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Bolsonaro toma posse como presidente

1 de janeiro de 2019

Novo chefe de Estado afirma que sua chegada ao poder marca o início da "libertação do Brasil do socialismo e do politicamente correto" e diz que pretende "preservar as raízes judaico-cristãs” do país.

Brasilien | Amtseinführung Jair Bolsonaro
O novo presidente, já com a faixa, ao lado de sua mulher, Michelle, e o agora ex-presidente Michel TemerFoto: picture-alliance/dpa/AP/S. Izquierdo

Jair Bolsonaro tomou posse nesta terça-feira (01/01), em Brasília, como o 38° presidente da República, em uma cerimônia que contou com um esquema de segurança inédito e que selou a chegada da extrema direita ao poder no Brasil. 

Após receber a faixa presidencial, o novo presidente afirmou que sua posse marca o dia em que o povo brasileiro “começou a se libertar do socialismo, se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”.

Em frente ao Palácio do Planalto e ao lado do seu vice, o general reformado Hamilton Mourão, ele estendeu uma bandeira do Brasil e disse: “Essa é nossa bandeira, que jamais será vermelha. Ela só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde-amarela.”

Pouco antes, após assinar o termo da posse, o presidente também disse que pretende preservar as “raízes judaico-cristãs” do país e livrar o país de “amarras ideológicas”.

Cerimônia

A etapa inicial da posse começou às 14h, com a saída do presidente eleito e sua mulher, Michele Bolsonaro, da Granja do Torto para a Catedral de Brasília. De lá, a comitiva desfilou em carro aberto – o Rolls Royce presidencial. Além de Michelle, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente eleito, também estava presente no carro. 

Em seguida, foi a vez de Bolsonaro de Hamilton Mourão serem recebidos no Congresso Nacional pelos presidentes da Câmara e do Senado, o deputado Rodrigo Maia e o senador Eunício Oliveira, além do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. 

Bolsonaro e Mourão prestaram um juramento constitucional. O texto é o mesmo para todos os presidentes e vices eleitos. De acordo com o juramento, os mandatários devem se comprometer a "manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro". Bolsonaro e Mourão também assinaram um termo de posse e se tornaram oficialmente presidente e vice-presidente da República. 

Na sequência, Bolsonaro fez um discurso para os deputados, senadores e representantes dos demais poderes. Ele prometeu que “O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas” e pediu ajuda ao parlamentares para "restaurar e reerguer a pátria" contra "corrupção, criminalidade, irresponsabilidade econômica e submissão ideológica". "Temos oportunidade única de reconstruir o nosso país", disse. "Vamos unir o povo, respeitar a família, as religiões e preservar as raízes judaico-cristãs."

Depois dessa etapa, Bolsonaro e sua mulher seguiram para o Palácio do Planalto, onde ocorreu o momento mais simbólico das posses presidenciais: a troca de faixa. 

Fugindo do protocolo das posses anteriores, a primeira-dama, Michelle, aproveitou o momento para fazer um breve discurso em libras. A tradução foi feita por uma assessora. Foi a primeira vez que uma primeira-dama discursou em uma posse. Michelle prestou uma homenagem à população com problemas auditivos e agradeceu a todos que demonstraram “solidariedade em momentos difíceis”

Após receber a faixa de Michel Temer, Bolsonaro proferiu mais um discurso no parlatório do palácio, desta vez à nação. O tom seguiu os pronunciamentos que o presidente havia feito durante a campanha eleitoral.

“Esse momento não tem preço: servir a pátria como chefe do Executivo. E isso só está sendo possível porque Deus preservou a minha vida e vocês acreditaram em mim”, disse Bolsonaro no início do discurso. “Coloco esse dia como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”, disse. 

Em seguida, o presidente elencou uma série de áreas em que pretende promover mudanças com um viés mais conservador. “É urgente com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais”, disse. “Vamos retirar o viés ideológico das nossas relações internacionais. Por muito tempo o país foi governado atendendo a interesses partidários que não dos brasileiros”. Bolsonaro foi várias vezes aplaudido pela multidão que acompanhava o discurso.

Na sequência, Bolsonaro recebeu chefes de estado e de governo estrangeiros no Palácio do Planalto. A última etapa do dia foi uma cerimônia na sede do Itamaraty. 

Ao todo, dez chefes de estado e de governo estrangeiros vieram à posse de Bolsonaro. O número está na média de posses dos últimos 24 anos, que registraram entre dez a catorze líderes estrangeiros, mas o número de delegações estrangeiras presentes, 46 no total, foi o menor desde a posse Fernando Collor em 1989.

A lista de presentes também refletiu em parte a guinada conservadora que ocorreu com a vitória de Bolsonaro. Líderes de extrema-esquerda que prestigiaram as posses de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff estavam em sua maioria ausentes desta vez. No lugar deles, vieram figuras conservadoras como o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o premiê húngaro Viktor Orbán. Uma das exceções presentes foi o presidente da Bolívia, Evo Morales, que ao contrário de líderes de países como a Venezuela e Cuba, tem evitado antagonizar abertamente com o novo governo. Morales chegou a chamar Bolsonaro de “irmão”.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que não compareceu, comentou no Twitter o discurso que Bolsonaro fez no Congresso. “Parabéns ao presidente Jair Bolsonaro, que acabou de proferir um magnífico discurso de posse –  os EUA estão com você!” . Na cerimônia, os EUA foram representados pelo secretário de Estado, Mike Pompeo.

Restrições à imprensa

Um inédito esquema de segurança marcou a posse de Jair Bolsonaro. Mais de 6 mil agentes foram mobilizados, entre membros das Forças Armadas, policiais civis, militares e federais e bombeiros. Na semana passada, um decreto assinado por Michel Temer também autorizou que a Forca Aérea Brasileira (FAB) a abater aeronaves que violassem o espaço aéreo em um raio de 7 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, que está fechado. 

O esquema de segurança também provocou restrições severas ao trabalho da imprensa. Jornalistas que cobriram a cerimônia foram impedidos de circularem livremente entre os locais em que ocorrem as diferentes etapas da posse. Desta vez, o credenciamento dos meios de comunicação foi feito por setores, e jornalistas, fotógrafos e equipes de filmagem só puderam ter acesso a um único local de cobertura. Assim, profissionais autorizados a acompanhar o discurso solene de Bolsonaro no Congresso Nacional não puderam entrar no Palácio do Planalto. 

Os profissionais também foram obrigados a esperar longas horas em locais pré-determinados antes do início de cada etapa. Em cerimônias anteriores, a circulação da imprensa era livre. Vários veículos também não tiveram seus pedidos de credenciamento concedidos na totalidade, ficando restritos a algumas etapas da cerimônia. 

Mais do que evidenciar problemas de organização, as ações parecem ter mostrado o relacionamento tumultuado que Bolsonaro deve ter com a grande imprensa brasileira e estrangeira. Jornalistas relataram que membros de veículos e blogs conservadores pró-Bolsonaro conseguiram circular livremente entre os diferentes setores, ao contrário dos profissionais de veículos conhecidos. Segundo um jornalista do Correio Braziliense, os simpatizantes de Bolsonaro exibiam um pin na roupa que permitiu livre acesso. 

Jornalistas também relataram que foram hostilizados por membros da multidão que foi à Esplanada dos Ministérios acompanhar a posse. 

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