Em encerramento de congresso da Fifa, presidente da entidade máxima do futebol afirma não estar preocupado com investigações americanas. Para Blatter, a ação é ato de vingança. Putin parabeniza suíço por reeleição.
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Durante a coletiva de encerramento do 65º congresso da Fifa, que foi marcado por prisões de dirigentes da entidade, Joseph Blatter afirmou neste sábado (30/05) que não teme ser preso ou envolvido no escândalo de corrupção no futebol investigado pelas autoridades americanas.
"Eles têm o direito de investigar, se fizerem da forma correta. Eu não me preocupo com isso", disse o suíço, que foi reeleito pela quinta vez consecutiva para comandar a Fifa. Blatter ressaltou que as prisões realizadas na quarta-feira não afetam diretamente a entidade.
Questionado se teria medo de ser detido, Blatter rebateu: "Preso por quê? As investigações que continuem, definitivamente não têm haver comigo. Eu não tenho 10 milhões de dólares". O recém-reeleito presidente aproveitou o evento para comentar sua vitória.
"É como no futebol: quem perdeu pode ganhar amanhã. Eu sou o presidente de todas as organizações, até mesmo, daquelas que eram contra mim", reforçou, não deixando passar a oportunidade de atacar seus críticos.
Segundo Blatter, no passado foi a União das Federações Europeias de Futebol (Uefa) que interrompeu os planos da Fifa de submeter todos os funcionários da entidade a uma avaliação moral e ética. Ele lembrou que a Uefa é a responsável por suas federações.
"Os europeus deveriam dar um bom exemplo e assumir responsabilidade", disse o presidente da Fifa, acrescentando que os ataques pessoais dos últimos dias o tocaram profundamente. Após as prisões, a Uefa pediu a renúncia do suíço e ameaçou boicotar as competições da Fifa, caso Blatter fosse reeleito.
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.
Em entrevista à emissora de televisão suíça RTS antes da coletiva, Blatter disse ter ficado chocado com as declarações da secretária de Justiça dos EUA, Loretta Lynch. Na quarta-feira, ela afirmara que os dirigentes da Fifa presos na Suíça usaram seu poder e influência para corromper o futebol mundial.
"Como presidente, eu nunca faria uma declaração sobre outra organização sem conhecimento", disse Blatter. Ele sugeriu, ainda, que a escolha da data para as prisões teria sido um ato de vingança dos americanos.
"Há sinais que não podem ser ignorados. Os americanos foram candidatos para a Copa de 2022 e perderam. Eu não estou certo, mas isso não cheira bem." Ele também sugeriu que as investigações possam ter motivação política. Segundo o suíço, os Estados Unidos eram o principal patrocinador da Jordânia, país do candidato adversário de Blatter na eleição para a presidência da Fifa.
Parabéns de Putin
O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Blatter por sua reeleição. "Putin expressa certeza de que a experiência, o profissionalismo e alto nível de autoridade de Blatter lhe permitirão difundir o alcance geográfico e a popularidade do futebol", afirmou um porta-voz do Kremlin.
A Rússia, que será sede da Copa de 2018, apoiava a reeleição do cartola. Putin havia criticado abertamente as detenções em Zurique, declarando tratar-se de uma "tentativa óbvia" dos Estados Unidos de tirar Blatter da presidência da entidade.