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Blatter usou Fifa para enriquecer ilicitamente

3 de junho de 2016

Investigação interna aponta que ex-presidente, ex-secretário-geral e ex-chefe das finanças estavam envolvidos num esquema de enriquecimento próprio. Em cinco anos, eles receberam compensações de 80 milhões de dólares.

Ex-presidente da Fifa Joseph Blatter e ex-secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke num congresso da entidade máxima do futebol
Foto: Reuters/R. Sprich

O ex-presidente da Fifa Joseph Blatter e outros dois altos funcionários da entidade máxima do futebol estavam envolvidos numa "tentativa coordenada" de enriquecimento próprio por meio de aumentos anuais de salários e bônus de Copas do Mundo, comunicou a própria Fifa nesta sexta-feira (03/06).

Os advogados do escritório americano de advocacia Quinn Emanuel, responsáveis pela investigação interna da entidade, revelaram que Blatter, o ex-secretário-geral Jérôme Valcke, além do ex-chefe de finanças Markus Kattner receberam compensações de cerca de 80 milhões de dólares em cinco anos. A investigação apurou o período de 2010 até 2015.

Três semanas após o novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, ter afirmado que "a crise acabou", a entidade volta a balançar com turbulências. Por meio das investigações internas a Fifa revelou detalhes dos contratos dos três ex-cartolas.

Blatter, por exemplo, recebeu um bônus de 12 milhões de francos suíços, após o término com êxito da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e ainda receberia outros 12 milhões de francos suíços para completar seu mandato presidencial de 2015 até 2019. Os bônus secretamente acordados são significativamente maiores do que o salário-base de Blatter, que foram divulgados pela Fifa em março – 3 milhões de francos suíços em 2015.

Valcke recebeu um salário de 2 milhões de dólares em 2015, antes de ser demitido, mas teve um bônus de 10 milhões de dólares pelo Mundial no Brasil e tinha por receber outros 11 milhões de dólares pelo torneio na Rússia, programado para 2018.

Na quinta-feira, a polícia suíça realizou uma operação de apreensão e busca no escritório de Kattner. "Documentos e dados eletrônicos foram apreendidos e serão agora examinados para determinar sua relevância para os processos em curso", disse o Ministério Público suíço, nesta sexta-feira.

O procurador-geral suíço Michael Lauber abriu um processo penal contra Blatter, em setembro, e outro contra Valcke, em março. Ambos são suspeitos de gestão criminosa do dinheiro da Fifa. Ambos negam irregularidades, mas foram banidos pela comissão de ética da Fifa. Até então, nenhum processo criminal foi aberto contra Kattner.

Valcke e Kattner assinaram prorrogações de oito anos e meio de seus contratos em 30 de abril de 2011, cinco semanas antes da eleição presidencial entre Blatter e Mohamed bin Hammam, do Catar. As extensões incluíam grandes aumentos no salário-base e bônus.

Eles também tinham termos generosos de indenizações que lhes garantiam o pagamento integral – até 17,5 milhões de francos suíços e 9,8 milhões de francos suíços, respectivamente – em caso de demissão da Fifa, consequência provável caso Blatter não tivesse sido reeleito. Os dois, portanto, receberia a quantia integral mesmo em caso de demissão por justa causa.

Além disso, em 31 de maio de 2015, quatro dias após as detenções em massa de dirigentes em Zurique em meio a investigações conduzidas pelos EUA e pela Suíça, o contrato de Kattner voltou a ser estendido, até 2023, novamente com cláusulas adicionais que garantem multas rescisórias e indenização de taxas legais e pedidos de restituição. "Estas duas disposições parecem violar a lei suíça", disse a Fifa, nesta sexta-feira.

Blatter está suspenso por quatro anos de qualquer atividade relacionada ao futebol devido a outro caso: o controverso pagamento de 2 milhões de francos suíçospara o também suspenso ex-presidente da Uefa Michel Platini.

Valcke foi afastado da Fifa por seu supostos envolvimento num mercado negro de revenda de ingresso para Copas do Mundo e está suspenso por 12 anos do futebol. Kattner foi demitido em maio por "deficiências".

Alguns dos pagamentos aparentemente violam a lei suíça. A Fifa inclusive comunicou ter partilhado a informação com a Procuradoria-Geral da Suíça e o Departamento de Justiça dos EUA e que continuará com as investigações internas.

PV/dpa/sid/rtr/afp

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