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Bolsonaro é alvo de escárnio após contrair covid-19

8 de julho de 2020

Muitos brasileiros acham que a infecção do presidente foi merecida após ele demonstrar pouca ou nenhuma simpatia em relação às vítimas do coronavírus. Agora, ele deve tentar capitalizar politicamente com a doença.

Jair Bolsonaro
"Bolsonaro presume que não ficará tão doente e usará isso para demonstrar que covid-19 não é grande ameaça", diz analistaFoto: picture-alliance/dpa/A. Borges

Nas ruas do Rio de Janeiro, muitos compartilhavam da mesma opinião na tarde desta terça-feira (07/07), após o presidente Jair Bolsonaro afirmar ter sido diagnosticado com covid-19.

"Agora ele está pagando pelo que vinha dizendo", disse um aposentado. "Bem feito", comentou uma enfermeira apressada. "Espero que ele sofra, assim como a população que está sem respiradores e medicamentos. Sua morte seria mais do que justa, ninguém nesse planeta sentirá sua falta. Adeus Bolsonaro."

Nas eleições presidenciais de outubro de 2018, dois terços dos eleitores do Rio votaram em Bolsonaro. Agora, depois de mais de 7 mil vítimas do coronavírus na cidade, é difícil encontrar alguém que o defenda.

"É tudo marketing, não confio mais nele", afirma o carioca Ricardo José da Silva sobre a doença do presidente. Ele acredita que, por ser incapaz de governar, Bolsonaro inventou a infecção como forma de distração.

Desde o início da pandemia, Bolsonaro vem descrevendo a covid-19 como uma "gripezinha" e se recusa a tomar a iniciativa de combater o vírus. Em vez disso, vem sabotando as medidas adotadas por prefeitos e governadores.

Dois ministros da Saúde tiveram de deixar o cargo em razão de desavenças quanto às medidas para conter o avanço da doença e quanto à aprovação das drogas antimaláricas cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. Enquanto Bolsonaro insiste na eficácia dos medicamentos, autoridades de saúde em todo o mundo alertam contra a sua utilização para tratar a doença causada pelo novo coronavírus.

O Brasil está há semanas sem um ministro da Saúde. Enquanto isso, Eduardo Pazuello, um general sem experiência em questões sanitárias administra a pasta interinamente. Com até 1,3 mil mortes em decorrência da covid-19 sendo registradas por dia, muitos brasileiros veem a situação no Ministério da Saúde como uma clara declaração de guerra contra a própria população.

O Brasil caminha para a marca de 70 mil mortos pela covid-19, com mais de 1,6 milhão de pessoas infectadas. Pesquisadores supõem que o número de casos não reportados seja imenso, em razão da falta de capacidade de testagem.

"E daí?"

No final de abril, após o país atingir marca de 5 mil mortos pela covid-19, Bolsonaro disse: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres." Foi como um tapa no rosto das vítimas e suas famílias. Agora o próprio presidente é alvo de escárnio, deboche e hostilidade.

Enquanto adversários políticos, como o governador de São Paulo, João Doria, e jornalistas da Rede Globo críticos ao governo lhe desejaram melhoras rápidas, o jornalista Hélio Schwartsman gerou alvoroço com uma coluna intitulada "Por que torço para que Bolsonaro morra" , publicada no jornal Folha de S. Paulo. "Bolsonaro prestaria na morte o serviço que foi incapaz de ofertar em vida", escreveu.

Schwartsman se referiu a um estudo que aponta que as falas negacionistas de Bolsonaro em relação às medidas contra o coronavírus resultam num aumento do número de mortos. Portanto, muitas vidas seriam salvas com a morte do presidente, que também serviria como um alerta global a outros políticos irresponsáveis.

O ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fábio Faria, condenou veementemente a coluna de Schwartsman, que classificou como um "ataque claro à instituição da Presidência da República".

Bolsonaro também foi alvo nas redes sociais nesta terça. Segundo análise realizada pela plataforma de monitoramento digital Torabit, 84% dos tuítes sobre o presidente nesta terça-feira foram negativos. As hashtags #forçacovid e #forçacorona chegaram às posições mais altas dos trending topics globais do Twitter. Já a hashtag #forçabolsonaro ocupou apenas temporariamente as primeiras posições do ranking no Brasil.

"Cura milagrosa"

Apesar das duras críticas, Oliver Stuenkel, cientista politico da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não vê de modo tão negativo a situação de Bolsonaro.

"O presidente, naturalmente, presume que não ficará tão doente assim. Ele tentará usar isso para demonstrar que a covid-19 não é uma grande ameaça aos brasileiros", afirmou à DW.

Segundo Stuenkel, Bolsonaro deve tentar promover a "cura milagrosa" da cloroquina, dizendo: "Veja, é tudo um grande exagero. Nada vai acontecer com você se tomar a cloroquina."

Bolsonaro inclusive divulgou um vídeo nesta terça-feira no qual aparece tomando um comprimido do medicamento. "Estou me sentindo muito bem. Estava mais ou menos domingo, mal na segunda-feira e hoje, terça, estou muito melhor do que sábado. Então, com toda a certeza, está dando certo", disse o presidente.

Numa praia do Rio de Janeiro, algumas pessoas desejaram o contrário. "Assim como ele deseja tanto que os brasileiros morram, desejo isso pra ele também", comentou o jovem Rafael. "Ver que meu país está nas mãos de um psicopata me preocupa."

Suas amigas Mariana e Tatiana concordam. "Espero que ele sinta na própria pele o quanto essa gripezinha pode ser ruim."

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