1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Humor

22 de junho de 2010

Deutsche Welle conversou com brasileiro Viktor Knijik, que veio à Alemanha receber prêmio The BOBs por seu Blogs do Além, onde personagens já falecidas da história mundial escrevem como se ainda estivessem vivas.

Viktor Knijnik veio a Bonn receber prêmioFoto: Carlos Albuquerque

A categoria Blogwurst do The BOBs, concurso internacional de blogs da Deutsche Welle, premia todos os anos o blog que mais se destaca por seu teor humorístico, bizarro ou incomum.

Neste ano, o publicitário e blogueiro brasileiro Viktor Knijnik foi o ganhador do Prêmio Blogwurst. Ele veio a Bonn receber o prêmio, que foi entregue nesta terça-feira (22/06) no contexto do Global Media Forum, organizado pela Deutsche Welle.

O sucesso dos Blogs do Além é tanto que, esta semana, o blogueiro irá lançar as primeiras versões em inglês. Knijnik é executivo de uma agência de publicidade em São Paulo e disse à Deutsche Welle que "seu negócio é fazer humor".

Deutsche Welle: Quando surgiu a ideia dos Blogs do Além?

Vitor Knijnik: Em 2007, a Manuela Carta, publisher da revista CartaCapital, me sugeriu fazer uma página de humor para a revista. Eu disse: vou pensar. Um ano depois, eu estava conversando na agência de propaganda onde trabalho sobre internet e blogs. Na ocasião, eu falei: olha, todo mundo fala mal de todo mundo na internet, se o Shakespeare tivesse um blog, hoje em dia, vocês iam ver o que ele ia receber de maus comentários sobre os textos dele.

Eu achei aquilo engraçado e percebi que ali havia uma ideia. Então parti para a experiência de fazer uns quatro, cinco blogs e os levei para o Mino Carta, o famoso jornalista da CartaCapital, fundador da Veja Ele se divertiu muito e foi aí que eu comecei, primeiramente com uma página de revista impressa, mas logo eu coloquei a coluna na internet e as pessoas começaram a se relacionar com os personagens mortos. Então eu criei um blog para reunir todos eles, que já são mais de cem.

Quanto aos comentários dos leitores, existe uma interação maior com determinadas personagens?

Sim, existe. Quando um personagem é mais pop, as pessoas comentam muito mais. Elas se sentem muito mais à vontade. Essa semana, por exemplo, eu fiz o Blog do Schopenhauer. Eu duvido que haja mais de três ou quatro comentários, porque as pessoas preferem mesmo falar com o Michael Jackson, por exemplo, do que com um grande filósofo.

Mas também depende do assunto com que misturo. Por exemplo, eu misturei Simone de Beauvoir com Sex and the City, dizendo que ela foi ver o filme. Resultou em mais de 60 retweets. A coluna acontece também muito no Twitter, onde a CartaCapital tem mais de 30 mil seguidores.

Embora Blogs do Além seja uma coletânea de blogs de diversos personagens, atrás deles sempre está você, escrevendo sobre acontecimentos atuais...

Exato, ao escrever sobre o Fernando Pessoa, por exemplo, eu não procuro emular o Fernando Pessoa. Seria uma pretensão desmedida fazer algo assim semanalmente, quiçá de fazer só do Fernando Pessoa. O que eu procuro fazer é sempre misturar o senso comum sobre aquela personagem com coisas da era digital.

Há uma coisa que as pessoas gostam e que eu também gosto de fazer que é aproximar-se dos grandes vultos da humanidade, e colocá-los com problemas mundanos. A dúvida do Kafka, por exemplo, que ao escrever o seu livro Metaformose não sabia se escrevia um livro infantil ou uma obra-prima da literatura mundial. Trata-se de dramas totalmente falsos, mas mostra que aquela personagem também passou por um drama para escrever aquilo.

Screenshot de Blogs do AlémFoto: http://www.blogsdoalem.com.br/

Seus blogs são somente de humor, ou há também postagens sérias, com um tom filosófico ou crítico?

Ás vezes acontece isso, mas eu procuro me policiar para não alçar grandes pretensões intelectuais, até porque eu não domino a maioria dos autores e as minhas pesquisas são muito rápidas para que eu possa ter um aprofundamento.

Quando eu me debato, por exemplo, com algo muito complexo, como o Blog do Platão, que estava apaixonado platonicamente pela Carla Bruni, me interessa muito mais misturar coisas que se sabe sobre o Platão.

Às vezes, acontece de eu fazer coisas mais críticas, como o Blog do Torquemada [O Grande Inquisidor], que eu fiz na semana em que explodiu o escândalo dos padres pedófilos e o próprio Torquemada reconheceu que as pessoas passaram um pouco do limite, dizendo que mesmo ele não tinha ido tão longe. Eu fiz um leve exagero para comentar o escândalo, mas acabou ficando um post um pouco pesado, porque o assunto era pesado.

Todo esse reconhecimento que você está tendo com os Blogs do Além também funcionaria na mídia impressa? Qual é o papel da mídia social nesse reconhecimento?

É fundamental, mas primeiro eu queria agradecer à revista por ter me dado a oportunidade e por ter me provocado a fazer esse trabalho. Mas, hoje, com o blog, o público é muito maior. Eu sinto também que as pessoas gostam de ver refletido ali uma linguagem internética.

A história da página pessoal é um fenômeno do nosso tempo, não só como tecnologia, mas como um tipo de linguagem: o diário aberto, o diário despretensioso que pode ser comentado, trata-se de uma vida muito mais exposta. E nada melhor do que satirizar isso no seu próprio meio.

Qual a importância da linguagem em seus blogs?

Uma coisa que as pessoas gostam nos Blogs do Além é que eu faço muito jogo de palavras. O meu negócio é fazer humor. Eu procuro muito a graça, por isso falei que essa pretensão intelectual tem que vir talvez como um brinde. Há muita piada de trocadilho, o que faço sem perdão. Eu falo que o Kafka é um sujeito muito baratinado, por exemplo. Porque eu acho que é um site para as pessoas rirem. Quem quiser se informar vai na Wikipédia.

Você tem planos de escrever seus blogs em outras línguas?

Não só tenho, mas acredito que achei a pessoa certa para fazer isso. Um amigo americano, repórter do New York Times que no momento se encontra no Brasil, está fazendo as versões de alguns blogs. Está muito legal, porque ele realmente está fazendo uma versão em inglês, não é uma tradução. Houve muita coisa que ele teve que praticamente reinventar. Eu acredito que no máximo esta semana já deverão entrar no ar pelo menos uns dez blogs traduzidos.

Entrevista: Carlos Albuquerque

Revisão: Roselaine Wandscheer

Pular a seção Mais sobre este assunto