Bolsonaro defende muro de Trump e critica imigrantes
19 de março de 2019
Em Washington, presidente diz que grande maioria dos imigrantes é mal-intencionada "e não deseja fazer o bem ao povo americano". Ele destaca semelhanças com Trump e diz ter restrições a intervenção militar na Venezuela.
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No segundo dia de sua visita Washington, o presidente Jair Bolsonaro enalteceu a nova parceria entre o Brasil e os Estados Unidos, país que ele disse admirar, e pediu ações decisivas em relação à crise na Venezuela.
Num discurso de dez minutos na Câmara de Comércio dos Estados Unidos nesta segunda-feira (18/03), Bolsonaro disse reconhecer a "capacidade econômica, bélica, entre outras", dos EUA. "Temos que resolver a questão da Venezuela", ressaltou. "Aquele povo tem que ser libertado", afirmou, pedindo o apoio americano para que isso ocorra.
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Bolsonaro exaltou as semelhanças entre os dois países, dizendo que o povo brasileiro, assim como o americano, é "conservador, temente a Deus e, portanto, cristão". Ele disse ainda que tem em comum com o presidente dos EUA, Donald Trump, o fato de que ambos sofreram "ataques da mídia" em suas campanhas, sendo vítimas das fake news.
Bolsonaro destacou que a parceria entre os dois países deve ser reforçada numa série de setores, inclusive na biodiversidade. "Temos uma imensidão a ser descoberta em nossa Amazônia e gostaríamos muito de ter a parceria desse Estado, o qual eu admiro."
"Queremos um Brasil grande, assim como Trump quer uma América grande", disse. "Hoje os senhores têm um presidente amigo dos Estados Unidos e que admira esse país maravilhoso."
Antes do discurso do presidente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez uma breve apresentação de Bolsonaro e seu governo. Segundo Araújo, Bolsonaro é um "líder transformador" e tem ajudado o país a se unir em torno da ideia de pátria.
Após o discurso do presidente, o porta-voz do Planalto, Otávio Rêgo Barros, negou que o governo brasileiro apoiaria uma intervenção militar na Venezuela. "O Brasil entende que a situação da Venezuela deve ser resolvida com base na nossa diplomacia. Não trabalhamos com intervenção, até porque afronta a nossa Carta Magna", afirmou.
Visita à CIA
Bolsonaro começou o dia com uma visita à sede da Agência Central de Inteligência (CIA), que não estava prevista na agenda, num gesto de claro componente simbólico. A reunião foi revelada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, que acompanha o pai nos EUA. Eduardo descreveu a CIA como "uma das agências de inteligência mais respeitadas do mundo".
A visita sublinhou as diferenças entre o governo Bolsonaro e o da ex-presidente Dilma Rousseff, que em 2013 cancelou uma visita aos Estados Unidos devido ao escândalo de espionagem da agência NSA, que a teria espionado. A revelação azedou durante anos as relações entre Estados Unidos e Brasil.
"Nenhum presidente brasileiro nunca visitou a CIA," disse o diplomata Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Isso é um ato explícito de submissão. Nada se compara com isso."
Segundo o Palácio do Planalto, o encontro sinalizou a disposição do governo brasileiro em estreitar laços com a CIA no combate aos crimes transnacionais.
Entrevista à Fox News
No mesmo dia, em entrevista concedida à emissora americana Fox News, Bolsonaro disse que Trump mantém "todas as opções na mesa" em relação à Venezuela, mas que o Brasil não pode afirmar o mesmo em razão de "certas restrições" existentes no país.
No entanto, o presidente disse que é possível agir através de uma "frente diplomática", como no envio de ajuda ao país vizinho, e acrescentou que o Brasil é um dos maiores interessados em pôr fim ao regime de Nicolás Maduro.
Ao ser perguntado sobre a questão da imigração, causa de algumas das maiores controvérsias no governo Trump, Bolsonaro disse que acreditaria nos que são contra a construção do muro na fronteira com o México – uma das maiores batalhas políticas do presidente americano – se eles próprios removessem as portas de suas casas e deixassem que qualquer um entrasse. "A grande maioria dos imigrantes não tem boas intenções e não deseja fazer o bem para o povo americano", afirmou.
Bolsonaro disse concordar com a construção do muro, reafirmou o desejo de que Washington mantenha sua política migratória e afirmou que, em grande parte, "devemos nossa democracia no hemisfério sul aos EUA".
Ao ser perguntado sobre o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e as possíveis ligações entre as milícias e sua família, Bolsonaro disse que a imprensa brasileira, que, segundo afirma, sempre o criticou, tentou em vão estabelecer elos entre ele e os supostos assassinos, os quais negou conhecer.
Bolsonaro desmentiu que seu filho mais novo tivesse mantido um relacionamento com a filha de um dos acusados, afirmando que o jovem teria "namorado quase todas as meninas do condomínio" e, mesmo assim, não se lembrava de ter se encontrado com a menina.
Ao rebater as insinuações sobre uma possível ligação sua com o caso Marielle, Bolsonaro disse que o homem que o esfaqueou durante a campanha eleitoral teria sido membro do PSol até 2014, mas que a imprensa jamais afirmou que foi a esquerda quem tentou matá-lo, e que algumas pessoas até estariam frustradas por ele ter sobrevivido.
O ponto alto da visita de Bolsonaro a Washington será nesta terça-feira, quando será recebido por Trump na Casa Branca.
RC/ap/lusa/abr/ots
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As visitas de presidentes brasileiros aos Estados Unidos
Relembre como foram as principais visitas de presidentes do Brasil aos Estados Unidos após a redemocratização do Brasil nos anos 1980.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
Setembro de 1986: Sarney visita Reagan
Além de se reunir com Ronald Reagan, José Sarney proferiu um discurso ao Congresso. Os líderes discutiram a crise do endividamento internacional e a recusa do Brasil em assinar um acordo formal com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro tema foi a manutenção pelo Brasil da reserva de mercado para produtos de informática, mesmo com possíveis sanções pelos EUA. Pelé também estava na comitiva.
Foto: Public Domain/Ronald Reagan Presidential Library & Museum/White House
1990-1992: visitas entre Collor e Bush
Os dois presidentes se encontraram duas vezes em 1990: em setembro, Fernando Collor esteve com George H. W. Bush durante a Assembleia Geral da ONU e, em dezembro, o americano visitou Collor e ainda discursou ao Congresso brasileiro. Em junho de 1991, o brasileiro visitou Bush nos EUA e, em junho de 1992, Bush teve um encontro com o brasileiro durante a Conferência Rio-92.
Abril de 1995: FHC visita Clinton
Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton abordaram um dos principais atritos entre os países: a aprovação da Lei de Patentes. Os EUA ameaçavam com sanções se o projeto não passasse. O texto chegou a ser aprovado em fevereiro de 1996, mas nos moldes como queriam os americanos. FHC repetiu ainda uma demanda brasileira existente até hoje: ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
FHC participou de uma reunião nas Nações Unidas sobre o combate ao tráfico de drogas e ficou hospedado em Camp David, a casa de campo da Presidência americana. Ele teve um encontro informal com Clinton, que cumprimentou FHC pela boa resposta brasileira à turbulência financeira asiática. Os dois líderes conversaram ainda sobre a paz no Oriente Médio e a estratégia de combate às drogas.
Foto: Imago/Zumapress/S. Farmer
Maio de 1999: FHC visita Clinton
Em Washington, FHC participou de vários encontros com governantes e empresários para convencê-los de que o pior da crise econômica já havia passado e afirmou que seu governo tentaria impedir outras no futuro. Com Clinton, FHC insistiu que era necessário buscar mecanismos financeiros que protegessem o país de ataques especulativos e de prejuízos provocados pela volatilidade de capitais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh
Abril de 2001: FHC visita Bush
Na visita, o país desistiu de selar um acordo com os EUA sobre o início da Área de Livre Comércio das Américas (Alca. O revés de última hora ocorreu após o Departamento de Estado enviar a alguns países um memorando defendendo o ano de 2003 – em contraponto ao acordo fechado entre Brasília e Washington de começar a Alca em 2005. O documento esvaziou a visita de FHC.
Foto: Getty Images/M. Wilson
Novembro de 2001: FHC visita Bush
FHC e George W. Bush tiveram na Casa Branca uma conversa amigável, porém, morna. Ambos falaram sobre terrorismo, prejuízo do protecionismo às nações em desenvolvimento, economia da Argentina e a criação de um Estado palestino. FHC reforçou ainda o desejo do Brasil de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Depois, o brasileiro foi para Nova York abrir a Assembleia Geral da ONU.
Foto: Getty Images/AFP/S. Thew
Junho de 2003: Lula visita Bush
O encontro terminou sem resultados concretos. O Brasil chegou a prometer que cooperaria para concluir com êxito a Alca até 2005 e a pedir o apoio de Washington para ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – dois assuntos que não avançaram. Eles também discutiram a paz no mundo e Lula disse que ela só seria alcançada se os países ricos ajudassem os mais pobres a se desenvolverem.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
Março de 2007: visitas entre Lula e Bush
No início do mês, Bush e Lula assinaram em Guarulhos/SP um memorando para a cooperação no desenvolvimento da tecnologia de biocombustíveis e prometeram diminuir a dependência do petróleo e de outros combustíveis fósseis não renováveis em seus países. No final de março, Lula foi recebido em Camp David (foto) para discutir o etanol como commodity mundial e a retomada da Rodada Doha, da OMC.
Foto: Getty Images/R. Sachs-Pool
Março de 2009: Lula visita Obama
No seu primeiro encontro, os dois presidentes anunciaram a criação de um grupo de trabalho para a reunião do G20, que aconteceu no mês seguinte em Londres, para buscar uma estratégia comum para enfrentar, na época, a crise econômica mundial, aumentar a confiança no sistema financeiro e recuperar as economias afetadas pelo maior crash vivido pelo mundo desde a década de 1930.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Reynolds
Abril de 2012: Dilma visita Obama
Dilma Rousseff mostrou preocupação com a depreciação das moedas dos países ricos em consequência das políticas monetárias deles para conter a crise, dizendo que esse desequilíbrio afeta todas as nações, principalmente as emergentes. Barack Obama disse que a relação dos dois países "nunca esteve mais forte" e discutiu com a brasileira temas como narcotráfico, intercâmbio estudantil e combustíveis.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Junho de 2015: Dilma visita Obama
A reunião marcou a superação de um imbróglio diplomático depois de documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados por Edward Snowden mostrarem que os EUA também espionavam Dilma. Por causa do escândalo, ela chegara a cancelar uma visita de Estado a Obama em outubro de 2013. No encontro de 2015, Dilma tentou atrair investimentos, prometeu reduzir a poluição e aumentar o reflorestamento.
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
Março de 2019: Bolsonaro visita Trump
Foi a primeira visita de Estado de Jair Bolsonaro – e a viagem foi bem-sucedida para o então presidente brasileiro. O fato de ele ter se encontrado com fiéis foi bem recebido entre seus eleitores evangélicos. Para militares e para a economia, ele conseguiu a promessa de Trump de apoiar o status de aliado preferencial na Otan e a entrada do Brasil na OCDE.
Foto: Allen Eyestone/ZUMAPRESS.com/picture alliance