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Blogosfera lusófona é duas vezes maior que a em alemão

Rodrigo Rimon13 de setembro de 2006

Estatísticas sobre uso de internet na Alemanha sugerem uma situação muito melhor que a do Brasil, onde atinge apenas 14% da população. Mesmo assim, quando o assunto é weblog, o desempenho dos brasileiros surpreende.

Christoph Schultheis, do BildBlog, um dos mais conhecidos da AlemanhaFoto: DAAD

Algum tempo atrás, se alguém se perguntasse o que é um weblog, a resposta seria fácil: trata-se de uma espécie de diário virtual, o cantinho pessoal de cada um na internet. Mas o tempo passou e esses blogs se tornaram uma das mais flexíveis e dinâmicas ferramentas de comunicação da atualidade.

O segredo é que não há segredo: não é necessário nenhum conhecimento prévio de HTML ou de qualquer outra linguagem de programação. Basta escolher um dos portais que oferecem espaços para blogueiros, dar asas à fantasia e sua história estará no ar.

Muita gente percebeu isso. Segundo o site Technorati, auto-eleita autoridade internacional no assunto que conta com o respeito da blogosfera, o total de blogs no mundo cresceu cem vezes nos últimos três anos.

50 milhões de blogs no mundo

Em fins de julho de 2006, o Technorati afirmou que o número de blogs no mundo passara de 50 milhões, sendo que esse índice dobra aproximadamente a cada seis meses. Só no mês de julho, foi criada uma média de 175 mil blogs por dia, ou seja, mais de dois por segundo.

Blogs compõem hoje uma verdadeira rede de troca de informações, avessa a qualquer hierarquia. Sua grande vantagem é cumprir de certa forma parte das promessas que acompanham a internet desde seus primórdios: a da liberdade absoluta de expressão e a do fim do monopólio de publicação por empresas de mídia. Na blogosfera, todo leitor é também autor e vice-versa.

Estatísticas do Technorati apontam que blogs adquirem o respeito do leitor. Da lista dos 30 sites mais influentes da rede mundial, dois são weblogs. Mas ainda há muita resistência, principalmente em relação à credibilidade. Afinal, ninguém sabe a origem das informações apresentadas – problema que vem sendo eliminado aos poucos, por exemplo através de sua inclusão em veículos tradicionais.

Brasil e Alemanha: diferentes critérios

Mas uma comparação apropriada da blogosfera no Brasil e na Alemanha tem de levar em conta critérios diferentes. Pois, se por um lado o Brasil é o maior mercado de internet da América Latina, com 26 milhões de usuários (contra 17 milhões do México e 10 milhões da Argentina, segundo o site Internet World Stats), por outro só 14% de sua população possui acesso à rede.

Já na Alemanha há 50 milhões de usuários, o que representa cerca de 60% de sua população. Com outras palavras: embora possua menos da metade da população do Brasil, na Alemanha a internet alcança uma parcela quatro vezes maior da população. E, enquanto a Alemanha ocupa a quinta posição no ranking mundial, o Brasil tem de se contentar com a décima.

No entanto, se compararmos com dados do ano 2000, quando o Brasil possuía apenas 9,8 milhões de usuários que cobriam apenas 5,8% da população, o número de usuários cresceu 150% nos últimos cinco anos.

Empreitada de sucesso no Brasil

Mesmo assim, em se tratando de weblogs, o Brasil apresenta melhores resultados. De acordo com o Technorati, a blogosfera em português representa 2% dos blogs do mundo, enquanto a blogosfera em alemão não passa de 1%.

Português é um dos idiomas mais bem sucedidos do concurso de weblogs da Deutsche Welle

Já em 2002, a revista norte-americana Wired, uma das bíblias da cultura digital, publicou um artigo intitulado "In Brazil, Blog is Beautiful", no qual perguntava o que é que torna weblogs tão populares no Brasil. Afinal, já naquela época, o Brasil era um dos países com o maior número de blogs registrados na plataforma Blogger.com.

No entanto, a existência de weblogs não necessariamente implica a existência de uma blogosfera ativa e integrada. Mesmo que os brasileiros estivessem logo de cara convencidos da praticidade dos blogs – assim como rapidamente se tornaram um dos maiores públicos participantes em comunidades virtuais como o Orkut, da gigante Google –, só aos poucos é que surgiu um público leitor atento e freqüente, que sabe por que prefere ler sua dose diária de notícias em weblogs e não em jornais impressos.

Hoje em dia, pode-se falar até em uma velha escola da blogosfera nacional, que inclui sites como o Interney.net, o Cocada Boa (www.cocadaboa.com) e o Kibe Loco. A popularidade deste último rendeu a seu autor inclusive um quadro humorístico no programa semanal de televisão Caldeirão do Huck.

Outra prova do indiscutível sucesso dos blogs no Brasil é a tendência de jornais impressos engajarem seus principais jornalistas na confecção de weblogs pessoais, como Josias de Freitas, da Folha Online, e Fernando Rodrigues, do Universo Online (UOL). Até um dos maiores pioneiros da blogosfera brasileira, Ricardo Noblat, foi engolido pelo portal do jornal Estado de São Paulo.

Recentemente, foi publicada pela organização Verbeat a primeira pesquisa consistente sobre a blogosfera no Brasil. O estudo, que continha 64 perguntas, contou com a participação de 700 blogueiros e os resultados estão disponíveis no site da empresa.

Alemanha resiste à moda

Na Alemanha, a coisa muda de figura. Durante o Terceiro Fórum-Brasil Alemanha, realizado nos dias 8 e 9/09 em Bonn, especulou-se quais motivos levariam à menor significância dos blogs no panorama midiático alemão.

Um deles poderia ser a existência de uma imprensa desenvolvida e de tradição. Acompanhando tal raciocínio, weblogs seriam no Brasil uma forma de lidar com a insatisfação em relação à mídia.

Blog premiado: BILDblog.de

No entanto, um dos maiores exemplos de sucesso na blogosfera alemã, o BildBlog, é uma prova de que há muito a criticar também na imprensa alemã.

Seus fundadores, Cristoph Schultheis e Stefan Niggemeier, produzem dia após dia uma avaliação crítica do conteúdo publicado pelo tablóide alemão Bild, o jornal de maior tiragem na Europa, destacando seus erros jornalísticos e equívocos editorais.

"A maioria dos blogueiros alemães está apenas em busca de atenção, de formas de serem percebidos", disse Schultheis. "Eles ficam felizes com qualquer menção nos jornais tradicionais, mas se irritam quando a coisa não lhes cai bem."

Além da postura amadora, muitas vezes a proposta mesmo deixa a desejar. "Muitos blogs alemães, inclusive os grandes, são em primeira linha opinativos, ou seja, apenas comentam acontecimentos atuais e divulgam conteúdos informativos, polêmicos ou divertidos que encontram em outros blogs. O resto se ocupa apenas consigo mesmo", avalia Schultheis.

Diante da atenção reduzida que os blogs recebem na Alemanha, Schultheis especula que a causa poderia estar "na própria história alemã, que teria limitado a vontade dos alemães de se expressar publicamente, ou no fato de já terem incorporado de tal forma o consumo hierarquizado de mídia ou ainda no fato de saberem que não necessariamente têm algo a dizer sobre tudo".

E alerta: "Os grandes blogs alemães são de fato muito confiáveis. Mas nunca se pode saber com certeza. Com um jornal, o leitor sabe lidar, sabe até que ponto ele é confiável. Com um blog que se encontrou no Google, nunca se sabe que interesse motivou sua publicação".
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