Bolsonaro escolhe Renato Feder para o Ministério da Educação
3 de julho de 2020
Secretário de Educação do Paraná já era cotado para assumir a pasta após saída de Abraham Weintraub, mas Bolsonaro preferiu Carlos Decotelli. Segundo jornal, Feder foi acusado de sonegação fiscal.
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O presidente Jair Bolsonaro convidou o atual secretário da Educação do Paraná, Renato Feder, para ser o novo ministro da Educação, anunciou nesta sexta-feira (03/07) uma aliada do presidente, a deputada federal Bia Kicis. O convite confirma especulações na imprensa brasileira.
Feder era um dos principais cotados para comandar o ministério antes de Bolsonaro anunciar Carlos Decotelli na semana passada. Porém, contra a nomeação de Feder havia o fato de ele ter sido um grande doador da campanha de João Doria à prefeitura de São Paulo, em 2016.
Porém, a saída de Decotelli dias após sua nomeação devido a inconsistências em seu currículo abriu espaço mais uma vez para Feder, que é considerado de perfil técnico e era um nome bem visto pelo chamado Centrão antes mesmo de Decotelli se tornar ministro da pasta. No Paraná, ele integra o governo de Ratinho Júnior, do PSD, um dos partidos do Centrão, dos quais Bolsonaro busca se aproximar.
De acordo com o jornal O Globo, Feder foi alvo de duas denúncias do Ministério Público sob acusação de sonegação fiscal que totalizam R$ 22 milhões. O atual secretário de Educação do Paraná foi denunciado tanto pelo MP do Rio como pelo MP de São Paulo porque a empresa da qual é sócio, a Multilaser, não teria recolhido os valores devidos de ICMS para os cofres públicos desses estados.
Feder defende no livro de sua autoria Carregando o elefante – Como transformar o Brasil no país mais rico do mundo o uso de "vouchers" na educação, quer dizer, o financiamento da educação dos estudantes em escolas privadas. Na publicação, ele questiona se o Estado é o ente ideal para administrar as escolas. No campo político, a indicação de Feder indica uma aproximação do Planalto com governadores aliados.
Segundo o site da Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná, Feder é mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele foi professor da Educação de Jovens e Adultos (EJA), lecionou matemática por dez anos e foi diretor de escola por oito anos. Ele também foi assessor voluntário da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e atuou como empresário do setor de tecnologia.
A mídia brasileira afirma que o atual reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correia, chegou a ser sondado por assessores de Bolsonaro e teve seu currículo analisado, porém, não recebeu uma resposta positiva do governo. Outros nomes, como do ex-assessor do Ministério da Educação Sérgio Sant'Ana e do conselheiro do Conselho Nacional de Educação (CNE) Antonio Freitas também foram cotados.
Como ministro da Educação, Feder terá que coordenar a resposta educacional do Brasil em relação à pandemia do novo coronavírus e a volta às aulas, além de realizar as provas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).
Se for confirmado no cargo, Feder será o quarto ministro da Educação no governo Bolsonaro, após as gestões controversas de Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub e a curta e polêmica passagem de Decotelli.
Autoridades brasileiras que inflaram seus currículos
"Doutores" sem tese, falsas experiências no exterior. O caso do ministro relâmpago da Educação Carlos Decotelli está longe de ser único. Confira outras autoridades que distorceram informações sobre a formação acadêmica.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Correa
O "projeto Harvard" de Witzel, governador do Rio
Eleito em 2018, o ex-juiz de direita Wilson Witzel ostentava em seu currículo Lattes que havia passado parte de um doutorado na prestigiada Universidade Harvard, nos EUA. Chegou inclusive a apontar o nome de um orientador americano. O problema: ele nunca havia pisado na instituição. Flagrado, Witzel afirmou que tinha "programado a experiência", mas que foi obrigado a adiá-la após ser eleito.
Foto: Getty Images/M. Pimentel
Equivalência de diploma do prefeito Crivella vira "doutorado"
Em 2016, o site da campanha do bispo da Universal Marcelo Crivella informava que ele tinha doutorado por uma universidade sul-africana. A assessoria afirmou que foi um erro de tradução e admitiu que ele tinha apenas pedido na Universidade de Pretória a equivalência do seu diploma de graduação. Parecia ter acabado aí, mas em 2019 o site da prefeitura do Rio passou a dizer que ele tinha um mestrado.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Correa
A "mestre" Damares, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos
A ministra ultraconservadora do governo Bolsonaro já se apresentou em eventos como "mestre em educação" e "mestre em direito da família". Ao ser questionada por jornalistas sobre onde teria feito esses cursos, Damares Alves afirmou que não tinha títulos acadêmicos. Segundo ela, a palavra "mestre" é normalmente aplicada em igrejas para aqueles "que se dedicam ao ensino bíblico".
Foto: Agência Brasil/V. Campanato
O "mestrado em Yale" de Salles, ministro do Meio Ambiente
Em 2019, o site Intercept Brasil apontou que Ricardo Salles assinou um artigo num jornal em 2012 como se tivesse um mestrado em direito público na prestigiada Universidade Yale, dos EUA. Ao longo de anos, a informação foi repetida por diversos veículos de imprensa. No entanto, o ministro nunca obteve qualquer título na instituição. Salles afirmou que o erro original partiu de sua assessoria.
Foto: Agência Brasil
O "mestrado" e "doutorado" da ex-presidente Dilma
Em 2009, a então ministra Dilma Rousseff ganhou visibilidade como possível candidata à sucessão de Lula. Isso também trouxe mais luz sobre seu currículo. Em seu Lattes, ela indicava um mestrado e doutorado na Unicamp. Mas ela nunca obteve os títulos. Admitiu que nunca apresentou dissertação e tese. Disse que não havia conseguido conciliar os estudos com sua carreira em diferentes governos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres
A "doutora" Cármen Lúcia, ministra do STF
Em 2006, Cármen Lúcia foi apresentada como "doutora" em sabatina para a aprovação do seu nome ao STF. A informação constou no site do Supremo até 2009. Mas era outro caso de alguém que cursou disciplinas sem entregar a tese. O erro ainda seria reproduzido por vários veículos, mas, diante de menções ao título, a ministra passou a apontar que não é doutora, como numa entrevista ao Roda Viva em 2016.
Foto: Reuters/A. Machado
O "doutor" Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores
Em 2002, ao ser indicado ministro, Celso Amorim foi anunciado como doutor pela London School of Economics. A informação constava até no seu currículo no Itamaraty. Ele chegou a assinar artigos como "doutor". Em 2009, a revista "Exame" revelou que ele nunca havia concluído o doutorado – outro caso de alguém que cursou as disciplinas, mas não defendeu a tese e, portanto, não obteve o título.
Foto: AFP/Getty Images/E. Sa
O jogo dos sete erros no currículo de Decotelli, ministro relâmpago da Educação
Havia expectativa de que Carlos Decotelli imprimisse normalidade ao MEC após a gestão tumultuada de Abraham Weintraub. Mas as credenciais acadêmicas do novo ministro logo passaram ser questionadas. Ele dizia que tinha um doutorado, mas foi desmentido – nunca defendeu a tese. Ainda exagerou sobre ter completado um pós-doutorado na Alemanha. E foi acusado de plágio na dissertação de mestrado.