Jornal "The New York Times" e emissora ABC News afirmam que Joseph Blatter está sendo investigado pela promotoria americana e também pelo FBI. Filha do presidente da Fifa nega que renúncia esteja ligada à investigação.
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Com base em informações dos investigadores do escândalo de corrupção na Fifa, o diário americano The New York Times e a emissora ABC News informaram na noite desta terça-feira (02/06) que o demissionário presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, está sendo investigado pelo FBI e por promotores americanos.
O chefe da Fifa chocou o mundo do futebol, nesta terça-feira, ao anunciar que vai deixar o comando da federação quatro dias após ter sido reeleito em meio ao escândalo.
Na terça-feira, a investigação se voltou para Blatter, quando a Fifa negou que seu secretário-geral e "braço direito" do presidente, Jérôme Valcke, estaria envolvido no pagamento de 10 milhões de dólares em propinas relativas à Copa do Mundo na África do Sul de 2010.
Paralelamente, foi divulgada uma carta da Associação Sul-Africana de Futebol, endereçada a Valcke, que delineava a transação. Isso aconteceu somente poucas horas depois de a Fifa ter convocado a coletiva de imprensa de emergência, na qual Blatter noticiou a sua renúncia.
A filha do demissionário presidente da entidade máxima do futebol, Corinne Blatter-Andenmatten, negou que o afastamento do pai tenha a ver com as investigações por parte do FBI.
"Com essa decisão, ele queria, em primeiro lugar, proteger a sua família. A decisão não tem absolutamente nada a ver com as acusações em curso. Meu pai é uma pessoa honesta, que dedicou a sua vida ao futebol."
"Fifa precisa de profunda reestruturação"
Blatter, de 79 anos, comunicou a sua demissão em entrevista coletiva organizada às pressas em Zurique, seis dias após a polícia ter invadido um hotel e detido diversos dirigentes da Fifa.
"A Fifa precisa de uma profunda reestruturação", afirmou Blatter, que ocupa a presidência do órgão máximo do futebol mundial há 17 anos. "Eu decidi concorrer novamente ao cargo por estar convencido de que essa era a melhor opção para o futebol", explicou o suíço. "Embora os membros da Fifa tenham me escolhido, esse mandato não parece ser apoiado mundialmente por todos."
Uma eleição para a escolha de um novo presidente será realizada o mais rápido possível, afirmou Blatter, mas a Fifa disse que isso provavelmente não irá acontecer antes de dezembro.
Reações à renúncia
O presidente da Federação Europeia de Futebol, Michel Platini, saudou a decisão de Blatter: "Foi uma decisão difícil, uma decisão nobre e a decisão certa." Platini é o favorito para suceder a Blatter na chefia da Fifa.
De acordo com o ministro russo do Esporte, Vitaly Mutko, a decisão de Blatter de renunciar foi "corajosa" e evitou uma divisão da Fifa.
Dois patrocinadores, Coca-Cola e Adidas, também saudaram a renúncia de Joseph Blatter. "As notícias de hoje marcam um passo na direção certa da Fifa para estabelecer e seguir padrões de conformidade transparentes em tudo o que fazem", comunicou a Adidas.
CA/ap/afp/rtr
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.