Blatter anuncia que vai renunciar à presidência da Fifa
2 de junho de 2015
Uma semana depois do escândalo de corrupção envolvendo dirigentes da Federação Internacional de Futebol, cartola suíço anuncia que deixará o cargo. Um congresso especial deve escolher seu sucessor.
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O presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, declarou nesta terça-feira (02/06) que renunciará ao cargo. O anúncio foi feito na semana seguinte à eclosão de um escândalo de corrupção envolvendo dirigentes da entidade.
"Este mandato não parece ser apoiado por todos no mundo do futebol", declarou Blatter numa conferência de imprensa em Zurique. "A Fifa precisa de uma reestruturação profunda."
O suíço de 79 anos, presidente da Fifa há 17 anos e reeleito na última sexta-feira, disse que um congresso especial será convocado para eleger seu sucessor. A nova eleição está prevista para o período entre dezembro deste ano e março do ano que vem.
"Vou continuar exercendo minha função [até a escolha]", disse o presidente. Ele afirmou ter tomado a decisão depois de "considerar meticulosamente" sua presidência, seis dias depois de o FBI prender dirigentes da federação num hotel em Zurique.
Os sete cartolas detidos, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, foram acusados de ter recebido milhões de dólares em propina ao longo das últimas décadas.
Na última sexta-feira, apesar dos escândalos de corrupção, Blatter foi eleito pela quinta vez consecutiva para comandar a entidade máxima do futebol. O suíço foi declarado vencedor depois de seu único concorrente, o príncipe jordaniano Ali bin al-Hussein, ter reconhecido derrota e desistido da realização de um segundo turno.
Decisão "corajosa"
O presidente da UEFA, Michel Platini, saudou o anúncio de Blatter. "Foi uma decisão difícil, corajosa e correta", disse o dirigente europeu em comunicado. Na semana passada, o ex-aliado do presidente da Fifa disse a Blatter que ele deveria deixar a federação.
O ex-candidato à presidência da entidade Jerome Champagne também elogiou a posição do suíço. "De certa maneira, Blatter está se sacrificando pela Fifa, por uma estrutura que ele desenvolveu e que ama."
A porta-voz da Comissão Europeia para esportes, Nathalie Vandystadt, reconheceu a decisão como um passo importante, mas destacou que ainda há muito a ser feito. "Esperamos um longo processo de mudança, que é necessário para restaurar a confiança e estabelecer um sistema sólido de boa governança na Fifa."
LPF/rtr/ap/afp
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.