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Bolsonaro anuncia comitê com governadores contra pandemia

24 de março de 2021

Sob pressão do Congresso e após quase 300 mil mortes por covid-19, presidente defende vacinação e volta a falar em "tratamento precoce" sem eficácia. Reunião contou com apenas seis representantes dos estados.

Jair Bolsonaro coloca máscara olhando para baixo
Contrariando suas ações ao longo da pandemia, Bolsonaro defendeu coordenação sem "conflito" e "politização"Foto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance

O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira (24/03) a criação de um comitê composto por representantes do governo federal, do Congresso e parte dos governadores para combater a covid-19, mais de um ano após o início da pandemia e no dia em que o país deve ultrapassar a marca de 300 mil mortos pela doença.

A decisão foi comunicada após reunião no Palácio da Alvorada com governadores de seis estados, ministros, o vice-presidente Hamilton Mourão e os presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux.

Bolsonaro, que durante a pandemia confrontou governadores e prefeitos em relação a medidas de distanciamento social, recusou possibilidades de contratos antecipados com produtores de vacina e estimulou o uso de medicamentos não eficazes contra a doença, está sob pressão de setores do Congresso que apoiam a sua gestão para reagir à alta constante de novos casos e mortes diários e despolitizar o enfrentamento da covid-19.

Com os sistemas de saúde em colapso em diversos estados, o Brasil é hoje o principal epicentro mundial da pandemia e lidera disparado em número de novas mortes diárias. Na segunda-feira, 26% das pessoas que morreram no mundo com covid-19 estavam no país, ou uma a cada quatro.

O país também tem uma das maiores incidências de novas mortes por dia por milhão de habitantes, que já considera o tamanho da população de cada país. Na segunda-feira, essa taxa no Brasil era de 10,9, 60% acima da média da América do Sul e mais que o dobro da registrada na União Europeia. Para 79% dos brasileiros, a pandemia está fora de controle no país.

"A vida em primeiro lugar. Resolvemos, entre outras coisas, que será criada uma coordenação junto aos governadores com o senhor presidente do Senado Federal. (...) Sem que haja qualquer conflito, sem que haja politização, creio que seja esse o caminho para o Brasil sair dessa situação bastante complicada que se encontra", disse Bolsonaro. Ele afirmou que o comitê se reunirá semanalmente para "decidirmos ou redirecionarmos o rumo do combate ao coronavírus".

Esboço de coordenação

O encontro desta quarta foi organizado por Bolsonaro para tentar demonstrar coordenação de ações de combate à pandemia, ao mesmo tempo em que compartilha a responsabilidade pela gestão da crise com os governadores.

A baixa adesão de representantes dos governos estaduais na reunião, porém, joga dúvidas sobre a efetividade do comitê. Participaram do encontro os governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Wilson Lima (Amazonas), Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Júnior (Paraná), Marcos Rocha (Rondônia) e Renan Filho (Alagoas). Nenhum deles faz oposição declarada a Bolsonaro.

Em diversos momentos ao longo da pandemia, o presidente investiu contra o sistema federativo e contestou decisões de governadores e prefeitos que estabeleceram restrições ao comércio e à circulação de pessoas para reduzir a contaminação do vírus, medida considerada essencial por epidemiologistas.

O lance mais recente dessa estratégia de confronto ocorreu na semana passada, quando o presidente acionou o STF para tentar derrubar decretos dos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul que determinaram restrições de circulação de pessoas. O pedido foi negado nesta terça-feira, em caráter liminar, pelo ministro Marco Aurélio Mello.

Após a reunião desta quarta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que a liderança para buscar uma coordenação de esforços no combate à pandemia deve ser de Bolsonaro."Essa união significa um pacto nacional liderado por quem a sociedade espera que lidere, que é o presidente da República", afirmou.

O presidente do Supremo, Luiz Fux, disse que a Corte não participará do comitê, mas buscará formas de agilizar as decisões em processos judiciais que tratem do combate à pandemia.

"Tratamento precoce" e vacinação

Ao sair da reunião, Bolsonaro voltou a mencionar um suposto "tratamento precoce" contra a covid-19, conjunto de medicamentos que não tem eficácia contra a doença, como a cloroquina e a ivermectina, e que pode levar a outras complicações de saúde se usado indiscriminadamente.

"Tratamos também de possiblidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico off-label de tratar os infectados", afirmou o presidente.

Na terça-feira, a Associação Médica Brasileira pediu o banimento do uso de remédios sem eficácia contra a doença. O anúncio marcou uma virada no posicionamento da entidade, que vinha defendendo o direito de os médicos terem "autonomia" para receitar os remédios que julgassem adequados para seus pacientes.

O presidente também não mencionou em sua fala nesta quarta a necessidade de as pessoas fazerem isolamento social para evitar a propagação do vírus.

Bolsonaro defendeu, porém, a importância de acelerar o programa de vacinação, em meio a atrasos constantes na entrega dos imunizantes. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tomou posse nesta terça, defendeu também uma coordenação entre União, estados e municípios para ampliar a vacinação nos próximos meses.

Na terça-feira, Bolsonaro fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV no qual tentou defender as ações do governo no combate à crise, mas mentiu e distorceu dados sobre as decisões do governo em relação à compra e aplicação de vacinas.

bl/ek (ots)