França teve eco imediato na Alemanha, ao contrário do que acontecera com a Revolução Francesa. Em março, insurreições populares em todos os estados da federação obrigaram os amedrontados príncipes a fazerem grandes concessões. Em maio, reuniu-se a Assembleia Nacional em Frankfurt. O arquiduque austríaco João foi eleito regente do império.

O centro liberal, que visava a uma monarquia constitucional com direito eleitoral limitado, era a força dominante na Assembleia. Contudo, a excessiva fragmentação partidária dificultava o trabalho legislativo. A classe política estava dividida entre a chamada "grande solução" e a "pequena solução", ou seja, um império alemão com ou sem a Áustria.

Afinal, foi aprovada uma Constituição democrática, na qual se tentava conjugar o velho com o novo. Ela previa que o governo prestasse contas ao Parlamento. Como a Áustria insistisse em incorporar ao futuro império todo o seu território, composto de mais de uma dúzia de povos, venceu a tese da pequena solução.

A Assembleia Nacional ofereceu ao rei da Prússia, Frederico Guilherme 4º, a coroa hereditária do Império Alemão. Mas o soberano não aceitou a dignidade de imperador concedida por uma revolução. Em maio, fracassaram os levantes populares que pretendiam impor a Constituição "de baixo para cima". Selada a derrota da revolução alemã, a maioria das conquistas foram anuladas e em 1850 foi restabelecida a Liga Alemã.

A ascensão de Bismarck

O grande progresso econômico registrado em meados do século 19 trabalhou a favor da unificação, tornando a Alemanha um país industrial, com destaque para a indústria pesada e a construção de máquinas. Na vanguarda desse desenvolvimento estava a Prússia.

A riqueza econômica, por sua vez, fortalecia a consciência política da burguesia liberal. O Partido Progressista Alemão, fundado em 1861, tornou-se a principal força no Parlamento da Prússia, opondo-se muitas vezes ao governo.

Empossado em 1862 como chanceler, Otto von Bismarck aceitou o desafio de governar contra o Parlamento e sem um orçamento por ele aprovado. Para impor a cobrança de novas taxas, e assim financiar a reforma militar que pretendia fazer, recorreu a medidas repressivas, como a censura da imprensa e a restrição ao direito de reunião.

Os êxitos na política exterior compensaram a fraca posição de Bismarck na política nacional. Ao vencer a guerra contra a Dinamarca (1864), a Alemanha obteve os territórios de Schleswig e Holstein, no norte, passando a administrá-los conjuntamente com a Áustria. O objetivo de Bismarck, contudo, era anexar os dois ducados.

O conflito acabou levando a uma guerra contra a Áustria, que saiu derrotada (1866). A Liga Alemã foi dissolvida e substituída pela Liga Setentrional Alemã, que reunia todos os estados germânicos ao norte do rio Meno, tendo Otto von Bismarck como chanceler (primeiro-ministro).

O 2º Império

Proclamação em Versalhes em 1871Foto: ullstein bild

Completando a unificação da Alemanha no sentido da "pequena solução", Bismarck conquistou a Alsácia e a Lorena, numa guerra contra a França (1870–1871) deflagrada por um conflito diplomático. Imbuídos de patriotismo, os estados do sul da Alemanha uniram-se à Liga Setentrional Alemã, constituindo o 2º Império Alemão ou Reich. Em Versalhes, o rei Guilherme 1º da Prússia foi proclamado imperador da Alemanha, no dia 18 de janeiro de 1871.

A unidade alemã, portanto, não resultou da vontade do povo, "de baixo para cima", mas de um pacto entre os príncipes, isto é, "de cima para baixo" e com a supremacia esmagadora da Prússia. O Parlamento do Império, o Reichstag, era eleito por sufrágio igualitário e tinha apenas uma influência indireta no governo. O chanceler do Império, embora só devesse prestar contas ao imperador, era obrigado a procurar apoio para a sua política no Parlamento.

Não eram uniformes as leis eleitorais relativas às representações populares dos diferentes estados no Reichstag. Em 11 estados, existia o sistema eleitoral por classes, dependente dos impostos pagos pelo eleitor e, em outros quatro, mantinha-se a representação por corporações. Com maior tradição parlamentar, os estados do sul da Alemanha reformaram seu direito eleitoral, adaptando sua legislação eleitoral à do Império.

Bismarck governou o Império por 19 anos, fortalecendo sua posição na nova constelação de forças na Europa através de uma política de paz e de alianças. Sua política nacional, porém, estava distante dessa sabedoria. Bismarck combateu tendências democráticas por considerá-las inimigas do Império.

Lutou contra a ala esquerda da burguesia liberal, contra os políticos católicos e, principalmente, contra o movimento operário organizado, que reprimiu durante 12 anos. Bismarck, de certa forma, terminou sendo vítima do seu próprio sistema. A política personalista do jovem imperador Guilherme 2º forçou-o à demissão em 1890.

 

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