Na semana passada, chefes de governo da América Latina moveram-se um pouco mais rumo ao isolamento internacional. Na agenda estavam a cúpula do G20 em Roma e, depois, o início da COP26, em Glasgow. Seriam os primeiros encontros desse nível que, depois de quase dois anos de pandemia, ocorreriam in persona — ou seja, oferecendo uma oportunidade única e decisiva para qualquer presidente de se conectar, trocar ideias, pleitear compreensão, esclarecer, adotar posições.
E o que fizeram os três chefes de governo mais importantes da América Latina?
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, nem sequer foi, pois coisas mais importantes o mantiveram dentro de seu país. Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, e o premiê do Canadá, Justin Trudeau, trocavam ideias em Roma — ou seja, os dois parceiros comerciais mais importantes do México dentro da zona de livre comércio USMCA —, o presidente mexicano visitava uma província e era festivamente recebido pela governadora local. Um gesto para a Europa? Uma posição sobre as mudanças climáticas? Nada.
Bem ao contrário do presidente da Argentina, Alberto Fernández. Ele foi para Roma e Glasgow com uma delegação de mais de cem pessoas. Mas, em vez de se apresentar como o estadista latino-americano que pensa no futuro em questões ambientais, Fernández se apresentou como um suplicante provinciano e inconveniente agindo em interesse próprio.
Ele passou o tempo inteiro tentando convencer os líderes reunidos de que o problema do endividamento argentino é injusto e de que o país merece um tratamento especial do Fundo Monetário Internacional. Meio ambiente e mudanças climáticas? Isso só interessa a Fernández se servirem para reduzir as dívidas do país. Dívidas pelas quais ele, de qualquer maneira, não se considera responsável, pois foram feitas por seus antecessores.
Mas nada foi tão constrangedor como a participação de Jair Bolsonaro. Ele se manteve distante de quase todos os eventos oficiais, foi passear e comer pizza em Roma. Era escancarado que os demais líderes não queriam ser vistos ao lado dele.
Em vez de Bolsonaro participar de eventos, seguranças desciam o pau nos jornalistas que perguntavam por que ele não estava nos eventos. E enquanto a maioria dos líderes, ao lado de centenas de outros, viajava para a cúpula do clima em Glasgow, Bolsonaro era homenageado como cidadão honorário por uma prefeita de extrema direita numa cidade do interior da Itália.
É claro que chefes de governo fazem política externa de olho nos próprios eleitores. Mas se os principais governos da América Latina se isolam de tal maneira da agenda internacional, eles prejudicam sobretudo seus próprios países e as pessoas que neles vivem. Assim não é nenhum espanto que a América Latina seja cada vez menos importante na política mundial.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas.
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