Bolsonaro sabota combate à covid-19, diz relatório
13 de janeiro de 2021
Estudo anual da Human Rights Watch sobre direitos humanos no mundo reserva capítulo com duras críticas ao governo brasileiro e diz que ele agiu deliberadamente para minar políticas contra a pandemia.
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O presidente Jair Bolsonaro agiu deliberadamente para tentar sabotar o combate ao novo coronavírus no Brasil e não só minimizou os efeitos da pandemia, como espalhou informações equivocadas sobre ela, aponta um relatório divulgado nesta quarta-feira (13/01) pela ONG Human Rights Watch.
O relatório da ONG, em sua 31ª edição, avalia a situação de direitos humanos em mais de 100 países – e reserva uma capítulo amplo, e especialmente crítico, ao Brasil e ao governo Bolsonaro.
O texto destaca não apenas a falta de combate à pandemia por parte do governo federal, mas também o enfraquecimento da fiscalização ambiental, políticas que vão contra os direitos das mulheres e ataques à mídia independente e a organizações da sociedade civil.
"Bolsonaro tentou sabotar medidas de saúde pública"
O relatório da Human Rights Watch lembra que Bolsonaro minimizou a covid-19, a qual chamou de "gripezinha", recusou-se a adotar medidas para proteger a si mesmo e as pessoas ao seu redor e "disseminou informações equivocadas" sobre a pandemia.
"Bolsonaro tentou sabotar medidas de saúde pública destinadas a conter a propagação da pandemia de covid-19", sentencia o relatório.
Como exemplo, o texto cita que Bolsonaro tentou impedir os governos estaduais de imporem medidas de distanciamento social e que seu governo buscou restringir a publicação de dados sobre a covid-19.
"Ele demitiu seu ministro da saúde por defender as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e seu substituto deixou o cargo no ministério em razão da defesa do presidente de um medicamento sem eficácia comprovada para tratar a covid-19", completa o relatório, em referência à cloroquina.
Por outro lado, a ONG destaca como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso e governadores defenderam políticas para proteger os brasileiros da doença.
Meio ambiente: sinal verde a criminosos
A ONG diz que o governo Bolsonaro tem enfraquecido a fiscalização ambiental, "na prática dando sinal verde às redes criminosas envolvidas no desmatamento ilegal na Amazônia e que usam a intimidação e a violência contra os defensores da floresta".
A HRW lembra que o presidente Bolsonaro acusou, sem provas, indígenas e ONGs de serem responsáveis pela destruição da floresta, além de ter feito ataques a jornalistas.
"Bolsonaro chamou as ONGs que trabalham na Amazônia de 'câncer' que ele não consegue 'matar' e as acusou, sem nenhuma prova, de serem responsáveis pela destruição da Floresta Amazônica. Ele também culpou os povos indígenas e caboclos pelo fogo na Amazônia", diz o texto.
O Brasil encerrou 2020 com o maior número de focos de queimadas em uma década, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No ano passado, o país registrou 222.798 focos, contra 197.632 em 2019, um aumento de 12,7%. Os números só ficam atrás do recorde de 2010, quando o país registrou cerca de 319 mil focos.
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Ataques à liberdade de expressão
Os ataques do presidente brasileiros à imprensa também foram lembrados pelo relatório.
Violações de direitos de crianças, adolescentes, mulheres, integrantes da comunidade LGBT e pessoas com deficiência também foram mencionados no relatório.
Um exemplo da ONG foi o de setembro, quando o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que gênero não deveria ser discutido nas escolas e que as pessoas que "optam" pelo "homossexualismo" muitas vezes vêm de "famílias desajustadas".
O relatório aborda ainda a questão da violência policial: em 2019, a polícia matou 6.357 pessoas, uma das maiores taxas de mortes pela polícia no mundo. Quase 80% das vítimas eram negras. As mortes causadas por policiais aumentaram 6% no primeiro semestre de 2020.
"Enquanto algumas mortes por policiais ocorrem em legítima defesa, muitas outras são resultado do uso excessivo da força. Os abusos da polícia contribuem para um ciclo de violência que compromete a segurança pública e põe em risco a vida de civis e dos próprios policiais", critica a ONG.
RPR/ots
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.