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Bolsonaro ataca pai de Bachelet, morto na ditadura Pinochet

4 de setembro de 2019

Presidente exalta regime militar no Chile e diz que ex-chefe de governo chilena e alta comissária da ONU, defende "direitos de vagabundos". Bachelet havia criticado violência policial e redução da democracia no Brasil.

Presidente Jair Bolsonaro
"Parece que quem não tem nada para fazer, como Bachelet, vai para cadeira de direitos humanos da ONU", diz BolsonaroFoto: Reuters/A. Machado

O presidente Jair Bolsonaro lançou ataques nesta quarta-feira (04/09) a Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para direitos humanos e ex-presidente do Chile, e ao pai dela, que foi torturado e morto durante a ditadura militar chilena.

Os comentários foram feitos em resposta a declarações de Bachelet, que criticou a violência policial no Brasil e disse que o país sofre uma "redução do espaço democrático", com ataques contra defensores dos direitos humanos. Bolsonaro reagiu afirmando que a chilena "defende direitos de vagabundos".

"Michelle Bachelet, seguindo a linha do [Emmanuel] Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", escreveu o presidente em postagem no Facebook. Ele fez menção ao presidente francês, com quem trocou hostilidades nas últimas semanas.

"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época", acrescentou.

O texto acompanha uma foto de Bachelet em 2014, ao lado das ex-presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, esta da Argentina, durante a cerimônia de posse de seu segundo mandato como presidente chilena.

Alberto Bachelet, pai de Michelle, foi general da Força Aérea, tendo se oposto ao golpe militar liderado por Augusto Pinochet em setembro de 1973. Ele foi preso e torturado pelo regime, e morreu de infarto na prisão em fevereiro de 1974, aos 50 anos. A ex-presidente também foi presa e torturada por agentes de Pinochet em 1975.

Nesta mesma quarta-feira, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a mencionar ambos. "A senhora Michelle Bachelet: se não fosse pelo pessoal do Pinochet, que derrotou a esquerda em 1973, entre eles seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba", disse.

"Está acusando que não estamos punindo os policiais que matam as pessoas no Brasil, mas está defendendo os direitos humanos dos vagabundos", afirmou o presidente. "Parece que as pessoas que não têm nada para fazer, como Michelle Bachelet, vão para a cadeira de direitos humanos da ONU."

"Ela perdeu a briga com a agenda ambiental, igual a Macron, e agora vem com a agenda dos direitos humanos", completou Bolsonaro, se referindo aos debates gerados após os questionamentos feitos pelo presidente da França em meio aos incêndios na Amazônia. 

Bachelet alertou sobre a redução da democracia no Brasil em uma entrevista coletiva nas Nações Unidas em Genebra nesta quarta-feira, por ocasião de um balanço da gestão como alta comissária para direitos humanos da ONU, cargo que ocupa há um ano.

"Nos últimos meses, observamos [no Brasil] uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques contra defensores dos direitos humanos, restrições impostas ao trabalho da sociedade civil", afirmou.

Ela também disse que a violência policial no Brasil atinge mais as pessoas de ascendência africana ou que moram em favelas. Bachelet criticou o discurso de autoridades brasileiras que, segundo ela, legitimam a violência policial.

Os comentários da chilena são vistos como particularmente duros, considerando que o Brasil é candidato à reeleição no Conselho de Direitos Humanos da ONU, para o triênio 2020-2022.

Bachelet foi presidente do Chile por duas vezes, entre 2006 e 2010 e entre 2014 e 2018. No ano passado, assumiu o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

MD/efe/ots

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