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Bolsonaro distorce dados em pronunciamento

1 de janeiro de 2022

Presidente manipulou informações para defender seu governo, se posicionou contra o passaporte vacinal, defendeu que crianças sejam imunizadas somente com prescrição médica e criticou governadores.

Foto mostra a sala de uma casa. Ao fundo, em uma estante, está a TV, onde passa o pronunciamento. Desfocado, em primeiro plano, está a cabeça de uma mulher de costas. Ela assiste o pronunciamento.
Foto: Igor Do Vale/picture alliance/ZUMAPRESS

Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na noite desta sexta-feira (31/12), o presidente Jair Bolsonaro distorceu dados para defender seu governo, voltou a se posicionar contra o passaporte vacinal, defendeu que crianças entre 5 e 11 anos devem se imunizar contra a covid-19 somente com prescrição médica e alfinetou governadores que optaram por decretar lockdown durante a pandemia.

"Não apoiamos o passaporte vacinal, nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar", disse. "Defendemos que as vacinas para as crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada", completou.

Muitos países já exigem a comprovação de vacinação para várias atividades públicas, inclusive a Alemanha, onde o acesso a lojas só é permitido com a comprovação de vacinação ou recuperação da doença, por exemplo.

Quanto à vacinação infantil contra o coronavírus, dezenas de países já começaram as campanhas, entre eles Estados Unidos, Israel e a União Europeia.

Durante a exibição do pronunciamento, foram registrados panelaços e gritos de "Fora Bolsonaro" em grandes cidades, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

Balanço do governo e compra de vacinas

Na fala, Bolsonaro fez um balanço de seu governo, destacou a flexibilização do porte de armas e mencionou a distribuição de 380 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 neste ano "todas adquiridas pelo nosso governo", alfinetando governadores como o de São Paulo, João Doria, que, frente a letargia do governo na compra de imunizantes, decidiu investir na Coronavac. Posteriormente o governo federal iniciou a campanha nacional de vacinação com o imunizante chinês.

Na fala, Bolsonaro tentou justificar o atraso no começo da vacinação no Brasil alegando que não havia imunizante disponível para comercialização em 2020.

No entanto, o presidente ignorou no pronunciamento que já havia a oferta de vacinas no ano passado, inclusive com tentativas de negociação diretas com o Brasil, como revelou a CPI da Pandemia. Em 2020, o governo recusou ao menos cinco ofertas da Pfizer para a compra de vacinas, o que poderia ter agilizado o começo da imunização no Brasil e ter salvo milhares de vidas.

Três anos sem corrupção

Bolsonaro disse que completou três anos de governo "sem corrupção". No entanto, há várias investigações abertas contra membros de seu governo. 

Quando questionado por repórteres sobre casos de corrupção, o presidente costuma ser agressivo, irônico, não responder as perguntas ou abandonar entrevistas.

Entre os investigados estão o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e Europa.

Além disso, a CPI da Pandemia revelou suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e suposto pedido de propina em uma negociação  para adquirir vacinas da AstraZeneca.

Auxílio para o enfrentamento da pandemia

O presidente destacou que o governo federal liberou "recursos bilionários para que estados e municípios se preparassem para enfrentar a pandemia" e, mais uma vez, criticou governadores e prefeitos por políticas de fechamento de comércio e restrição da circulação. 

"Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toque de recolher, a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte] e o BEm [Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda]", disse o presidente.

Auxílio emergencial

Bolsonaro destacou que o governo liberou bilhões de reais para que estados e municípios enfrentassem a pandemia e a criação de programas para a preservação de 11 milhões de empregos e o pagamento do auxílio emergencial a 68 milhões de pessoas.

No entanto, não mencionou que os programas foram aprovados pelo Congresso e nem que o valor do auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelos parlamentares foi muito maior do que o proposto pelo executivo, que era de apenas R$ 200.

Economia e infraestrutura

Bolsonaro afirmou que o ano de 2021 terminou com um saldo positivo de 3 milhões de novos empregos e 5 milhões de empresas abertas. "Interrompendo uma série de meia década com saldos negativos", comentou, ignorando, porém, que levantamento do IBGE divulgado nesta semana mostra que quase 13 milhões de brasileiros seguem desempregados.

O presidente destacou os avanços na infraestrutura e o término de obras, como a transposição do Rio São Francisco. Não citou, porém, que 90% das obras do São Franciso já haviam sido concluídas e até inauguradas em governos anteriores. 

"Levamos tranquilidade ao campo, flexibilizamos a posse e o porte de arma de fogo para o cidadão e passamos a investir no Brasil e não mais no exterior com obras milionárias financiadas pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]", completou, em uma clara alusão a investimentos feitos pelos governos petistas em outros países.

Enchentes na Bahia e em Minas

Criticado durante toda a semana por não interromper suas férias em Santa Catarina para gerenciar a calamidade provocada pelas chuvas na Bahia e no norte de Minas Gerais, o presidente afirmou que, desde o início das enchentes, determinou que o ministro da Cidadania, João Roma, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, prestassem apoio total aos moradores dos municípios atingidos.

Cenas de Bolsonaro andando de jet ski viralizaram essa semana, enquanto dezenas de cidades estavam debaixo da água, deixando dezenas de milhares de desabrigados, centenas de feridos e mais de 20 mortos.

Metas para 2022

Para 2022, o presidente disse que, na área de infraestrutura, já há mais de R$ 800 bilhões contratados pela iniciativa privada que devem garantir a geração de milhões de empregos. "Isso é uma prova de que conquistamos a confiança dos investidores, brasileiros e estrangeiros, o que possibilitará, também, a redução da inflação, consequência da equivocada política do ‘Fica em casa. A economia a gente vê depois", mais uma vez alfinetando os governadores que optaram pelo lockdown no ano passado.

le (Agência Brasil, ots)