Bolsonaro desafia investigadores: "Não vão me pegar"
16 de maio de 2019
Nos Estados Unidos, presidente diz que Flávio Bolsonaro está sendo perseguido pelo Ministério Público e que investigações visam derrubar seu governo. Quebra de sigilo do senador atinge ex-assessores do pai.
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O presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, nesta quinta-feira (16/05), afirmando que o parlamentar está sendo perseguido pelo Ministério Público (MP). Segundo o presidente, as investigações contra Flávio têm o objetivo de atingi-lo.
"Estão fazendo esculacho em cima do meu filho", disse Bolsonaro em visita a Dallas, no Texas. "Façam justiça! Querem me atingir? Venham para cima de mim! Querem quebrar meu sigilo, eu sei que tem que ter um fato, mas eu abro o meu sigilo. Não vão me pegar."
O Ministério Público do Rio de Janeiro apontou "sérios indícios de lavagem de dinheiro" em transações imobiliárias para embasar seu pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e de mais 94 pessoas ou empresas ligadas a ele, em 15 de abril.
O senador insiste que seu sigilo foi quebrado ilegalmente pelo MP, discurso esse que foi reiterado por Bolsonaro nos Estados Unidos. "É a jogadinha, quebraram o sigilo bancário dele desde o ano passado e agora, para dar um verniz de legalidade, quebraram oficialmente o sigilo dele. E de mais, se eu não me engano, 93 pessoas", afirmou.
"O objetivo, querem me atingir? Quebrou o sigilo bancário desde o ano passado. Isso aí é ilegalidade. O que diz a jurisprudência? Eu não sou advogado, [mas parece] nulidade de processo. Fizeram aquilo para prejudicar", acrescentou o presidente.
As novas informações sobre as investigações do Ministério Público foram divulgadas nesta quarta-feira por veículos da imprensa brasileira. Bolsonaro aproveitou a fala para reforçar suas críticas à mídia, alvo recorrente de ataques por parte do presidente.
"Grandes setores da mídia não estão satisfeitos com o meu governo. É governo de austeridade, de responsabilidade com o dinheiro público. É um governo que não vai mentir e não vai aceitar negociações, não vai aceitar conchavos para atender interesse de quem quer que seja. E ponto final", declarou.
Segundo a revista Veja, com base no documento do MP que embasa o pedido de quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro, entre 2010 e 2017, o então deputado estadual lucrou R$ 3,089 milhões em transações imobiliárias nas quais há "suspeitas de subfaturamento nas compras e superfaturamento nas vendas". O valor supera os seus vencimentos como deputado.
As transações suspeitas envolvem 19 imóveis, entre salas e apartamentos, nos quais Flávio Bolsonaro investiu R$ 9,425 milhões. O MP afirmou que as transações podem simular ganhos fictícios para encobrir enriquecimento ilícito decorrente de desvios de recursos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Os promotores relacionam casos em que o filho mais velho de Jair Bolsonaro lucrou com a valorização excessiva de imóveis adquiridos por ele a preços abaixo de mercado.
A quebra dos sigilos faz parte das investigações que começaram depois de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em desdobramento da Operação Lava Jato, ter indicado movimentações de dinheiro atípicas numa conta bancária de Fabrício Queiroz, um ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, segundo o Coaf. Ele também teve o sigilo bancário e fiscal levantado. Para o MP, há indícios de uma organização criminosa dedicada ao crime de peculato (desvio de dinheiro público) no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso ao mesmo documento, a quebra dos sigilos atinge ainda ao menos cinco ex-assessores do presidente, que trabalharam tanto no gabinete de Jair Bolsonaro, na Câmara dos Deputados, como no do filho, na Alerj, durante o período que abrange a quebra dos sigilos, entre janeiro de 2007 e dezembro de 2018.
Os ex-assessores são Daniel Medeiros da Silva, Fernando Nascimento Pessoa, Jaci dos Santos, Nelson Alves Rabello e Nathalia Melo de Queiroz, que é filha de Fabrício Queiroz.
As visitas de presidentes brasileiros aos Estados Unidos
Relembre como foram as principais visitas de presidentes do Brasil aos Estados Unidos após a redemocratização do Brasil nos anos 1980.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
Setembro de 1986: Sarney visita Reagan
Além de se reunir com Ronald Reagan, José Sarney proferiu um discurso ao Congresso. Os líderes discutiram a crise do endividamento internacional e a recusa do Brasil em assinar um acordo formal com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro tema foi a manutenção pelo Brasil da reserva de mercado para produtos de informática, mesmo com possíveis sanções pelos EUA. Pelé também estava na comitiva.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
1990-1992: visitas entre Collor e Bush
Os dois presidentes se encontraram duas vezes em 1990: em setembro, Fernando Collor esteve com George H. W. Bush durante a Assembleia Geral da ONU e, em dezembro, o americano visitou Collor e ainda discursou ao Congresso brasileiro. Em junho de 1991, o brasileiro visitou Bush nos EUA e, em junho de 1992, Bush teve um encontro com o brasileiro durante a Conferência Rio-92.
Abril de 1995: FHC visita Clinton
Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton abordaram um dos principais atritos entre os países: a aprovação da Lei de Patentes. Os EUA ameaçavam com sanções se o projeto não passasse. O texto chegou a ser aprovado em fevereiro de 1996, mas nos moldes como queriam os americanos. FHC repetiu ainda uma demanda brasileira existente até hoje: ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
FHC participou de uma reunião nas Nações Unidas sobre o combate ao tráfico de drogas e ficou hospedado em Camp David, a casa de campo da Presidência americana. Ele teve um encontro informal com Clinton, que cumprimentou FHC pela boa resposta brasileira à turbulência financeira asiática. Os dois líderes conversaram ainda sobre a paz no Oriente Médio e a estratégia de combate às drogas.
Foto: Imago/Zumapress/S. Farmer
Maio de 1999: FHC visita Clinton
Em Washington, FHC participou de vários encontros com governantes e empresários para convencê-los de que o pior da crise econômica já havia passado e afirmou que seu governo tentaria impedir outras no futuro. Com Clinton, FHC insistiu que era necessário buscar mecanismos financeiros que protegessem o país de ataques especulativos e de prejuízos provocados pela volatilidade de capitais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh
Abril de 2001: FHC visita Bush
Na visita, o país desistiu de selar um acordo com os EUA sobre o início da Área de Livre Comércio das Américas (Alca. O revés de última hora ocorreu após o Departamento de Estado enviar a alguns países um memorando defendendo o ano de 2003 – em contraponto ao acordo fechado entre Brasília e Washington de começar a Alca em 2005. O documento esvaziou a visita de FHC.
Foto: Getty Images/M. Wilson
Novembro de 2001: FHC visita Bush
FHC e George W. Bush tiveram na Casa Branca uma conversa amigável, porém, morna. Ambos falaram sobre terrorismo, prejuízo do protecionismo às nações em desenvolvimento, economia da Argentina e a criação de um Estado palestino. FHC reforçou ainda o desejo do Brasil de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Depois, o brasileiro foi para Nova York abrir a Assembleia Geral da ONU.
Foto: Getty Images/AFP/S. Thew
Junho de 2003: Lula visita Bush
O encontro terminou sem resultados concretos. O Brasil chegou a prometer que cooperaria para concluir com êxito a Alca até 2005 e a pedir o apoio de Washington para ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – dois assuntos que não avançaram. Eles também discutiram a paz no mundo e Lula disse que ela só seria alcançada se os países ricos ajudassem os mais pobres a se desenvolverem.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
Março de 2007: visitas entre Lula e Bush
No início do mês, Bush e Lula assinaram em Guarulhos/SP um memorando para a cooperação no desenvolvimento da tecnologia de biocombustíveis e prometeram diminuir a dependência do petróleo e de outros combustíveis fósseis não renováveis em seus países. No final de março, Lula foi recebido em Camp David (foto) para discutir o etanol como commodity mundial e a retomada da Rodada Doha, da OMC.
Foto: Getty Images/R. Sachs-Pool
Março de 2009: Lula visita Obama
No seu primeiro encontro, os dois presidentes anunciaram a criação de um grupo de trabalho para a reunião do G20, que aconteceu no mês seguinte em Londres, para buscar uma estratégia comum para enfrentar, na época, a crise econômica mundial, aumentar a confiança no sistema financeiro e recuperar as economias afetadas pelo maior crash vivido pelo mundo desde a década de 1930.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Reynolds
Abril de 2012: Dilma visita Obama
Dilma Rousseff mostrou preocupação com a depreciação das moedas dos países ricos em consequência das políticas monetárias deles para conter a crise, dizendo que esse desequilíbrio afeta todas as nações, principalmente as emergentes. Barack Obama disse que a relação dos dois países "nunca esteve mais forte" e discutiu com a brasileira temas como narcotráfico, intercâmbio estudantil e combustíveis.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Junho de 2015: Dilma visita Obama
A reunião marcou a superação de um imbróglio diplomático depois de documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados por Edward Snowden mostrarem que os EUA também espionavam Dilma. Por causa do escândalo, ela chegara a cancelar uma visita de Estado a Obama em outubro de 2013. No encontro de 2015, Dilma tentou atrair investimentos, prometeu reduzir a poluição e aumentar o reflorestamento.
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Março de 2019: Bolsonaro visita Trump
Foi a primeira visita de Estado de Jair Bolsonaro – e a viagem foi bem-sucedida para o então presidente brasileiro. O fato de ele ter se encontrado com fiéis foi bem recebido entre seus eleitores evangélicos. Para militares e para a economia, ele conseguiu a promessa de Trump de apoiar o status de aliado preferencial na Otan e a entrada do Brasil na OCDE.
Foto: Allen Eyestone/ZUMAPRESS.com/picture alliance