Ao menos 20 pessoas morrem após ataque aéreo contra um hospital. Entre as vítimas estariam três crianças. Enviado da ONU exige que Rússia e EUA unam esforços para que trégua na Síria seja respeitada.
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Pelo menos 20 pessoas morreram em Aleppo, no norte da Síria, depois que o hospital de al-Quds foi bombardeado, na quarta-feira à noite, segundo comunicado do Observatório Sírio de Direitos Humanos e informações de correspondente da agência de notícias AFP.
Entre os mortos estariam três crianças e o último médico pediatra que havia na região controlada pelos rebeldes. Segundo fontes locais, o hospital e um edifício vizinho foram atingidos em quatro ataques aéreos consecutivos.
"Pelo menos 20 pessoas morreram esta noite nos ataques aéreos contra o hospital de al-Quds e um edifício residencial vizinho", disseram fontes à agência AFP. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos afirmou que ainda não foi determinada a procedência dos aviões de combate que atingiram o centro hospitalar. Nos últimos meses, a aviação síria e os aviões de combate da Rússia têm bombardeado a cidade, a maior do norte do país.
O balanço das vítimas é ainda provisório porque, além dos vinte mortos confirmados, o Observatório refere que o hospital ficou completamente destruído e que há ainda um "número indeterminado de desaparecidos" sob os escombros.
A ONG baseada em Londres relatou ainda que nos últimos seis dias 84 civis foram mortos em ataques aéreos executados pelo governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, e outros 49 civis foram mortos em bombardeios de rebeldes em áreas controladas pelo governo.
Enviado da ONU exige respeito por tréguas
Durante a madrugada, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, confirmou que o ataque aéreo contra o hospital da zona ocidental de Aleppo tinha provocado a morte do último pediatra da cidade.
De Mistura se referiu à morte do médico para pedir diretamente à Rússia e aos Estados Unidos para unirem esforços no sentido do respeito total pelas tréguas na Síria, para "salvar o país do colapso total".
"Faço um apelo à Rússia e aos Estados Unidos para que adotem medidas urgentes capazes de relançar as tréguas que, neste momento, estão em perigo", disse De Mistura durante uma conferência de imprensa em Beirute.
A violência aumentou nas últimas semanas em Aleppo, apesar de se encontrar formalmente em vigor um cessar-fogo entre o governo de Damasco e a Alto Comitê de Negociações (HNC, na sigla em inglês), a principal aliança dos grupos da oposição.
PV/afp/rtr/lusa/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.