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Bolsonaro faz visita relâmpago ao Amapá

Gustavo Basso de Macapá
22 de novembro de 2020

Presidente permaneceu pouco mais de duas horas no estado, que continua sofrendo com crise energética. População protesta contra lentidão das autoridades em resolver o problema.

Infraestrutura: Apagão no Amapá
Bolsonaro ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que tem seu reduto eleitoral no Amapá, e do ministro Bento AlbuquerqueFoto: Gustavo Basso

Passados 19 dias da crise energética pela qual passa 90% da população do Amapá, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizou neste sábado (21/11) uma visita relâmpago à capital do estado, Macapá, acompanhado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Durante as pouco mais de duas horas que permaneceu no estado, Bolsonaro visitou duas subestações de energia elétrica em Macapá e na vizinha Santana para observar a instalação dos geradores termoelétricos que devem solucionar temporariamente a falta crônica de luz em 13 dos 16 municípios do Amapá.

Uma das medidas que o presidente prometeu adotar em resposta à crise vivida pelo Amapá há 19 dias foi a redação de uma Medida Provisória (MP) que prevê isenção no pagamento de energia elétrica do estado durante o mês de novembro. De acordo com Bolsonaro, essa será "uma medida compensatória aos prejudicados pela falta de energia". "Outras iniciativas que se porventura se fizerem necessárias, nós estamos prontos para atender o estado do Amapá", afirmou.

Ao todo, o presidente da República e sua comitiva passaram mais tempo no avião de Brasília a Macapá do que na cidade. Junto dele viajaram o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e Davi Alcolumbre, um dos três representantes do do Amapá no Senado e criticado por apoiadores de Bolsonaro que se aglomeravam diante das estações.

"Quem conhece o Davi que compre; só quem fez algo pelo Amapá desde o começo do apagão foi o presidente", comentou a dona de casa Ednalva Araújo, de 49 anos, moradora de Santana. Sem máscara, em meio à aglomeração, Jair Bolsonaro cumprimentou os apoiadores sob forte aparato policial antes de seguir viagem. Animado com a visita, o caminhoneiro Daniel Pantoja elogiava a atuação do presidente na resolução do problema.

"Ele não veio visitar antes, mas se articulou com ministros, autoridades, para recuperar nossa situação", comentou, sem criticar a demora do presidente em visitar o Estado. Desde o dia 3 de novembro 90% da população do Amapá convive com constantes apagões. Após quatro dias no escuro absoluto, que afetou não apenas o fornecimento de luz, mas de água encanada também, os moradores vem tendo a energia racionada. De acordo com a Companhia de Energia do Amapá (CEA), os moradores ficam, durante o dia, ciclos de 4h com luz e 4h sem luz; já à noite, esse ciclo reduziria para 3 horas, com alternância entre regiões. No entanto, na prática não há programação.

"Um dia a luz vai mais cedo e volta mais tarde, no outro fica; é impossível se programar para fazer qualquer trabalho porque ele pode ser interrompido de repente", afirma o bancário Alan Goes, que trabalha em casa por causa da pandemia do novo coronavírus. Ele e a família conversavam no pátio de casa na noite da última quinta-feira (19) enquanto as crianças dormiam nos carros com ar condicionado ligado, na espera do retorno da energia elétrica.

Na semana passada a Eletronorte comprou, de forma emergencial, 45 MW em geradores termoelétricos após autorização do governo federal, que deve ter a instalação concluída neste sábado. A estatal, parte da Eletrobras, veio socorrer a empresa privada Gemini Energy, responsável pela Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), responsável pelo apagão.

De acordo com o ministro de Minas e Energia, Beto Albuquerque, os equipamentos termoelétricos podem garantir o retorno total do serviço de forma gradual, que deve ser normalizado completamente somente na próxima quinta-feira (26). O diretor-presidente da distribuidora CEA, Marcos Pereira, porém, não garantiu o restabelecimento de 100% de imediato do serviço. Para ele, isso dependerá do comportamento do consumidor.

"A gente tá falando aí de 45 megawatts acrescidos ao que a gente já tinha. Ele fica ali próximo do que seria necessário, só que, se a gente tiver o consumidor agindo de uma forma muito estressada, usando todos os seus aparelhos de ar-condicionado, usando outros equipamentos no mesmo horário de uma forma a utilizar um consumo muito grande dos seus equipamentos, a gente vai ter que ter um racionamento", falou, em entrevista na quinta-feira.

Protestos

Enquanto o presidente e sua comitiva passavam por Macapá, foram organizados protestos contra o apagão e as respostas fornecidas pelos poderes estaduais e federal. Segundo os manifestantes, a visita é oportuna e só foi feita no momento em que a situação está próxima de normalizar.

"Não vimos nenhum esforço do governo federal ao longo desses quase 20 dias de falta de luz e de água em meio a uma pandemia; é muito conveniente que ele venha agora, quando a situação está quase normalizada, e as eleições se aproximando", critica a fisioterapeuta Anne Pariz, de 38 anos, lembrando que Macapá é o único município do país que não realizou eleições no último fim de semana. O irmão do senador Davi Alcolumbre, Josiel, era favorito para o pleito segundo as pesquisas, mas teve as intenções afetadas fortemente pelo corte na energia.

População de Macapá protestou contra Jair BolsonaroFoto: Gustavo Basso/DW

Pariz afirma ter dormido uma noite inteira somente nesta última madrugada, após ter energia por período prolongado e levar os filhos adolescentes para  a casa do pai, vizinho de um hospital. "Até então era a noite abanando eles e praticamente em claro”, diz a moradora de um bairro periférico.

Macapá possui uma grande área de periferia instalada sobre palafitas e pontes; são as regiões mais prejudicadas pela falta de abastecimento de água, já frequente antes do apagão, e pior durante o evento. Para o professor público Josean Ricardo, 42, esse público deveria ser ressarcido pela companhia privada responsável pela transmissão de energia. Segundo ele, a empresa comete fraude: "Nossas contas de luz possuem uma taxa de manutenção que obviamente foi negligenciada; tínhamos uma energia privatizada mas os únicos que não sabiam esse processo eram os amapaenses", comentou.

Pouco depois das 17 horas o presidente Jair Bolsonaro deixou Macapá, após breve conversa com jornalistas no aeroporto, enquanto os relatos de cortes de energia prosseguem noite adentro.

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