América Latina
17 de maio de 2010"A Argentina sempre se viu como um país de brancos. A discriminação em relação aos imigrantes vindos dos países vizinhos tem muito a ver com a cor da pele, com os traços fisionômicos e com a pobreza. Uma vez apareceram cartazes em todo o bairro com os dizeres: não queremos bolivianas nem como prostitutas", relata Lourdes Rivadeneyra.
Ela migrou aos 18 anos do Peru para a Argentina e trabalha hoje em um departamento público antidiscriminação denominado Inadi, onde ajuda imigrantes da Bolívia, Paraguai e Peru a construir uma nova existência na Argentina.
Segundo estimativas oficiais, aproximadamente 10% dos 38 milhões de habitantes da Argentina são oriundos desses três países, com tendência crescente. Da mesma forma que os EUA são vistos na América Central, a Argentina é com frequência vista como "terra prometida" na América do Sul.
"As pessoas sonham o 'sonho americano', acreditam que vão encontrar uma vida magnífica na Argentina, mas, infelizmente, a realidade é outra. Falta emprego e elas vivem em condições sub-humanas, com relações de trabalho semiescravagistas", relata Rivadeneyra.
Dólares, boa vida e comida gostosa?
Enquetes mostram que seis entre dez bolivianos cogitam a ideia de deixar a terra natal, sendo que muitos deles gostariam de migrar para a Argentina. Isso porque são desinformados e não sabem o que os espera, diz Rivadeneyra. O círculo vicioso acontece porque o emigrante, via de regra, não costuma relatar à sua família, em seu país de origem, quando passa dificuldades.
De forma que o sonho da terra prometida é perpetuado. Esse foi o caso, por exemplo, de Shirley López, que migrou há três anos para Buenos Aires. "Eu não sabia como era a vida na Argentina, mas tinha ouvido de amigas que o país era genial, que se ganhava em dólares, que a vida era ótima e a comida gostosa", relata López.
De pequena estatura e pele morena, ela sofreu uma série de discriminações na Argentina. Após trabalhar como costureira em uma fábrica de roupas de propriedade coreana, ela agora se transformou em dona-de-casa e passa o tempo cuidando da filha pequena. Há três anos em Buenos Aires, López ainda não se sente em casa na cidade e certamente já teria regressado à Bolívia se não tivesse conhecido seu atual marido.
López gostaria de ser mais bem respeitada no país onde vive. "Todos os argentinos são imigrantes, que vivem na terra dos quéchua, aymara e querandíes. Mas isso eles não querem ver. Estão sempre dizendo que somos nós os invasores, os imigrantes, porque somos de baixa estatura e pele morena. Eles nos chamam de índios, bolivianos vadios, bolitas sujas", relata López.
Antes Itália e Espanha, hoje Colômbia e Haiti
Até meados do século 20, a sociedade argentina era marcada principalmente por imigrantes italianos e espanhóis, mas também judeus e árabes. Hoje a situação é outra, diz Rivadeneyra. O país precisaria se acostumar aos imigrantes de todas as regiões da América Latina.
"Antigamente vinham menos colombianos, agora chegam pelo menos dez ao dia, em sua maioria jovens. Do Haiti também vêm muitos refugiados e isso não somente depois do terremoto", conta ela. Rivadeneyra está certa de que a pobreza que assola os imigrantes acentua a xenofobia dos argentinos. "Um estrangeiro que tem dinheiro não é discriminado aqui", conclui.
Autora: Karen Naundorf (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer