Bolsonaro se interna um dia após terror em Brasília
9 de janeiro de 2023O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se internou nesta segunda-feira (09/01) em um hospital do estado americano da Flórida, um dia após seus apoiadores promoverem um dia de terror em Brasília, invadindo e depredando as sedes dos três Poderes.
Segundo o jornal O Globo, Bolsonaro se internou no AdventHealth Celebration, um hospital nas imediações de Orlando. O ex-presidente alegou estar com dores abdominais.
A internação ocorre justamente quando são levantados questionamentos sobre o papel de Bolsonaro nos atos de terror na capital federal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou posse há apenas uma semana, chamou os invasores de "fascistas fanáticos" e "nazistas" e responsabilizou Bolsonaro pela violência.
"Este genocida não só provocou isso, como está estimulando ainda pelas redes sociais", disse Lula.
Bolsonaro permaneceu publicamente em silêncio enquanto seus apoiadores destruíam o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro só se manifestou após a polícia expulsar os invasores, publicando uma condenação protocolar, mas ainda assim criticando a "esquerda". O ex-mandatário também afirmou "repudiar" as acusações de Lula feitas no domingo.
Essa não é a primeira vez em que Bolsonaro é internado em meio a uma crise política. Em julho de 2021, o ex-presidente deu entrada em um hospital de São Paulo em meio a uma crise com o Judiciário, queda de popularidade e má publicidade gerada pela CPI da Pandemia. À época, ele foi diagnosticado com um quadro de obstrução intestinal.
Em novembro de 2022, logo após Bolsonaro perder a eleição e enquanto seus apoiadores se mantinham acampados em frente a quartéis para pressionar por um golpe militar, o jornal O Estado de S.Paulo noticiou que o presidente havia dado entrada em um hospital de Brasília, mas membros do governo negaram a informação.
Desde que sofreu um atentado a faca durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro passou por seis cirurgias, quatro delas ligadas à facada.
Bolsonaro na Flórida
O ex-presidente de extrema direita se encontra na Flórida desde o fim de dezembro, quando abandonou a Presidência da República dois dias antes da posse de Lula. Na Flórida, ele se deixou filmar e fotografar cumprimentando apoiadores brasileiros e comendo sozinho frango frito de uma cadeia de fast food.
Em uma quebra de protocolo não vista em mais de 30 anos, Bolsonaro se recusou a passar a faixa presidencial a Lula. Nos últimos anos, o ex-presidente também insuflou repetidamente seus apoiadores a não aceitarem uma derrota e espalhou mentiras sobre o sistema eletrônico de votação, além de convocar protestos para tentar intimidar o Judiciário e o Legislativo.
Em 2021, quando a sede do Congresso dos EUA foi invadida e depredada por apoiadores de Donald Trump, Bolsonaro evitou condenar o ataque. No mesmo período, ele afirmou que, se a eleição brasileira não passasse a contar com "voto impresso", o Brasil teria um "problema pior que os Estados Unidos". O ex-mandatário também evitou reconhecer imediatamente o vencedor da eleição americana, Joe Biden, e chegou a endossar as acusações de "fraude" espalhadas falsamente por Trump.
Extradição?
A presença de Bolsonaro nos EUA tem gerado críticas de políticos democratas. O deputado democrata Joaquín Castro, do Texas, chegou a pedir a extradição do ex-presidente brasileiro.
"Ele é um homem perigoso. Deveriam mandá-lo de volta para seu país natal, o Brasil", disse o deputado. "Apoio o presidente Lula e o governo democraticamente eleito no país", completou o democrata, que também relacionou a invasão em Brasília com o ataque ao Capitólio americano em 2021. "Terroristas domésticos e fascistas não podem usar a cartilha de Trump para minar a democracia."
A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, também relacionou os eventos em Brasília com o Capitólio e disse: "Vemos fascistas tentando fazer o mesmo no Brasil." Na mesma mensagem, ela manifestou solidariedade a Lula e apoiou o fim do "refúgio" de Bolsonaro nos EUA.
Nesta segunda-feira, foi a vez de o senador brasileiro Renan Calheiros (MDB-AL) entrar com uma petição para que Bolsonaro seja incluído como investigado no inquérito sobre atos com pautas antidemocráticas e extraditado dos EUA.
jps (ots)