Blinken se reúne com líder palestino na Cisjordânia
5 de novembro de 2023
Secretário de Estado dos EUA e presidente da Autoridade Palestina discutem crise com Israel. Proposta de criar pausas humanitárias para reforçar envio de ajuda e retirada de refugiados foi descartada por Tel Aviv.
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O secretário de Estado americano, Antony Blinken, realizou neste domingo (05/10) uma visita não anunciada à Cisjordânia, onde se reuniu com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas.
Nos últimos dias, Blinken manteve uma série de compromissos na região com autoridades dos dois lados da guerra entre Israel e o Hamas e representantes dos países do Oriente médio, em busca de soluções para o conflito e para a crise humanitária nos territórios palestinos.
O secretário chegou a Ramallah, na Cisjordânia, sob forte esquema de segurança, horas após um ataque aéreo israelense atingir um campo de refugiados na Faixa de Gaza, matando ao menos 40 pessoas, segundo informou o Ministério da Saúde local.
Mesmo com o sigilo imposto em torno da passagem de Blinken pela na Cisjordânia e com a recusa do Departamento de Estado em confirmar a viagem até que ela estivesse concluída, manifestantes palestinos protestaram contra a presença do americano no território.
Em seu encontro com Abbas, Blinken ressaltou a necessidade de pôr fim à violência de colonos judaicos extremistas na Cisjordânia, onde mais de 150 palestinos foram mortos em confrontos com soldados e cidadãos israelenses armados, segundo informou a Autoridade Palestina.
O americano também criticou o deslocamento forçado da população palestina em Gaza. Israel vem constantemente alertando os moradores do norte do enclave a rumarem para o sul do território sob o risco de se tornarem alvos de bombardeios, o que levou milhares de pessoas a deixarem seus locais de residência, enquanto as forças israelenses impõem um cerco à Cidade de Gaza.
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Abbas condena violência israelense
Ao lado de Blinken, Abbas criticou o que chamou de "genocídio e destruição pelas mãos da máquina de guerra de Israel que aflige nosso povo palestino, em desprezo às leis internacionais", informou a agência palestina de notícias Wafa.
Ele defendeu o fim imediato da guerra e pediu o reforço da ajuda humanitária, assim como a restauração do fornecimento de água e eletricidade em Gaza.
O líder palestino disse que soluções militares não trarão a paz para Israel, e que somente o fim da ocupação e o estabelecimento de um Estado palestino sediado em Jerusalém poderão pôr fim às hostilidades.
Blinken disse que os EUA vislumbram um papel central para a Autoridade Palestina na futura administração da Faixa de Gaza pós-Hamas. Abbas, porém, avalia que a AP somente poderá voltar ao poder se houver uma "solução política compreensiva" para o conflito.
O grupo político liderado por Abbas exerce autoridade somente parcial sobre os territórios palestinos, após o Hamas solidificar seu poder político na região em 2007. O governo americano diz apoiar a solução de dois Estados, algo que o governo de ultradireita do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu rejeita categoricamente.
Guerra em Gaza pode envolver outros países?
07:36
No dia anterior, o secretário de Estado dos EUA se reuniu com ministros do Exterior de países árabes em Amã, na Jordânia, que expressaram revolta com as mortes de civis na Faixa de Gaza.
Os ministros do Egito, Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e Jordânia exigiram um cessar-fogo imediato, o que foi rejeitado pelos EUA e por Israel. As nações árabes vêm resistindo ao chamado americano para assumirem papéis mais ativos na busca por uma solução para a crise.
Pausas humanitárias descartadas
Em todas as etapas de sua viagem, Blinken ofereceu o apoio de seu pais a Israel e defendeu seu direito à autodefesa. Ele, porém, pediu a adesão de Tel Aviv às leis internacionais, além de garantias à proteção dos civis e o reforço do envio de ajuda humanitária aos palestinos.
O americano sugeriu a criação de pausas humanitárias no conflito para facilitar o fluxo de estrangeiros e refugiados que tentam deixar o enclave, com a suspensão temporariamente dos bombardeios e da ofensiva por terra, o que foi rejeitado pelo governo israelense.
Autoridades dos EUA acreditam, porém, que Netanyahu poderá flexibilizar suas posições se for convencido de que a diminuição do sofrimento dos palestinos em Gaza seria algo positivo para os interesses estratégicos de Israel.
O grande número de mortos e feridos em Gaza vem gerando revolta internacional, com milhares de pessoas participando de protestos em diferentes partes do mundo, de Washington a Berlim.
O Ministério da Saúde de Gaza informou neste domingo que, até o momento, 9.770 palestinos foram mortos pelos ataques israelenses, incluindo 4.008 crianças.
rc (AP, Reuters)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
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2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
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2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.