Bolsonaro: mais de R$ 2,3 milhões em férias durante pandemia
2 de abril de 2021
Entre dezembro e janeiro, presidente, família e comitiva passearam pelo litoral de SP e SC, consumindo milhões de dinheiro público em transporte, diárias e entretenimento. Deputado do PSB vai pedir investigação ao TCU.
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O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, gastou mais de 2,3 milhões de reais em férias no litoral do país, entre dezembro e janeiro, em plena pandemia, informou um deputado federal.
Os documentos que comprovam os gastos entre 18 de dezembro e 5 de janeiro últimos, foram enviados a Elias Vaz, do Partido Socialista Brasileiro (PSB) pelos ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, atendendo a um pedido de informação oficial pelo parlamentar.
Os dados foram posteriormente encaminhados por Vaz à imprensa e partilhados nas redes sociais. O deputado de Goiás classificou os valores gastos pelo presidente e sua comitiva, em plena pandemia de covid-19, como "um tapa na cara do brasileiro".
Nessas férias, Bolsonaro passeou pelas regiões litorais de São Paulo e de Santa Catarina. De acordo com as informações da Secretaria-Geral da Presidência, foram gastos 1,19 milhão de reais em despesas com a hospedagem do mandatário, sua família, convidados e toda a equipe de profissionais, incluindo alimentação e bebidas para todos, entretenimento e locomoção terrestre ou aquática.
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"Enquanto falta comida no prato dos cidadãos"
Por sua vez, o GSI, responsável pela segurança presidencial, registrou 1 milhão de reais para transporte em aeronaves da Força Aérea Brasileira para eventos privados de Bolsonaro neste período, somando manutenção e combustível. Em sua declaração, a pasta frisou que esses gastos estão previstos no orçamento anual da Aeronáutica. Foram também calculadas despesas de 202 mil reais em passagens aéreas e diárias de integrantes da secretaria de segurança e coordenação presidencial.
"Numa situação normal, esse gasto já seria um absurdo. Agora, numa situação onde nós tínhamos quase 200 mil mortes [devido à covid-19] naquele período, o fim do auxílio de emergência e a alegada falta de recursos... Nós tínhamos, bem claramente, uma crise sanitária e econômica, e ele sai de férias. Já não é uma situação compreensível o presidente sair de férias num momento desse, e ainda gastou esse dinheiro. É uma afronta ao povo brasileiro", disse Elias Vaz.
O deputado informou que vai pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue os gastos do chefe de Estado: "Quando o Brasil registrava quase 200 mil mortes, o presidente torrava o dinheiro do povo com passeios. Enquanto isso, falta comida no prato de milhares de cidadãos atingidos em cheio pela crise."
Atravessando o momento mais crítico na pandemia, o Brasil computou nesta quinta-feira quase 3.800 óbitos por covid-19 em 24 horas, totalizando assim 325.284 mortes nos 12.839.844 diagnósticos de infecção desde o primeiro caso registrado no país, há cerca de 13 meses.
av (Lusa,ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.